Posted: 23 Sep 2012 11:52 AM PDT
Portugal tem solução possível dentro do sistema que nos governa? Não tem.
Estamos,
a nível político sob uma democracia de base partidária assente na
seguinte arquitectura: dois partidos, que não se distinguem já nas
ideias e traduzem o mesmo núcleo essencial de interesses, o PS e o PSD,
rodam na área do poder, expressando o rotativismo que tem governado a
nossa vida pública desde que a revolução burguesa assumiu o poder com o
vintismo e de que a ditadura do partido único do Estado Novo foi
excepção; dois partidos que não têm acesso ao poder central, o PCP e o
BE, e assumem franjas particulares do poder periférico, a nível de
organizações territoriais autárquicas ou de classe e, enfim, um pequeno
partido que convive com o poder central, o CDS-PP, não conseguindo nele
impôr o seu ideário, trocando princípios por arranjos a nível das
composições de Governo; enfim a grande massa dos indiferentes, a
abstenção, a abulia política, o que legitima, afinal, o estado da Nação e
tudo quanto nela é permitido ao Estado porque consentido ao Governo.
A
nível económico-financeiro, estamos, como comanditários
tecnocráticos, sob a batuta de um rearranjo estratégico do capitalismo,
ditado pela Europa Central, que, por via do sistema bancário, pelo
regime fiscal e através de manipulações nas Finanças Públicas, logra a
simultaneidade do rebaixamento salarial, a concentração monetária nas
grandes empresas e bancos e o reembolso pela Alemanha de quanto lhe
custou a Europa que é o espaço vital do seu novo Reich.
A
nível dos corpos separados, temos umas Forças Armadas acantonadas desde
que o fim do serviço militar obrigatório as privou de ser a Nação em
Armas, transformando-as num destacamento de profissionais da pura
técnica militar para uma Defesa que não há.
Ninguém
que tenha algo a perder quer assumir qualquer responsabilidades no
Governo, todos sentem ter perdido tudo pela responsabilidade do Governo.
O divórcio entre uma raquítica sociedade civil e um agigantado Estado é
total. O panorama geral é de inquietação, revolta e anarquia. Todos
odeiam tudo, ninguém tem esperança em nada.
Um
País assim perdeu a capacidade de se regenerar pelas estruturas
que criou para se governar. A democracia já não oferece nem respostas
nem governantes, actualmente apenas feitores de uma política alheia, a
dos credores, que os nacionais em carne viva desprezam, com a ira dos
falidos.
Portugal não está só sob o domínio estrangeiro, Portugal está sujeito a ter perdido a sua soberania.
Portugal
tem solução possível dentro do sistema que nos governa? Não tem. Uma
revolução não é desejável, é infelizmente inevitável. O resto é agonia e
vergonha. Uma doença viral toma conta de tudo, gangrena moral que mina
primeiro o ímpeto, enfim o próprio respeito que um Povo a si mesmo se
deve. Os conservadores, como eu me sinto tanta vez, temem a primeira
faísca, que os despertará do sono e da alienação.
in A Revolta das Palavras - José António Barreiros
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