segunda-feira, 29 de março de 2010

Quinta de Santa Sofia (Cruz Quebrada)

Património arquitectónico único a conservar!



Foto 1 – Quinta de Santa Sofia (Cruz Quebrada)


A Quinta de Santa Sofia, antiga propriedade dos Condes de Tomar, é um património arquitectónico único existente na freguesia da Cruz Quebrada, sendo um dos poucos restantes de elevada importância histórica e arquitectónica e que está em risco de desaparecer caso a população não se manifeste!

O Palacete de Santa Sofia (1896) é de autoria do Arquitecto José Luíz Monteiro detentor de obra notável na região de Lisboa sendo autor de obras como a Estação do Rossio em Lisboa (1886) e o Chalet Biester em Sintra (1890) entre outras de referência arquitectónica. O Arquitecto José Luíz Monteiro, conhecido como Mestre Monteiro, esteve fortemente associado a uma tipologia construtiva da época - o Chalet.

Com mestria e baseado numa escolha estilística particular, o Arquitecto José Luíz Monteiro projectou o Palacete de Santa Sofia tornando-o numa obra única caracterizada pelo estilo neo-árabe com frisos de azulejo sobre as janelas e varandas, diversos elementos em ferro forjado e cúpulas mouriscas.

Por outro lado, os magníficos jardins da Quinta de Santa Sofia representam uma reprodução da cerca do Convento de Cristo (Tomar), que também foi propriedade dos Condes de Tomar, e complementam a beleza do Palacete em harmonia, realçando a sua arquitectura singular.

O Plano de Salvaguarda do Património Construído e Ambiental do Concelho de Oeiras identifica o Palacete de Santa Sofia como edifício representativo da tecnologia construtiva da época considerando um raio de protecção de 50 metros.

O projecto de urbanização da Quinta de Santa Sofia promovido pelos actuais proprietários e pelos promotores imobiliários CB Richard Ellis Portugal e em fase de análise pela Câmara Municipal de Oeiras constitui um grave atentado a este património, propondo a destruição dos jardins da Quinta de Santa Sofia e a total descaracterização do Palacete e da zona histórica e arquitectónica envolvente Viola tanto o raio de protecção do palacete propriamente dito, como o raio de protecção da ponte sobre o Jamor.

A título meramente exemplificativo, este projecto prevê “vivendas geminadas” em blocos de 1.200m2 cada, ao passo que o palacete tem uma área que ronda os 800m2, ou seja, apenas 2/3 da área de cada um dos 3 blocos de “vivendas” que pretendem implantar nos seus terrenos. Além desses 3 blocos, o projecto prevê ainda a construção de mais uma “moradia” de 600m2 e uma outra, mais pequena, por trás do palacete.

Esta urbanização terá ainda graves consequências no já muito congestionado tráfego da rua Sacadura Cabral, no sossego e qualidade de vida dos habitantes das ruas envolventes e não se vê como ficará assegurada a segurança contra incêndios, tendo em conta que nenhum dos acessos previstos permite a circulação de carros de bombeiros.

Como se isto não fosse suficiente, o projecto em análise na Câmara Municipal de Oeiras pouco ou nada diz sobre a recuperação do palacete. Os promotores fizeram apenas um pedido de informação prévia para os blocos de elevada volumetria que pretendem construir, tendo-se limitado a dizer que o palacete seria “recuperado”. Para bom entendedor, meia palavra basta...

A população da freguesia da Cruz Quebrada está a mobilizar-se contra este projecto catastrófico de forma a salvaguardar este património único através de abaixo-assinados e outras iniciativas e conta com o apoio de todos para se manifestarem contra mais um atentado que visa apenas defender o benefício de poucos em detrimento dos valores patrimoniais arquitectónicos e históricos que valorizam e que dignificam a freguesia.

Amigos da Cruz Quebrada



Foto 2 – Impacto do projecto na Quinta de Santa Sofia (Cruz Quebrada)


Enquadramento e nota histórica sobre o Palacete de Santa Sofia

O Palacete de Santa Sofia está localizado junto à ponte sobre o rio Jamor de construção Filipina (1608), na periferia da zona urbana da Cruz Quebrada, sendo que uma parte dos terrenos do palacete e o palacete propriamente dito estão dentro do perímetro de protecção desta ponte, bem como dentro da zona de protecção do Estádio Nacional (restrições construtivas).

O Palacete de Santa Sofia, que foi em tempos conhecido como o “Palácio Moderno”, foi implantado na Quinta da Bela Vista, que pertenceu ao Conselheiro Bartolomeu dos Mártires Dias e Sousa, pai de Sofia Dias e Sousa, que casou com o 2º Conde de Tomar - António Bernardo da Costa Cabral. Por morte do sogro, o 2º Conde de Tomar herdou esta propriedade (bem como outros imóveis de relevo, de que se destaca o Palácio dos Condes de Tomar onde funciona hoje a Hemeroteca de Lisboa).

Foi o 2º Conde de Tomar que mandou construir o actual Palacete de Santa Sofia. Enquanto aguardava a sua construção, instalou-se numa casa da Calçada do Salão, hoje Calçada Conde de Tomar, na Cruz Quebrada. Nessa época, a Cruz Quebrada era um local de vilegiatura famoso, onde famílias fidalgas e da nobreza, bem como burgueses endinheirados vinham “a banhos”. O Conde de Tomar tinha também casas que arrendava aos banhistas (entre os quais, Pinheiro Chagas), designadamente na Rua Fresca. Essa rua, hoje desaparecida, bordejava o Jamor e havia várias casas de veraneio onde hoje se situa a “raquete” do antigo terminal do eléctrico.

