Há um patrão um patrão que não gosta dos seus empregados ou, se gosta,
desconfia que tratá-los mal é a melhor forma de garantir o aumento da
produtividade. Contra estes funcionários há muitos anos que existe uma
campanha para que eles sejam vistos como malandros que vivem dos nossos
impostos e nos tratam com desprezo. Quando eles não nos complicam a
vida, já conseguimos uma vitória. São cada vez mais e fazem parte de uma
clientela partidária. É esta imagem que fomos construindo.
Como
se não chegasse, com o actual Governo, também pusemos no currículo
destes funcionários um vencimento acima da média e excesso de regalias.
Por causa disto, o Executivo decidiu confiscar- -lhes os subsídios de
férias e de Natal e, agora, quer retirar-lhes as regalias que
justificaram o confisco.
É verdade que há na função pública quem
não mereça o emprego que tem, mas também há no sector privado. Em nenhum
dos sectores a generalização é boa política. Já estou a ficar cansado
de ver serem tratados com os pés os portugueses de quem eu preciso para
que ao País funcione. Funcionários públicos são os professores que
ensinam os nossos filhos, são os médicos e os enfermeiros que cuidam da
nossa saúde, são os magistrados, os polícias e os juízes que garantem a
justiça... Ora, convinha que parássemos um bocadinho para pensar no que
andamos a fazer. Queremos uma função pública desmotivada? Queremos
funcionários públicos que vivem com o estigma de serem trabalhadores de
segunda?
Não tardará o dia em que só quererá ser funcionário
público quem não tiver competência para trabalhar no privado. Haverá
problema na Saúde e na Educação públicas, mas esses são sectores em que
há uma aposta clara na privatização. Na Segurança e na Justiça não estou
sequer a ver como resolvem o problema.
Na mira de cortar a
despesa pública, os funcionários públicos foram apontados como principal
problema. A eles cabe-lhes pagar por todos os pecados do País. De tal
forma que a boa decisão do Governo de não considerar feriado o dia de
Carnaval aplica-se quase em exclusivo aos funcionários públicos. Para os
outros há contratos colectivos a dar folia, como que a provar que
afinal as tais regalias não são em excesso comparadas com o privado.
Afinal, a grande diferença está no patrão que cada um tem. O patrão dos
funcionários públicos tem a faca e o queijo na mão, pode mudar a lei a
seu bel-prazer. Lá chegará o dia em que haverá despedimentos na função
pública.
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