sábado, 4 de agosto de 2007

Ruínas famosas em Algés



Na rua Major Afonso Pala, em Algés existiu há séculos o forte de Nossa Senhora da Conceição de Pedrouços. Penso que nos finais do século dezanove ou inicio do século vinte, sobre as suas ruínas, foi construída uma casa apalaçada de gente fidalga e famosa daquela época, mais tarde foi casino – no tempo em que era chique vir a banho a esta zona e depois sede de instituições e da Junta da Freguesia desta vila.

Esta rua também teve a sua importância quando da instalação da linha do eléctrico, depois esquecida quando transferiram este para a Rua Damião de Gois, mais para o centro da vila. Há uns anos, num arranjo paisagístico daqueles para ficarem na memória, quiseram transformar a Rua Major Afolso Palla numa zona pedonal, colocando bancos sem costa e estátuas com ar de transeuntes anónimos. A rua das Estátuas, como é conhecida, tem afinal carros que estacionam a todas as horas do dia e da noite e pombos muitos pombos que sujam muito o local.

Mas voltemos à casa apalaçada. No ano 2000, instituições e Junta da Freguesia foram mudadas para a Rua Parque Anjos com direito a festa de inauguração.

A casa apalaçada estava a precisar de obras, o senhorio dera as outras instalações, iam construir um condomínio, um hotel ou apenas um prédio conforme se ia ouvindo aos algesinos; uns diziam que a construção estava muito degradada, outros que devia ser preservada a sua traça que marcava uma época da história da terra. Porém a casa foi abaixo, parece que numa noite; praticamente ninguém deu por isso. Entaiparam o local, colocaram-lhe uns out-doors publicitários e pronto. Ali ficou aquilo assim porque – parece – alguém alertou para umas ruínas do tal forte. Perguntado na Junta de Freguesia fomos informados que se iria colocar um chão de vidro para que as ruínas se vissem e ficassem enquadradas no edifício. Parece que o proprietário, entretanto, não estaria contactável.

Foi mesmo preciso terem destruído a tal casa? Durante uns anos Algés teve um monumento com história: na Rua das Estatuas havia um monte de entulho entaipado de uma ruínas famosas!

Porém, nos finais de 2006 apareceram umas gruas e começaram a remover o entulho e colocaram lá uma tabuleta:

“Alvará 19.04.06 – Arena Construções Imobiliárias – C.Reg- P639; matriz 2464 Freg. Algés – 24 meses conclusão Área de Construção 9.496 m2, volumetria 17 189,73 m3 Piso acima 4/2, abaixo 2”

Em Janeiro de 2007 telefonei para o Centro de Estudos Arqueológicos da C. M. O. - 21 430 10 31 e uma Senhora Dra. amável e perplexa que não sabia do início da construção, deu-me indícios de que em tempos teria havido embargo face aos estudos que aquele Centro desenvolvera. Continuei a perguntar junto da Divisão Intervenção do Património Edificado da C.M.O. e uma senhora arquitecta “sossegou-me”: o que restava da muralha iria ser conservado com um vidro protector paredes meias com as garagens; parecia que a fachada seria uma “cópia” da casa apalaçada deitada abaixo; à minha estranheza garagens – 2 pisos abaixo: claro que ali podem ser feitas pois haveria caves em outros prédios.

As obras continuam em força. Depois começou a aparecer a propaganda sobre a comercialização de um local paradisíaco: apartamentos com piscina a olharem o Tejo entalados entre a Marginal e a rua pedonal das Estátuas. Por onde se entrará para as garagens? E os moradores a desfrutarem do barulho dos carros da Marginal e dos comboios.

Seria mesmo necessário atravancar esta zona com um empreendimento desta natureza? E as perguntas que esta meia dúzia de anos foram deixando por responder, já estarão esquecidas?

Maria Clotilde Moreira - ALGÉS

(texto recebido por e-mail com pedido de publicação)


2 comentários:

antonio manuel bento disse...

