segunda-feira, 16 de maio de 2011

As palavras certas - Opinião - Sol

As palavras certas - Opinião - Sol



16 de Maio, 2011 por José António Saraiva



Por uma vez nesta crise política, Passos Coelho encontrou as palavras certas.

Na apresentação do programa eleitoral do seu partido, disse o que era preciso dizer.

Numa altura em que, do PS ao CDS, se fala disparatadamente em «compromisso», Passos Coelho disse que não quer ir para o Governo «a qualquer preço», que as eleições são uma «escolha», que para haver escolha é necessário haver «propostas diferentes» – e, finalmente, apresentou as suas próprias propostas.

Que podem arrumar-se em duas grandes categorias: pôr as contas do país em ordem e pôr a economia a crescer.

É claro que tanto uma coisa como outra são tarefas gigantescas – mas, para se atingir um objectivo, é preciso começar por enunciá-lo; caso contrário, jamais se alcançará.

PASSOS Coelho escolheu o caminho que sempre defendi: falar verdade aos portugueses.

Nestas eleições, algum partido teria de assumir corajosamente a ruptura e dizer ao país, cara a cara, quais as medidas que vai tomar para equilibrar as finanças.

E, aí, o país escolherá o caminho que prefere: fazer sacrifícios ou continuar a assobiar para o ar.

Marcelo Rebelo de Sousa classificou esta atitude como um «risco», dizendo ser difícil ganhar eleições com a franqueza revelada por Passos Coelho.

Ora eu digo o contrário: é inútil ganhar eleições não dizendo a verdade.

O país está num buraco – e precisa de saber que não sairá dele sem um grande esforço.

Dão-me vontade de rir aqueles que dizem: «Fizemos um bom acordo», como quem diz: «Não temos de fazer grandes sacrifícios».

Mas esta gente ainda não acordou?

Não percebe que sem sacrifícios não iremos a parte nenhuma?

E O ESTADO tem de dar o exemplo, emagrecendo e gastando menos.

Neste sentido, as propostas de Passos Coelho de redução do número de deputados e extinção dos governos civis, não representando uma excepcional poupança, são um bom sinal.

São sinal de que o Estado também está disposto a fazer dieta e a participar nos sacrifícios.

E os sinais que o Estado dá à sociedade são importantíssimos.

MAS quem fala de sacrifícios tem de ser capaz de transmitir, ao mesmo tempo, sinais de esperança.

Ninguém está disposto a sacrificar-se se não acreditar que o esperam dias melhores.

Foi isto que Manuela Ferreira Leite, com o seu perfil austero, não quis perceber – e é isto que Passos Coelho parece ter percebido.

O líder do PSD sabe que tem de prometer alguma coisa.

Não falsas promessas de menor austeridade.

Mas promessas de que é possível mudar o rumo da economia e pôr o país a crescer.

SÓCRATES e o PS acreditaram que poderiam fazê-lo através do Estado.

Daí a aposta nas ‘grandes obras’, que serviriam de motor.

Mas o dinheiro faltou e os projectos ficaram na gaveta.

O PSD aponta agora outra via, que está aliás de acordo com a sua matriz: apostar na sociedade civil, libertar a sociedade civil, dar asas à sociedade civil.

Defendo há muitos anos que a falta de dinamismo da sociedade civil e a sua dependência histórica do Estado é a primeira razão do nosso atraso.

Todos os países ricos têm sociedades civis fortes – e são elas as principais responsáveis pela criação de riqueza.

Por isso, acho que é este o caminho certo.

UMA palavra final para a afirmação de Passos Coelho de que não quer ser poder a qualquer preço.

Como o compreendo!

Não vale a pena integrar um Governo que não tenha condições para mudar – e um Governo onde estejam o PSD, o PS e o CDS, como muitos defendem, será um Governo tolhido por dentro, obrigado a compromissos constantes, sem capacidade de fazer as rupturas necessárias.

Ao contrário do que muitos dizem, será um Governo fraco e não um Governo forte – porque será atravessado por divisões e disputas insanáveis.

HÁ ALTURAS em que é preciso saber dizer ‘Não’.

E Passos Coelho disse-o claramente: se me quiserem e concordarem com estas propostas votem em mim, caso contrário passem bem.

Percebe-se que os socialistas estejam disponíveis para um Governo a três: isso corresponde ao seu desejo desesperado de não sair do poder.

Mas ninguém com juízo aceitará governar com a equipa que trouxe o país até aqui.

Portugal precisa de clareza e águas limpas – e não de empastelamento e águas turvas.

Portugal precisa de um Governo coeso e com uma liderança clara – e não de uma capoeira com três galos guerreando-se constantemente.

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