Foi na época do 2º Conde de Tomar que a belíssima réplica de parte da cerca do Convento de Tomar, que ainda hoje existe nos jardins do palacete, foi mandada construir por sua ordem.

A cerca do Convento de Tomar (Cerca ou Quinta dos Sete Montes) foi propriedade do 1º Conde de Tomar e dos seus herdeiros (entre eles, o 2º Conde de Tomar) durante quase um século, depois de ter sido adquirida por António Bernardo da Costa Cabral, Ministro do Reino e 1º Conde de Tomar, em 1837. Esta aquisição verificou-se no seguimento da extinção das ordens religiosas e da anexação dos bens da Ordem de Cristo à Coroa e da sua posterior venda.

A "cerca" mandada construir pelo 2º Conde de Tomar nos jardins do Palacete de Santa Sofia evoca assim a ligação histórica da sua família à cerca do Convento de Tomar.

O Palacete de Santa Sofia passou depois para a família Costa Macedo por casamento de duas filhas do 2º Conde de Tomar, primeiro da sua filha Maria Dias e Sousa da Costa Cabral com António Maria da Costa Macedo em 1898 e, na sequência da morte desta, por casamento deste com a irmã gémea da sua anterior esposa, Luísa Dias e Sousa da Costa Cabral, em 1919.

Do primeiro casamento de António da Costa Macedo nasceram 7 filhos, que deram origem aos actuais proprietários do palacete, já que do 2º casamento não houve descendência.

Duas das filhas de António da Costa Macedo doaram importante documentação do 2º Conde de Tomar e do Conselheiro Bartolomeu dos Mártires Dias e Sousa à Torre do Tombo, onde pode ser consultada.

Quanto aos terrenos da Quinta de Santa Sofia, uma parte importante foi loteada nos anos 70, para construção de prédios e moradias nas três ruas envolventes (Bento de Jesus Caraça, Sociedade Cruz Quebradense, Calçada do Conde de Tomar). Dos terrenos originais ficou cerca de 1 hectare, onde se situa o Palacete, uma construção mais antiga e os jardins com árvores centenárias, onde se encontra a réplica da cerca do Convento de Cristo.


(Comunicado à imprensa feito por moradores da Cruz Quebrada sobre a urbanização do Palacete de Santa Sofia)

6 comentários:

Clotilde Moreira disse...

Com tanta casa vazia é um crime estragarem esta quinta. Não há falta de casas; há falta de se manter, recuperar, melhorar as casas que existem.
É como o crime que vão fazer, ( está aprovado ) em Algés na Quinta de São José de Ribamar.

Mas dizem que as Câmaras têm de aprovar estes crimes porque é dos impostos sobre as casas que vivem. E entretanto é betão e mais betão.

Se dizem que Oeiras é um dos Municipios mais ricos do País porque é necessário construir tanto?

Clotilde

Anónimo disse...

Infelizmente, segundo a notícia publicada hoje no Público, a Câmara de Oeiras aprovou o pedido de informação prévia para esta urbanização. A ser assim, aos moradores só resta o caminho dos tribunais...

Alberto Costa-Macedo, Arq. disse...

Somos um país Riquíssimo em Património Arquitectónico, que de maneira leviana tem vindo a ser devastado. Existem inúmeras formas de poder rentabilizar o nosso Património sem que seja necessário destruí-lo. A fase dos anos 70 em que se loteava, está completamente ultrapassada, pois também está confirmado que a eliminação dos espaços verdes e a construção maciça de prédios e moradias, como a rotura com o nosso passado em muito reduz a nossa qualidade de vida.

Ori-BTT de Rosa Choque disse...

Arq. Costa Macedo,

Subscrevo tudo o que disse, em género, número e grau. Impressiona-me a nossa incapacidade de recuperar os belíssimos imóveis históricos que temos duma forma que seja digna e que os respeite. Por cá, opta-se por "rentabilizar" todos os cms2, construindo blocos maciços, de elevada volumetria, literalmente em cima de imóveis notáveis, como é o caso do Palacete de Santa Sofia (isto sem falar nos jardins, que pretendem pura e simplesmente arrasar). Veja-se também o que pretendem fazer em S. José de Ribamar. E ainda há alguém que consiga dizer que se trata de projectos de arquitectura de grande qualidade sem se rir (ou chorar)?
Noutras cidades, tive a oportunidade de ver exemplos extraordinários de casas centenárias transformadas em apartamentos, alguns bem modestos. Porque não seguimos estes exemplos? Como muito bem disse, a nossa já pouca qualidade de vida cada vez se esvai mais...

Anónimo disse...

A ganância de quem tudo herdou/usufrui de forma bastante suspeita por determinada parte desta familia, espelha-se na arrogância deste projecto e na falta de consideração pelos outros, como sempre aconteceu.

Unknown disse...

Boa noite.

Esta publicação é um tanto antiga e desconheço se teve desenvolvimento posterior aqui no Oeiras Local.

Mas trago uma informação que recebi há pouco, e que talvez desanuvie o mau ambiente causado pelas legítimas preocupações sobre o destino deste importante património cruz-quebradense e concelhio.

Vejam AQUI

Cumprimentos

J A Baptista