segunda-feira, 1 de março de 2010

A mentira - JN

Opinião







Sócrates não será demitido pelo presidente da República, que tem uma eleição pela frente; nem pelo Parlamento, porque o PSD não tem líder; nem pelo Povo, que acabou de o reeleger e tem melhores coisas que fazer. Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano

1. Um país que tem um primeiro-ministro a quem chamam mentiroso, primeiro no Parlamento, depois em manchetes nos jornais, não é um país politicamente saudável. Porque num país politicamente saudável, aconteceria uma de três coisas: o primeiro-ministro não era mentiroso e os deputados e jornalistas que o injuriaram seriam ridicularizados; o primeiro-ministro era apanhado a mentir e demitia-se; o primeiro-ministro era demitido por ser mentiroso. Como Portugal não é um país politicamente saudável, nada disto acontece. Não sendo mentiroso, José Sócrates não considera importante manter o seu carácter intacto, ou já não tem força anímica para o tentar. Sendo mentiroso, demonstrou outras vezes ter couraça e teimosia suficientes para se manter no cargo, pelo que jamais se demitirá. E, finalmente, não será demitido, nem pelo presidente da República, que teme os efeitos dessa decisão quando tem uma eleição pela frente; nem pela Assembleia da República, porque o PSD anda à procura de líder; nem pelo Povo, porque fomos chamados a votar três vezes no espaço de poucos meses, uma delas para o reeleger, e temos melhores coisas que fazer. Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano.

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