Tal como aqui em blog denunciei à uns tempos eis que de facto é-nos hoje confirmado por meios de comunicação social de que a Fundição de Oeiras vai mesmo ser demolida para, no seu lugar, ser erguido um conjunto de torres das quais se destacam três arranha céus.
Em minha opinião e em contenção de palavras o que se vai fazer à funfição é um atentado ao pattrimónio do nosso estimado concelho, atentado este que só tem par no aterro de Algés. A perca será substancial. Já nem me quero referir ao valioso espólio de azuleijos que remete a fundição para um dos mais raros exemplos do que nessa arte existe em Portugal. Mas o passado industrial de Oeiras vai desaparecer. Ficamos sem espólio que, em delapidação vai-se consumindo.
E o que dizer dos milhares de pessoas que para aquela zona tão singela irão habitar? O peso urbanistico tornará uma zona de Oeiras que é calma e aprazivel num dormitório. Não um dormitório dos suburbios, onde o povo vai dormir para de seguida voltar a ser explorado, mas sim num dormitório de luxo onde a ostentação será a palavra de ordem.
É PRECISO QUE OS OEIRENSES SE UNAM! É PRECISO IMPEDIR QUE A NOSSA QUERIDA FUNDIÇÃO VÁ ABAIXO! É PRECISO ORGANIZAR UM MOVIMENTO DE CIDADANIA E IMPEDIR QUE O BETÃO AVANCE!
Apelo ao caro José António à estimada Isabel Magalhães, ao curioso Rui Freitas e a todos os amigos do Oeiras Local e demais cidadãos que nos centremos nesta causa da fundição e, juntos, enfrentemos mais esta dificuldade que, sem dúvida, em união será debelada!

Viva Portugal! Viva Oeiras! Viva o OEIRASLOCAL!

aNTÓNIO mANUEL bENTO, UM CIDADÃO AO SERVIÇO DA COMUNIDADE E COM O CORAÇÃO NA FIUNDIÇAÕ DE OEIRAS

Unknown disse...

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Este texto de Maria Clotilde Moreira, além de profundamente esclarecedor, quer sobre o património algesino destruído — Forte e Palacete —, quer sobre as surreais peripécias do processo dessa destruição, motivada pela especulação imobiliária, é um magnífico exemplo do que um Munícipe pode fazer pela defesa do Património Histórico e Cultural da freguesia e do concelho onde vive. No nosso caso, o Concelho de Oeiras.

Agradeço à Sra. Clotilde estes esclarecimentos que amavelmente nos forneceu e dou-lhe também os Parabéns pela sua acção interventiva que, se não impediu a destruição do património em causa, poderá contribuir para que se salve o que ainda pode ser salvo — as ruínas subterradas do Forte — e servir, sobretudo, de alerta para o futuro em casos similares, demonstrando que todos nós, Munícipes, que circulamos pelo nosso concelho, podemos e devemos estar alerta e olhar à nossa volta e não ter medo ou vergonha de questionar as autoridades competentes sobre algo que nos pareça irregular ou insólito, em especial, perdoem-me o 'fundamentalismo', no que se refere ao riquíssimo Património Histórico-Cultural Oeirense.

Falo de 'fundamentalismo' porque este património — histórico, monumental e cultural — é habitualmente o mais visível.
Outro património existe, também ele importante para a compreensão do espaço e do tempo do concelho, do qual pouco se fala e no qual pouco se repara.
Por exemplo, o Património Paisagístico, Geológico e Biológico.
Este tem sofrido uma agressão por via das urbanizações construídas, destruindo zonas verdes, algumas com espécimes vegetais autóctones irrecuperáveis, estruturas geológicas, como escarpas, furnas, dunas, lagos e lagoas, espécies animais, também algumas autóctones ou no mínimo típicas, desde aves a animais terrestres, etc.
É importante estarmos também atentos a este Património.

Só por curiosidade, não há muito tempo, pouco mais de um século, existiam LONTRAS na Ribeira da Lage... Quem diria !? :)

Cumprimentos

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