domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cardeal nega-me função essencial


FERREIRA FERNANDES
Um ponto é tudo

Cardeal nega-me função essencial

por FERREIRA FERNANDES



Não vou dizer que expulsando o que é natural nos cardeais ele volta a galope: acredito que o que disse o novo cardeal português, Manuel de Castro, foi só dele. E não vou retirar ao cardeal a legitimidade de se pronunciar sobre educação dos filhos lá porque não os faz: admito que um olhar de fora possa ser mais atento. Portanto, com o tal cardeal não generalizo, nem o excluo do direito de opinião. Dito isto, engalinhei por ele ter dito que "a mulher deve poder ficar em casa ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos". Na verdade, não engalinhei, senti a crista encrespar-se! Senti a minha função essencial de pai educador diminuída. Que é isso de que cabe mais e melhor a elas educar?! Parir, de acordo; mas a educar peço meças. Acordei noites para sussurrar acalmias a choros. Admoestei muito cedo a falta de dizer bom-dia a vizinhos. Mergulhei junto para acabar com medos. Forcei-me a decorar poemas só para a acompanhar. Soube fazê-la sentir que ela estava comigo, mesmo quando estávamos longe um do outro... É certo que não fiquei em casa nem trabalhei menos para a educar, não pude, é a vida. Mas apliquei-me na minha função essencial de pai educador. E a prova é que dei à minha filha ensinamento útil: "És cidadã a parte inteira, mas, nunca esqueças, nada está garantido para sempre." Preveni-a contra si, cardeal.

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