por Gonçalo Venâncio e Sónia Cerdeira, Publicado em 07 de Outubro de 2009Candidata da coligação PSD/CDS/PPM acusa Isaltino e Perestrello de serem, por razões diferentes, "candidatos a prazo"É no meio de um dia agitado de campanha eleitoral que Isabel Meirelles fala ao i. Com uma voz pausada e suave, revela a sua paixão por Oeiras. A mesma voz pausada e suave com que desfere duros ataques a Isaltino Morais e Marcos Perestrello. É o percurso improvável de uma mulher que deixou de ser "treinadora de bancada" e trocou os corredores de Bruxelas pela guerra de Oeiras: "um combate muito, muito duro".
Toda a sua vida profissional foi dedicada à política e ao direito europeu. Como chegou até aqui?Fui convidada, repensei, tive outros convites... mas achei que a candidatura a Oeiras não era uma candidatura qualquer. Era uma candidatura de valores. Resolvi deixar de ser treinadora de bancada e decidi intervir activamente na vida política. De repente, vinda da Europa aterrei em Oeiras, embora viva há muitos anos na Cruz Quebrada.
Aparentemente há duas escolhas: a continuidade, com Isaltino Morais; e a mudança, consigo ou com Marcos Perestrello. Por que razões o ciclo de Isaltino Morais está esgotado e qual é a diferença, relativamente ao PS, na sua proposta de mudança?Nós somos o futuro e, já agora, nenhuma das outras candidaturas é a mudança. Explico porquê: enquanto Isaltino Morais esteve ligado ao PSD, as coisas em Oeiras funcionaram. Neste último mandato, Isaltino Morais perdeu ambição, perdeu força, parou o concelho.
E Perestrello não é a mudança...Marcos Perestrello não é o futuro. Veio de Beja, passou pela vice-presidência da Câmara Municipal de Lisboa onde não conseguiu resolver qualquer problema. E está a piscar o olho a uma amante que não pode descartar, o governo. É obviamente o sítio para onde quer ir. Também não nos podemos esquecer que o PS está em coligação com o Movimento Oeiras Mais à Frente - liderado por Isaltino - desde o primeiro dia nos últimos quatro anos.
Mas o PSD também teve um vereador no executivo de Isaltino Morais...Verdade, mas apenas durante um ano e meio e em pelouros marginais. Já o Partido Socialista teve responsabilidade em pelouros extraordinariamente importantes, como habitação social e revisão do PDM. O PS é cúmplice da má gestão dos últimos quatro anos, ao contrário do que sucedeu quando Isaltino Morais tinha uma equipa social-democrata.
Marcos Perestrello está a prazo?Exactamente. Na verdade, há dois candidatos a prazo: um por razões pessoais e outro por razões políticas. Nós temos um projecto para 12 anos.
Quais são as suas linhas de força para Oeiras?Queremos pôr Oeiras no coração da Europa. Mais do que ser um concelho de referência a nível nacional, queremos que seja uma cidade de excelência a nível internacional. Queremos que Oeiras seja um concelho digital, começando pela câmara. Queremos levar a autarquia à casa dos cidadãos: para que os processos sejam mais céleres e sobretudo mais transparentes. Tudo isto traduz o nosso desejo de ter uma boa governança em Oeiras. Neste sentido, iremos também fazer uma auditoria externa e queremos sobretudo um código de conduta e um plano - exigido pelo Tribunal de Contas e que esta câmara não tem - contra a corrupção e infracções conexas. Outra linha forte é a revisão do Plano Director Municipal: para se construir com regras e não para abusar delas. Terceira linha - e especialmente importante para nós - mais protecção social.
Quando propõe uma auditoria externa significa que tem desconfianças sobre o estado financeiro da câmara?Temos muitas dúvidas. E as auditorias servem para isso mesmo: esclarecer dúvidas e detectar bloqueios.
Como é que a coligação olha para obras como o Satu?É um elefante branco que dá 10 mil euros de prejuízo por dia. A coligação não gosta do Satu, é um prejuízo. Deve ser repensado e reavaliado.
Reconhece mérito a Isaltino Morais?Friso que Isaltino Morais teve muito mérito. E nós, oeirenses, estamos muito agradecidos por aquilo que ele fez. Mas atenção: é preciso dizer que não foi obra de um homem só. Foi de uma grande equipa social-democrata. Nos últimos quatro anos, Isaltino Morais mudou de equipa, aliou-se ao PS e isso foi a receita para a desgraça que está à vista. Marcos Perestrello não tem razões para atacar Isaltino Morais porque foi seu cúmplice.
Conhece bem a realidade europeia: acredita que, numa democracia consolidada, seria normal um candidato a contas com a justiça ter a vantagem que as sondagens dão neste momento a Isaltino Morais?Não, não seria normal. Basta recordar Helmut Khol. Por uma suspeita de um saco azul - que nem sequer foi a tribunal - largou a chancelaria para se apresentar à justiça. Em países de boa tradição ética, basta uma suspeita, não uma condenação em tribunal, as pessoas tomam a iniciativa de se afastar.
Se estivesse no lugar de Isaltino não se candidatava?Nem me imagino no lugar dele. Ninguém actuando normalmente teria a pretensão de se candidatar à câmara. Mas os nossos padrões não são os germânicos... estão mais próximos dos da América Latina.
Adversários seus dizem que não foi a primeira escolha do PSD para Oeiras. Isso fragilizou-a?Não sei se fui a primeira ou a 50.a escolha. Só sei que se fosse fácil havia alguém que teria aceite antes de mim. Isto não fragiliza a nossa campanha. Torna-a muito mais forte.
Gostava de ter Manuela Ferreira Leite ao seu lado na campanha?Todos os que possam ajudar nesta quase cruzada pela ordem em Oeiras são bem-vindos. Convidámos a dra. Ferreira Leite mas sabemos que tem uma agenda pesada.
Depois da Senhora Europa, gostava de ser a Senhora Oeiras?Gostava que Oeiras fosse conhecida pela Senhora Europa.
http://www.ionline.pt/conteudo/26496-isabel-meirelles-perestrello-foi-cumplice-isaltino