segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

inundações em Alcácer do Sal

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A propósito do tema INUNDAÇÕES do qual se tem falado tanto ultimamente - ontem assisti ao "Depois do Adeus" de Maria Elisa na RTP1, que versou precisamente sobre este tema abordando-o a partir da memória das grandes inundações que ocorreram num passado recente - e considerando o ordálio pelo qual hoje muitos de nós tiveram que passar devido à intempérie que se fez sentir de madrugada com as consequências, algumas dramáticas, que conhecemos, veio-me à memória um pequeno conjunto de fotografias que tenho no meu acervo fotográfico.
Certamente ninguém me levará a mal que o partilhe convosco. São apenas seis fotografias. Imagens que contam uma história e que têm elas próprias uma história.

Sou sobrinho-neto/afilhado dum homem que o tempo devorou. Tratava-o por padrinho Virgílio. Não vou pormenorizar a história dele. O meu fito é outro. Para poderem ter uma noção da importância deste homem na minha vida podem ler o texto que escrevi aqui: do baú das memórias.
Pois o meu padrinho Virgílio um belo dia ofereceu-me um objecto que iria mudar para sempre a minha vida. O quê ? Uma fantástica e magnífica máquina fotográfica ! Teria eu talvez os meus 12 anos e estaríamos aí pelos anos 1968-69. Se não me falha a memória ofereceu-ma pelo Natal.
Muitos dos meus amigos e mesmo dos visitantes já perceberam a gigantesca paixão que nutro pela fotografia. Pois esta começou nessa longínqua noite de Natal. A máquina era uma FUJICA RAPID e talvez tenha sido o primeiro modelo do género a ser comercializado na Europa, por volta de 1968. Funcionava com cartridges de película creio que com apenas 12 ou 16 fotografias. Fazia fotografias quadradas e o potencial de ampliação era muito reduzido. A qualidade óptica era deplorável. Mas foi com ela que me iniciei nesta viagem sem fim.

Após esta introdução, cuja intenção foi esclarecer que a máquina fotográfica, apesar de razoável para a época, era pouco mais que um brinquedo, e que o fotógrafo era apenas um moço inexperiente a dar os primeiros passos, o que explica a pouca qualidade das fotografias, regressemos então ao post.

Na época a que me refiro eu habitava em Alcácer do Sal, com o rio Sado ali mesmo ao pé e um enorme sapal mesmo em frente a casa.
Um dos dramas que vivíamos todos os invernos era o das inundações - as CHEIAS como dizíamos. Era raro o ano em que não as tivéssemos.
Habitualmente a água não subia muito e duravam apenas dois ou três dias, mas recordo-me de umas muito grandes em que tivemos 2 metros de água na escada e estivemos retidos em casa durante dois dias, o que não impediu aliás o meu saudoso pai de ir trabalhar! O BNU estava numa cota um pouco mais elevada e escapara da água, pelo que os bombeiros iam buscar o meu pai a casa para o levarem ao banco de barco (entravam com o bote na escada). E depois iam pô-lo em casa.

Não sei se estas foram essas grandes inundações. Estas fotografias não têm uma data rigorosa. Situam-se entre 1969 e 1970. Mas mostram bem aquilo por que passávamos quase todos os anos.

Alcácer do Sal
Avenida dos Aviadores num dia normal, cinzento, pouco antes das cheias
No morro ao longe fica o Castelo

CHEIAS
Ao fundo o Sapal e no limite o rio Sado
A esquina, com o cotovelo, em primeiro plano era a balaustrada da varanda do meu quarto

O sapal e o rio Sado ao longe
O grande edifício é a esquadra da PSP

O Mercado por cujos portões saíam frutas e legumes a boiar
A Avenida dos Aviadores, o Sapal e o rio Sado
As plantas no meio correspondem ao jardim que corre no centro de toda a avenida
Próximo do candeeiro divisa-se um saveiro com duas pessoas

A Avenida dos Aviadores, o Sapal e o rio Sado
Pelos montes ao fundo segue a estrada nacional para Grândola

imagens: © josé antónio / comunicação visual - CLIQUE PARA AMPLIAR
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5 comentários:

  1. J:

    Pela mesma altura tb tive uma KODAK com cartridges de 12 fotos, de formato quadrado, claro, e com um flash 'movido' a lampadas em forma de cubo. Poupei na máquina e gastava nas lâmpadas! :) Passados uns anos fui a Londres e comprei a minha primeira SLR, uma Pentax ME Super, já com led, (um luxo!) e uma lente 1:1.7 50 mm. Lembro-me que gastei quase tudo o que tinha na compra da máquina e passei os últimos 4 dias da viagem a comer sandes, yugurte e fruta. Mais tarde comprei um zoom da 'Vivitar Series 1', 'one touch', 70-210 mm 1:3.5 em todas as focais.
    'To cut a long story short' agora fotografo com uma digital compacta. As voltas que a vida dá...

    Do post gostei muito. Esse teu acervo, - de memórias e fotos - é uma verdadeira preciosidade.

    []

    I.

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  2. Belo documento histórico, concerteza.
    Achei curiosa a palavra "cheia" por oposição à ideia de "inundação".
    Porque as cheias têm o seu próprio leito que fomos deixando de

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  3. respeitar
    Estou convencido que é por aí que teremos que começar para mitigar o problma da água em excesso que ciclicamente cria problemas.

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  4. .

    Isabel,

    "... Esse teu acervo, - de memórias e fotos - é uma verdadeira preciosidade..."

    [ Não diria tanto. ]

    ... Que estou a tentar 'salvar'.
    Este um dos motivos que me levam a postar muitas fotos antigas e textos com memórias.
    Lamentavelmente o tempo é escasso e a memória já não é a mesma.
    Mas faz-se o que se pode...

    .

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    Caro Fernando,

    Exactamente o que penso.
    Todos os cursos de água, grandes ou pequenos, têm um Leito de Cheia.
    Este alaga quando as águas sobem, por diversos motivos.

    O grande drama, como refere, é que se 'desatou' a construir nestes leitos sem ter em conta a função deles.
    E a Natureza está-se a borrifar...

    Sobre o emprego do vocábulo CHEIA, efectivamente sempre ouvi designar assim a subida anormal das águas do rio. A palavra INUNDAÇÃO era coisa desconhecida naquelas bandas. Até no caso duma inundação em casa ser provocada, não pelo rio ou pelas chuvas, mas por uma torneira mal fechada que deixasse a casa alagada, dizia-se "Tive uma cheia em casa", nem que fosse num 3º andar no alto do monte... :)

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