sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A revolta das palavras



Mário Soares: o perfume barato do contar...

Posted: 15 Dec 2011 03:44 PM PST

Sabia que me iria irritar. Que o livro Um Político Assume-se seria uma forma de se justificar perante a História, já que não perante a sua consciência. Mesmo assim insisti em querer vê-lo. Foi esta noite. Fui directo à página onde, na obra que diz ser de memórias políticas, Mário Soares trata do que eu conheço de perto, por ter vivido na pele parte da trama: a história da sua ligação, enquanto Presidente da República, ao território de Macau. Detive-me nas linhas que dedica ao caso Emaudio/TDM. Poucas linhas, esclarecedoras linhas.
Diz que foi afinal uma campanha lançada «pela extrema direita» contra ele, para o envolver na história. Mente, por contrariar a verdade. A questão não tem a ver com políticos de qualquer quadrante que se tenham mobilizado contra si, mas com os factos que não se conseguem iludir.
Acrescenta que na origem da campanha esteve o Rui Mateus. Mente por sobre-simplificar a verdade. O papel de Rui Mateus é prévio na próxima ligação à sua pessoa, contemporâneo com todo o caso e posterior com maior intensidade no que se refere ao caso da Weidelplan/Aeroporto de Macau, mas o assunto transcende-o e em muito.
Para enxovalhar Rui Mateus, Soares diz que o conheceu empregado de um restaurante e que teve uma ambição tal que quis ser ministro dos Negócios Estrangeiros do seu Governo. Mente por omissão da verdade. A ligação entre os dois é muitíssimo mais vasta, próxima, e, é só ler o livro que aquele escreveu, para concluir que em matéria de "comedorias" o conhecimento não se limitou a restaurantes.
Remata, enfim, dizendo que envolveram no assunto o então Governador de Macau, Carlos Montez Melancia, que seria absolvido judicialmente. Mente por adulteração da verdade. A história do processo judicial ainda está para ser contada, como a história dos processos judiciais que nunca existiram em torno do caso. E como é que a absolvição do Governador neste processo deu em condenação em outro, o "caso do fax".
No momento em que escrevo estas linhas hesito se contarei ou não toda a história desse aproveitamento político, económico e pessoal da televisão de Macau que o livro tenta branquear.
Confesso que o descaramento do livro me incendeia um sentido de revolta pessoal. Que a "reconstrução" da História me repugna como cidadão, como o faz tanta historiografia oficial arregimentada que tem andado a ser escrita em relação ao que nem regime político chegou sequer a ser e hoje está em estilhaços, o estado cadaveroso do País.
Sei que se o fizer, contando o que sei, serei sujeito aos efeitos da difamação e do enxovalho, porque ele e este estilo de obra são o rosto de um modo de ser que define a actual Situação, o verso dos que a criaram, o anverso dos que a consentiram. Talvez haja um direito à tranquilidade, minha e dos meus, que eu deveria saber preservar.
Por outro lado estou perante uma figura pública idolatrada a quem tantos perdoaram tudo, à direita e à esquerda, com quem tantos se arranjaram para tanto. Ficarei isolado e à mercê.
Talvez haja, enfim, o respeito devido à idade, se não houvesse o respeito devido à Nação de todos nós. Apodar-me-ão de desapiedado, logo quanto a um livro em que o seu autor se fez cercar, no lançamento, da imagem inocente dos seus netos.
Vou tentar tranquilizar o espírito e logo verei. Até passar o hálito da sordidez do caso e do perfume barato com que agora o vejo contado.

José António Barreiros

8 comentários:

A. João Soares disse...

Autores, visitantes e comentadores deste espaço
Desejo a cada um de vós e aos seus familiares e amigos um Feliz Natal e um Ano Novo «tão bom quanto possível», usando o estilo do nosso admirável filósofo e orador PR
Abraços
A. João Soares

João Soares

Anónimo disse...

Claro que não bastam estas atoardas, sem provas provadas! Um contra um, dá empate! Por muito ilustre que VEXA seja.
Ou aqui ou no lugar próprio. Os tribunais, caso a AZIA chegue ao ponto de poder "abrir" o pano da cena! Coragem não é a desculpa com a lama! Então o que ficou dito ... são rosas??? Quem anda à chuva molha-se. Ou os temos ou então, viola no saco

Anónimo disse...

Ou muito me engano ou este advogado desde há muito que anda com a pedra no sapato - só se preocupa com uma parte do livro. Só lhe interessa uma árvore no meio da floresta.

Zé do Telhado disse...

É evidente que MS só escreveu aquilo que lhe agradava. José António Barreiros conhece-o bem e sabe do que fala. Nós Portugueses também o conhecemos e sabemos que é um grande artista. Veja-se a fundação que recebe dinheiros públicos com o único e exclusivo fim de guardar a biblioteca de sua excelênmcia.O Estado ainda lhe paga renda porm um gabinete que o dito utiliza na sus fundação por ser ex presidente da república. GRANDE ARTISTA

Anónimo disse...

É, um artista que abriu os olhos ao povo em 1975 e conseguiu que isto não descambasse para uma ditadura comunista, o que teria tido como consequência a nossa invasão pela Espanha, apoiada pelos Estados Unidos, como já ficou provado.
Não será nenhum santo, não senhor, mas devemos pelo menos isso ao homem, que tem idade para ser pai ou avô de quase todos os que escrevem aqui...

Isabel Magalhães disse...

Caro leitor [19 de Dezembro de 2011 10:10];

Devemos isso a MS, sim! e eu estive na Alameda embora não seja socialista nem lhes tenha dado o meu voto em tempo algum. Agora se íamos ser invadidos pela Espanha ou por Marte, não sei mas sei que o PCP tinha um líder a soldo de Moscovo e queriam fazer aqui a Cuba da Europa.

O facto de MS ser idoso - e ter idade para ser quase meu avô - não me parece que seja desculpa para coisa alguma. É como a morte - não traz santidade a quem não é santo!

Isabel Magalhães disse...

Caro Amigo João Soares;

Para si e os seus os meus votos de Feliz Natal e um Ano Novo com saúde e paz!

Anónimo disse...

Escreva um livro também contando a sua versão, porque todos sabemos que a de Mário Soares não é a verdadeira