domingo, 26 de dezembro de 2010

A carta que não chegou ao Céu


Eu bem tentei, mas a minha carta não chegou ao Céu. Parece que também os Correios estão a ser reestruturados e os giros de distribuição são feitos por uma outsourcing que não sei bem o que é, mas, onde tem sido usada, cria confusão. Nessa carta pedia ao bom Deus para ter mais atenção a este cantinho, ao meu País e ver se uns que ganham eleições depois cumpriam as promessas de dias melhores para nós e futuros risonhos para os nossos filhos.

É que abateram os barcos e os nossos pescadores ficaram mais pobres. Agora o mesmo anda a bater na necessidade de olharmos o mar como salvação. Depois acabaram com a agricultura e os campos ficaram desertos. Agora andam a pregar umas tomadas de consciência e até defendem agricultura biológica. Apostaram na construção civil, e alguns fizeram fortunas, mas agora com tanta casa vazia querem apostar na recuperação dos centros abandonados. E falei ao bom Deus nas nossas escolas, nos nossos professores, nas desregras que querem implantar em tudo e pedia-lhe para os travar e ensinar que para pior já basta como estava. O que é preciso é ver e ouvir o que está bem e sempre que possível limar as arestas, apenas. E começar a melhorar já o que está mal. Falei também que há empregos mas em lugar de manterem os activos e preencherem as vagas, fazem leis para ninguém ter horários, autorizam horas extraordinárias até à exaustão e até roubam fundos para pagar os despedimentos.

Claro que estes meus pedidos não podem chegar ao Céu, pois Deus assim informado poderia castigar os mandantes. Mas não vou desistir e continuarei a tentar que a minha carta ultrapasse as nuvens.



Maria Clotilde Moreira / Algés

in Cartas à Directora, Jornal Público

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