quinta-feira, 14 de março de 2013

Senhor Isaltino, importa-se, por favor, de ir preso pelos próprios pés?




 

Sr. Isaltino Morais: faça justiça pelos próprios pés


Não vejo outra solução para levar Isaltino Morais a cumprir a pena de prisão a que foi condenado que não passe por um pedido dirigido ao próprio para que colabore com a justiça, que faça justiça pelas próprias mãos. Ou deveria dizer pés? Dirija-se até à cadeia da área de residência, entregue-se e mostre ao país o homem proactivo que diz ser. Pode, inclusivamente, pedir ao sobrinho taxista uma boleia, para tornar a situação ainda mais deliciosamente estúpida. É que só mesmo um político português para conseguir engavetar-se a ele próprio, depois de gozar com a justiça portuguesa durante o tempo que bem entendeu.

Quarenta e quatro recursos e centro e trinta e três mil euros depois, Isaltino Morais continua a ver o sol sem ser aos quadradinhos. Correção: esteve preso durante 23 horas. Repito: 23 horas. Jantou, viu a bola, leu os jornais do dia, tratou da papelada que tinha em atraso, e saiu fresquinho que nem uma alface, a tempo de ir à pastelaria Garrett tomar o pequeno-almoço depois de o motorista o apanhar junto ao Estabelecimento Prisional de Lisboa. A situação é de tal forma ridícula que começaram a surgir pedidos desesperados. Segundo o jornal i noticiou esta semana, um magistrado do MP insiste que a juíza de Oeiras que tem em mãos o processo tem de ter a "coragem" de emitir um mandado de captura. "A partir do momento em que está transitado em julgado é para executar. Nenhum recurso terá influência sobre a condenação."

Ora bem, vivendo num Estado apelidado de direito, julguei, na minha inocência, que não seria necessário chegarmos ao ponto de magistrados andarem a pedinchar coragem na aplicação da justiça nos casos que têm em mãos. Deveriam limitar-se a fazer cumprir a lei, independentemente dos cidadãos, das susceptibilidades feridas e dos desconfortos políticos e institucionais causados. Mas a verdade é que prender um político em Portugal é menos provável do que encontrar um pinguim a chupar cubos de gelo na praia da Oura.

O facto de o senhor Isaltino Morais, ao dia de hoje, não se encontrar a cumprir a pena de prisão a que aparentemente já foi condenado há muito tempo só demonstra uma coisa simples: a justiça em Portugal tarda e falha.  
Adenda: aparentemente o "Tribunal Constitucional recusou o recurso de Isaltino Morais, o que deixa agora ao Tribunal de Oeiras a decisão de ordenar o cumprimento da pena de dois anos de prisão efetiva, aplicada ao autarca." (notícia lida enquanto escrevia este texto)

Não me atrevo a pedir à senhora juíza que emita um mandado de captura e faça cumprir a lei. Não sou tão ousado. Peço antes a Isaltino Morais, até porque já provou ser competente em matéria judicial, que não deixe que a justiça portuguesa continue a envergonhar-se a ela própria, e ao país, e acabe com a palhaçada. Senhor Isaltino, importa-se, por favor, de ir preso pelos próprios pés?

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Ler mais: http://expresso.sapo.pt/sr-isaltino-morais-faca-justica-pelos-proprios-pes=f793448#ixzz2NW9PUrkI

5 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

"Mas a verdade é que prender um político em Portugal é menos provável do que encontrar um pinguim a chupar cubos de gelo na praia da Oura"

Qualquer dia, qualquer dia...

Clotilde Moreira disse...

"...preso pelos próprios pés" Então como pode andar se tem os pés presos?

Isabel Magalhães disse...

Eu sei que a CLO está a brincar! :D



"ir preso pelos próprios pés" = entregar-se à Justiça.

Leite Pereira disse...

Artigo espectacular. Vou colocá-lo na minha página do facebook

Isabel Magalhães disse...

Não há nada como o humor para falar a sério.