A 18 de Agosto de 1975, José Saramago é o Grande Saneador.
O grande escritor e agora Grande Saneador, comandando com mestria um "plenário" de trabalhadores do jornal "Diário de Notícias" decide sanear 24 jornalistas por estes não serem afectos ao partido do director-adjunto, o próprio José Saramago, militante do PCP.
Quatro meses mais tarde, surge o primeiro número do jornal "O Dia", sob a direcção de Vitorino Nemésio e David Mourão-Ferreira (ambos estão na "lista de sugestões" da RTP) e constituído, fundamentalmente, pelos jornalistas saneados por Saramago do "Diário de Notícias".
Ainda assim são alvo da fúria revolucionária e saneadora de José Saramago que escreve críticas enraivecidas exigindo a punição exemplar de todos os que se opunham à escalada de Abril e colocassem em perigo a desejada hegemonia do PCP no controlo absoluto e total do País transformando-o em RDPSSdP (República Democrática, Popular, Socialista e Soviética de Portugal).
E então sim o povo português teria visto o que é uma "polícia política", o que são "torturas", o que é "medo", o que é "censura", "fome" e "falta de liberdade". Basta ver como viviam os albaneses, búlgaros, checos, estónios, húngaros, lituanos, romenos ou polacos sob esses idílicos regimes em que "o povo é quem mais ordena". Via-se...
"Ou esta revolução se suicida ou esta revolução se recupera pela única via que lhe deixam aqueles que a querem liquidar: a violência exercida implacavelmente contra os responsáveis pela violência, quem quer que sejam" - texto escrito por José Saramago em 1975 e corrigido posteriormente com a devida pontuação pois já nesta altura o escritor não distinguia um ponto de uma vírgula.
Fonte: www.rtp.pt.
14 comentários:
Presto aqui homenagem ao grande humanista e grande escritor o maior do sec.XIX, José Saramago. Saneou alguns e devia ter saneado muitos mais, como diz o povo só se perderam as que cairam no chão. Uma sentida homenagem á sua familia e ao seu partido.Estamos todos mais pobres.
Se Saramago tivesse nascido no século XIX ainda lhe atribuíam a título póstumo o 'Nóbel' da longevidade.
'Humanista'?! como é que o 'Nóbel' nunca romanceou sobre Cuba e o amigo Fidel e as torturas - e execuções - a presos culpados de delito de opinião? E porque é que nunca escreveu sobre as ditaduras comunistas e as invasões comunistas - a invasão da Polónia, a Primavera de Praga?
Ditadura é ditadura, seja de esquerda ou de direita (como já aqui escrevi várias vezes) mas ao nosso escritor só incomodaram as de direita. Curioso!
Defendia a esquerda mas gostava das mordomias da direita. Vivera ele na URSS e além da escrita teria que fazer umas horitas semanais a trabalhar no duro como acontecia aos escritores russos.
Pra esse peditório já dei!
Podem dizer-me como se põe o nome sem estar registado?
Morreu um comunista e um escritor do regime. Comunista pouco, se nos lembrarmos das suas últimas intervenções na política; escritor do regime muito, a avaliar pelas pompas dos poderes constituídos no seu funeral.
Camões e Pessoa, por exemplo, grandes vultos da cultura portuguesa, morreram como morrem, geralmente, os grande vultos da cultura de uma nação, quase ignorados pela mediocricidade dos poderes políticos de então, confirmando a regra destes casos em que a obra os transcende, para felicidade de todos nós portugueses.
Sabendo da mediocricidade dos poderes políticos de agora veremos se a obra de Saramago não vai seguir o mesmo caminho.
Os 3 Mosqueteiros de Oeiras, apesar de já censurados neste blog, e porque hoje é sábado, como dizia o poeta,associam-se num voto de pesar ao escritor.
Paz à sua alma que bem precisa pois do julgamentos final ninguém se livra!
Num país pequeno, medíocre, vígaro e manhoso como o nosso esquecer a obra do Saramago apenas pelos valores que sempre defendeu com coêrencia não me parece razoável.
Quando falo em valores como coerência, coragem, verticalidade, honestidade, entre outros, consigo recordar-me de personalidades que vão desde Sá Carneiro a Álvaro Cunhal sem me caírem os parentes na lama.
Após a morte, é hábito, e de bom tom, tecer rasgados elogios ao falecido.
Não vou por esse caminho.
http://devaneiosaoriente.blogspot.com/2010/06/dois-dias-de-luto-nacional.html
Tenho de confessar que li muito pouco de Saramago: a 2ª vida de Francisco de Assis e um outro livro de textos publicados em jornais e estes por "imposição" de trabalho. Tentei o Memorial do Convento ... Não entendo. Mas não me atrevo a fazer apreciações.
Clotilde
« só se perderam as que cairam no chão. »
O Salazar também dizia: « Quem não é por mim é contra mim ». Comunistas e fascistas tão opostos e tão iguais.
Sr Jo~ao, não meta no mesmo saco Sá carneiro e traidores como o cunhal que era um agente a soldo da rússia e queria fazer da nossa terra a cuba da euorpa .
Resposta ao leitor de 19 de Junho de 2010 14:04;
Não sei se entretanto já tem a resposta à sua pergunta mas caso não tenha, escolha a opção 'Nome/url' em 'Comentar como'.
No entanto, acho preferível comentar com registo, mesmo que se opte por um 'nick', porque impede o uso abusivo desse nick.
Cara Isabel: as lágrimas de crocodilo que alguns e algumas aqui vertem, os elogios assombrosos e desassombrados não podem branquear as perseguições e os saneamentos promovidos e apoiados por Saramago. Em poucos dias tivemos idênticos "requiem": Rosa Coutinho e agora Saramago. Beatificá-los e lixiviá-los pode resultar com quem não sabe e não viveu o Gonçalvismo - época de perseguições políticas, das ocupações selvagens, dos mandatos de captura em branco. Eu vivi 1975, ia fazer 18 anos, NÃO ESQUEÇO. Mas há mais: António Vitorino de Almeida é outro proto-comunista, como o são também Carlos do Carmo, Paco Bandeira e tantos outros que por aí pululam, que tentam subreptíciamente apagar a História, sem o conseguirem. Tal como referi sobre Rosa Coutinho, que a "alma" de Saramago arda no Inferno e jamais consiga o Eterno Descanso. Os que por ele foram perseguidos e saneados, entretanto falecidos, só agora poderão descansar em PAZ.
Clotilde;
Li 3 ou 4 livros do Saramago e gostei e nem a falta de vírgulas me incomodou...
No entanto, fiz 3 tentativas, espaçadas no tempo, para ler 'A Jangada de Pedra' e não consegui, a escrita não flui, não passa para baixo, - ou para cima - mas certamente será culpa minha.
Os últimos livros em que ele optou por recriar a Bíblia não comprei, não li, não tenho interesse.
Helder;
Obviamente que a obra não pode servir para branquear os actos e muitos dos que agora choram 'lágrimas de crocodilo' nunca lhe lerem os livros; nem 'unzinho' para amostra.
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