segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A organização



08 Fevereiro 2010 - 00h30

Estado do Sítio

As conversas entre o chefe e um dos mais activos operacionais da organização serão com certeza a cereja em cima do bolo.


Os indígenas não se podem queixar. A uma semana do Carnaval os cabeçudos saíram à rua e deram interessantes espectáculos à populaça. É certo que a vidinha está cada vez mais miserável, o desemprego aumenta, os salários estão mais do que congelados, o futuro é muito negro, vêm aí mais impostos e a crise promete continuar por muitos e bons anos. Tudo isto é verdade.

Mas enquanto o pau vai e vem assistiu-se a uma interessante fantochada na Assembleia da República, com deputados e ministros aos gritos por causa de uns milhões para a Madeira. Tudo isto com ameaças de demissão, chantagens, Conselhos de Estado e muita palhaçada pelo meio. E, quando se esperava um merecido fim-de-semana passado nos centros comerciais, eis que vêm a público umas conversas muito interessantes sobre negócios na Comunicação Social. Os indígenas não se podem verdadeiramente queixar de falta de emoção e de animação.

E podem até ficar orgulhosos pelo facto de viverem neste sítio pobre, deprimido, manhoso, corrupto e, obviamente, cada vez mais mal frequentado pelo simples facto de terem ficado a saber que por cá também existe uma organização poderosa que manipula mercados, controla empresas cotadas na Bolsa, faz negócios de milhões com o dinheiro dos outros e compra pessoas a torto e a direito. Uma organização de elevado nível que conta entre os seus membros importantes com figuras da sociedade, como políticos, gestores, advogados e, pasme-se, magistrados que ocupam altos-cargos na estrutura judicial. Alguma almas mais sensíveis ficaram chocadas com as revelações, sugeriram inquéritos e investigações suplementares e prometeram não ficar caladas perante tal afronta ao chamado Estado de Direito.

Mas são apenas palavras que o vento de Inverno se encarregará de levar para bem longe. A organização, essa, mantém-se determinada a continuar a sua obra patriótica, custe o que custar, numa espécie de tudo ou nada para continuar a controlar o poder e o dinheiro que os indígenas pagam a mal ou a bem para o Orçamento deste Estado que alguns teimam em chamar de Direito. E os indígenas, naturalmente excitados com tanta animação, já esperam ansiosamente pelos novos episódios deste extraordinário filme produzido e realizado em solo luso. Com uma certeza nas suas mentes perversas. As conversas entre o chefe e um dos mais activos operacionais da organização serão com certeza a cereja em cima do bolo.





António Ribeiro Ferreira, Jornalista

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