Opinião
Por Vasco Pulido Valente
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Fernando Nobre, presidente da AMI (Assistência Médica Internacional), resolveu apresentar a sua candidatura a Belém. Qualquer cidadão português, maior de 35 anos, tem esse direito; e aos 59 Fernando Nobre está dentro das regras. Infelizmente mais nada o recomenda. A AMI é uma instituição útil e simpática, que merece o respeito de toda a gente. O próprio Fernando Nobre participou pelo mundo inteiro em mais de um milhar de missões de ajuda humanitária, que sem dúvida exigiram coragem, abnegação e espírito de serviço. O que faz dele um homem estimável e até um exemplo. Só não se percebe o que o trouxe à política. Verdade que sempre foi um cidadão activo e apoiou sucessivamente Durão Barroso (que o desiludiu por causa da "infamante" fotografia da Lajes), Mário Soares (contra Cavaco e Alegre) e, ultimamente, o Bloco de Esquerda. Só que daí à Presidência vai uma distância.
À primeira vista Fernando Nobre, talvez desiludido pelo que viu (ou conhece) dos partidos que por aí andam, parece convertido ao mito da ligação "directa" de um indivíduo à massa anónima do país, com quem quer, segundo declarou, estabelecer um "contrato". Com certeza não percebe quanto essa ideia, manifestamente inspirada na experiência da AMI, leva, na essência, a um populismo reaccionário e ditatorial. Não acredito que Fernando Nobre aspire a ser uma espécie de Evita Peron local: ou, possivelmente, muito pior. De resto, mesmo do fundo da sua programática ingenuidade, ele sabe que para ganhar ou, simplesmente, para não sair desta aventura irrisório e vexado, precisa de uma organização (que em Dezembro, aliás, começou a montar) e de muito dinheiro. O fantasioso "contrato" com o "bom povo" de Portugal não dispensa intermediários.
Pior ainda, não ocorreu a Fernando Nobre que, numa eleição como a que se prepara, a liberdade de cada candidato depende do poder que tiver à partida. Um candidato sem poder algum corre manifestamente o perigo de o utilizarem como um pobre peão em manobras que reprova ou o comprometem. Já se fala pelos jornais da aprovação que um certo "soarismo", por enquanto indeterminado, lhe deu ou dará (para prejudicar Alegre e, portanto, para favorecer Cavaco), ou de "arrependidos" do Bloco, que procuram nele uma nova "pureza" (porque acham Alegre excessivamente perto do PS). Não acredito que Fernando Nobre veja com equanimidade e prazer a contaminação de uma ideia, que, pelo menos na cabeça dele, é uma ideia generosa. Volte para a AMI, sr. dr., por si e por nós também.
Por Vasco Pulido Valente
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Fernando Nobre, presidente da AMI (Assistência Médica Internacional), resolveu apresentar a sua candidatura a Belém. Qualquer cidadão português, maior de 35 anos, tem esse direito; e aos 59 Fernando Nobre está dentro das regras. Infelizmente mais nada o recomenda. A AMI é uma instituição útil e simpática, que merece o respeito de toda a gente. O próprio Fernando Nobre participou pelo mundo inteiro em mais de um milhar de missões de ajuda humanitária, que sem dúvida exigiram coragem, abnegação e espírito de serviço. O que faz dele um homem estimável e até um exemplo. Só não se percebe o que o trouxe à política. Verdade que sempre foi um cidadão activo e apoiou sucessivamente Durão Barroso (que o desiludiu por causa da "infamante" fotografia da Lajes), Mário Soares (contra Cavaco e Alegre) e, ultimamente, o Bloco de Esquerda. Só que daí à Presidência vai uma distância.
À primeira vista Fernando Nobre, talvez desiludido pelo que viu (ou conhece) dos partidos que por aí andam, parece convertido ao mito da ligação "directa" de um indivíduo à massa anónima do país, com quem quer, segundo declarou, estabelecer um "contrato". Com certeza não percebe quanto essa ideia, manifestamente inspirada na experiência da AMI, leva, na essência, a um populismo reaccionário e ditatorial. Não acredito que Fernando Nobre aspire a ser uma espécie de Evita Peron local: ou, possivelmente, muito pior. De resto, mesmo do fundo da sua programática ingenuidade, ele sabe que para ganhar ou, simplesmente, para não sair desta aventura irrisório e vexado, precisa de uma organização (que em Dezembro, aliás, começou a montar) e de muito dinheiro. O fantasioso "contrato" com o "bom povo" de Portugal não dispensa intermediários.
Pior ainda, não ocorreu a Fernando Nobre que, numa eleição como a que se prepara, a liberdade de cada candidato depende do poder que tiver à partida. Um candidato sem poder algum corre manifestamente o perigo de o utilizarem como um pobre peão em manobras que reprova ou o comprometem. Já se fala pelos jornais da aprovação que um certo "soarismo", por enquanto indeterminado, lhe deu ou dará (para prejudicar Alegre e, portanto, para favorecer Cavaco), ou de "arrependidos" do Bloco, que procuram nele uma nova "pureza" (porque acham Alegre excessivamente perto do PS). Não acredito que Fernando Nobre veja com equanimidade e prazer a contaminação de uma ideia, que, pelo menos na cabeça dele, é uma ideia generosa. Volte para a AMI, sr. dr., por si e por nós também.
1 comentário:
Well said. Unhappily, wel said!
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