quarta-feira, 24 de maio de 2006

OS POBRES DO MEU BAIRRO



Os pobres do meu bairro não são os que vivem nos muitos prédios de realojamento e que vivem do rendimento mínimo, os pobres do meu bairro é gente que toda a vida trabalhou, que cumpriram com todas as suas obrigações, que descontaram para a segurança social e pagaram os seus impostos, e que hoje esperam ansiosamente o dia do mês em que recebem uma pensão miserável e vivem em casas degradadas onde pagam rendas.

Os pobres do meu bairro são os que se levantam cedo para ir trabalhar, levam os filhos à escola a tempo de entrarem nas aulas, que vão ao mercado em busca de produtos mais em conta. Os pobres do meu bairro não são os realojados que bebem minis e whisky durante uma tarde toda, que não se preocupam se os seus filhos têm 10 anos e ainda anda no primeiro ano de escolaridade, que mesmo quando trabalham o fazem à margem da lei e não pagam qualquer imposto ou contribuição para a Segurança Social.

Sou defensor do rendimento mínimo ou como lhe quiserem chamar, mas seria cego se não percebesse as injustiças que gera e a sua ineficácia se a medida se limitar a mandar um envelope com dinheiro.

Em Portugal há muitos pobres que se esforça por superar a sua pobreza, que trabalham pagando todos os seus impostos, que alugam ou tentam comprar uma casa, que tentam educar os seus filhos de forma a superar o círculo vicioso da pobreza. A estes o Estado português nunca deu nada e se fizermos bem as contas ganham menos do que os pobres que o Estado está a institucionalizar, ganham muito menos que o somatório do custa da habitação oferecida pelo Estado, dos subsídios e dos custos resultantes da burocracia exigida pela sua institucionalização.

O rendimento mínimo poderia ser uma excelente medida para combater a pobreza se os políticos percebessem que pobreza não é apenas falta de dinheiro, em muitos caso também é não querer deixar de ser pobre, a pobreza também é cultural, é não ter ambições, é não valorizar a formação, é não ter conceitos de cidadania, é não fazer nada para deixar de se ser pobre. E se o rendimento mínimo for concedido sem exigir nada da parte de quem o recebe, não é outra coisa senão uma forma muito cara e injusta de eternizar a pobreza.

Jerico

2 comentários:

Anónimo disse...

Este é também o retrato da oeiras sem barracas.

Anónimo disse...

Penso que Teresa Zambujo e o PSD fizeram bem acabar com as barracas.