domingo, 1 de outubro de 2006

visita guiada Passeio Marítimo de Oeiras


Encerrou no último sábado, com uma visita guiada pelo Passeio Marítimo de Oeiras, o ciclo de visitas guiadas "Caminhos da Memória" promovido pela Associação Cultural de Oeiras ESPAÇO e MEMÓRIA. Com ele encerrou também o Programa de Verão 2006, elaborado e proposto pela ESPAÇO e MEMÓRIA ao qual, desde 24 de Julho, nos foi facultado assistir livremente e, devemos dizê-lo, com um infinito prazer porque foi muito o que aprendemos sobre a história e a cultura deste nosso concelho de Oeiras, o que estimula em nós uma ternura e um carinho cada vez maiores por ele!

Esta última visita começou no "Mergulho da Baleia" tendo os participantes percorrido o Passeio Marítimo, parando em pontos-chave para que os nossos cicerones, os Drs. Jorge Miranda e Joaquim Boiça, dessem as explicações e fizessem o enquadramento histórico dos diversos espaços e edificações incluídos no percurso: Feitoria Militar, Porto de Recreio, Forte das Mercês, Motel, Forte do Areeiro, Enseada de Sto. Amaro e Forte das Maias.
O São Pedro decidiu também acompanhar-nos na visita e agraciou-nos com a sua habitual manifestação 'pluvial', enviando-nos dos altos céus uma chuvinha, que não desmobilizou ninguém. Afinal não foi nada que um vulgar guarda-chuva não resolvesse...

Logo no início do percurso, o Dr. Boiça fez a descrição da importância da linha de defesa costeira entre os fortes de São Julião da Barra e das Maias, e as posteriores construções defensivas edificadas nesta linha de costa, entre os limites considerados. Falou também do Portinho, designação antiga que era dada à Praia da Torre, durante muito tempo conhecida como Praia do Portinho. Referiu as construções existentes antes da edificação dos actuais fortes e a estrutura morfológica do terreno. Falou ainda da relação existente entre o Portinho e a Feitoria, e a construção do Forte e Farol do Bugio.

O Dr. Miranda abordou a história da Feitoria Militar, que começou por ser designada por Feitoria d'El Rei ou Feitoria das Obras da Cabeça Seca, numa alusão ao Bugio. A Feitoria funcionava como estaleiro, do qual eram dirigidas as obras daquele Forte. A maior parte da pedra utilizada na construção foi embarcada no Portinho (a praia da Torre) e alguma dela foi mesmo extraída duma pedreira situada próximo da Feitoria. Esta edificação foi artilhada na segunda metade do séc. XVIII e, a partir dessa altura, nela aquartelou o Regimento de Artilharia da Corte (que estava também no Forte de São Julião da Barra). Por volta de 1802 começou a funcionar na Feitoria um colégio para os filhos dos oficiais do regimento. É deste embrião que irá nascer pouco depois o Real Colégio Militar, designação que adquire quando é transferido para a Luz em Outubro de 1813. Muito após a Feitoria perder o seu valor estratégico, em 1939 o Colégio Militar 'regressa' à origem, instalando na Feitoria a sua Colónia de férias. Existe assim uma incontornável ligação histórica, diremos mesmo 'filial', entre o Colégio Militar e Oeiras, através da Feitoria.

O Dr. Boiça esclareceu os participantes sobre a história, e as vicissitudes, por que passou o Forte de Na. Sra. das Mercês do Catalazete, também conhecido apenas por Forte de Na. Sra. das Mercês, Forte das Mercês ou Forte do Catalazete. O início da construção ocorreu em 1762, com o objectivo de reforçar a defesa. Era então referido como Forte Novo das Mercês. De início era apenas um parapeito artilhado, aberto na gola (o lado de terra). Posteriormente foi-lhe acrescentado um muro que o fechou completamente e entretanto edificadas diversas construções e alojamentos. Após ter sido desactivado militarmente (meados do séc. XIX), continuou no entanto a ter governador nominalmente, mas o seu estado de degradação, por falta de ocupantes, avançava inexoravelmente, atingindo proporções gigantescas. A partir de Outubro de 1888 foi ocupado por vários particulares, gente abastada, sob aluguer, tendo-se mesmo transformado numa vila de luxo. Após processo judicial para desalojamento, por falta de pagamento da renda, ficou de novo 'ao abandono' e em 1937 estava habitado por famílias do pessoal da Direcção do Serviço de Obras e Propriedades Militares. Foi então entregue sucessivamente ao Ministério das Finanças (12 Março 1942) e cedido à Junta Autónoma das Estradas (14 Março 1942) e, após esta, à Brigada Naval da Legião Portuguesa (31 Maio 1952), para a instalação duma colónia de férias, o que não chegou a ser aceite pela BNLP devido à existência dos processos de desalojamento, das famílias que ocupavam os alojamentos e se recusavam a sair, e que estavam ainda a decorrer, voltando à tutela do Ministério das Finanças. Finalmente, após se conseguir o desalojamento, acabou ocupado por uma colónia de férias da Mocidade Portuguesa (20 Agosto 1958), pelo Secretariado para a Juventude (30 Maio 1973) e pela Associação Portuguesa de Pousadas da Juventude (20 Abril 1977). Esta última é a situação actual daquela fortificação.

Sobre o Motel Continental, hoje Inatel, debruçou-se o Dr. Miranda, que para além de referir a história do mesmo, chamou a atenção para a qualidade arquitectónica e o excelente enquadramento paisagístico no espaço natural, sem o agredir. Construído na década de 60, foi um pioneiro da dinâmica turística de Oeiras, apenas consubstanciada nestes anos mais recentes, e um pioneiro de excelência. Mas não é apenas o aspecto da ocupação hoteleira daquele local que é historicamente interessante. Mesmo em frente ao complexo, é perceptível um troço de um canal cortado nas rochas, que advém dum projecto do séc. XVIII, ao qual o Marquês de Pombal não será alheio, para a construção dum porto interior que ficaria localizado aproximadamente onde hoje se situam o pavilhão gimnodesportivo da ADO e os campos de ténis, lugar este que na época era uma enorme lagoa ligada ao mar por um pequeno braço. Este porto seria principalmente utilizado para abrigo de embarcações pesqueiras e de socorro a náufragos. Abandonado o projecto, subsistiram as ruínas e os vestígios do canal. Registo este que aliás não foi devidamente acautelado aquando do alargamento do Passeio Marítimo, que se lhe sobrepôs na vertente norte, destruindo assim uma visão da sua imponência e dimensão. Lamenta-se que tal tenha ocorrido! Para apoio àquela obra (canal e porto), começou a ser edificado um armazém precisamente onde hoje se situa o motel. Este armazém estava previsto ser transformado posteriormente numa alfândega, motivo pelo qual durante muito tempo os oeirenses chamaram às suas ruínas Alfândega Velha. A sua posição no terreno era onde hoje se encontra o restaurante do Inatel. Tudo isto torna aquele local um ponto de referência muito importante na história de Oeiras e a valorizar.

Razões incontornáveis impediram-nos de acompanhar o resto da visita, pelo que não prosseguimos até ao Forte do Areeiro, à praia e baía de Sto. Amaro e ao Forte das Maias.
Por isso, nada mais podemos acrescentar a este relato da visita.


Terminamos congratulando a ESPAÇO e MEMÓRIA pela magnífica ideia desta iniciativa que, recordamos, foi constituída por conferências e visitas guiadas e que se prolongou por três agradabilíssimos meses, que quase nos fizeram esquecer que não tivemos férias este ano!

imagem: © cv comunicação visual 2006. CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR.

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