sábado, 26 de março de 2011

A jogada de Socrates

A jogada de Socrates


Opinião

É óbvio: José Sócrates escolheu a trapalhada do anúncio do PEC 4 para continuar no controlo do tempo político. Agora a demissão. Depois a votação que o colocará de novo à frente do PS com uma maioria norte-coreana. Depois, ainda, a aclamação num congresso onde o clima pré-eleitoral decapitará qualquer tentativa de reflexão socialista. Finalmente, a campanha, seguida de legislativas. Sócrates acredita que pode ganhar.

Por: Octávio Ribeiro

Ora, mesmo um homem com a retina deslocada da realidade poderá estar convencido de nova vitória nas urnas? Pode.

É simples – com PEC 4 ou sem ele, Sócrates já sabia que o caos anunciado estava por meses. Talvez em Abril, talvez em Maio, a ajuda externa formal irá impor-se. Sócrates tem a mão sobre ‘o pote’. Só ele sabe o quanto está vazio. Incapaz de saciar clientela e Função Pública.

A forma inaceitável como no anúncio do PEC lidou com as regras da democracia, ignorando PS, PR, Governo e AR, teve o resultado esperado.

Na tarde do debate parlamentar, Sócrates pôde escrever e treinar a longa mensagem de demissão nos seus afinados telepontos, enquanto na casa da democracia se discutia o garrote do povo sem a sua exigível presença.

Mas neste combate final pela manutenção do poder pessoal, Sócrates conta com dois aliados inesperados à direita: o PSD aparece ainda desunido, com vozes dispostas a exercícios de raiva interna. E Portas bate-se já contra a inexorável dieta de votos.

Para chegar ao poder, Passos Coelho tem de descolar da imagem de um ‘Sócrates do PSD’.

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