segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Forte de Nossa Senhora da Conceição, Algés

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Com o pensamento nas informações que aqui nos foram gentilmente cedidas pela Sra. D. Maria Clotilde Moreira, munícipe de Algés, a propósito da destruição do Palacete sito na popularmente designada "Rua das Estátuas" — Rua Major Afonso Pala —, fiz uma pequena pesquisa nalgumas obras em busca de mais informação, para sabermos com maior rigor histórico e maior desenvolvimento do que falamos quando nos referimos, quer ao Palacete, quer ao Forte sobre as ruínas do qual aquele foi edificado.

Assim sendo, aqui fica um pouco do que consegui apurar na obra "Fortificações Marítimas do Concelho de Oeiras", de Carlos Pereira Callixto, 2ª reedição, C.M.O., Julho 2002.

De seu nome completo Forte de Nossa Senhora da Conceição de Pedrouços o forte estava situado na margem direita do Ribeiro de Algés, próximo da ponte de pedra da Estrada de Lisboa.

A primeira referência a este forte surge num Decreto Real de 30 de Agosto de 1701, que nomeia seu Governador o Visconde de Fonte Arcada. A segunda referência é uma planta incluída no trabalho de João Tomás Correa — "Livro de Várias Plantas deste Reino e de Castela" — no qual refere o autor que "Se fez no ano de 1703". Existe ainda uma terceira referência nas "Memórias Militares" de António do Couto (1719), Assim, pode-se apontar os finais do Séc. XVII para a planificação desta fortaleza e para começo da construção a data do Decreto Real que lhe nomeia Governador (1701).

Não me vou deter na descrição da fortaleza. A mesma pode ser encontrada, assim como demais pormenores, p.ex. o número de bocas de fogo, na obra citada, para os mais interessados. Retenho aqui o essencial.

Em 1735 a fortaleza foi inspeccionada por um oficial, cuja identidade é desconhecida, que a encontrou muito danificada pelas intempéries. Segundo um Relatório anónimo de 1751 foi "consertada de novo".

Em 1758 o forte é referenciado com a designação de Forte de Ponta de Palhais e em 1762 o seu Comandante era o Cabo Luís dos Santos Ribeiro. Nas Memórias da Barra do Tejo e da Planta de Lisboa, de autor desconhecido, de 14 de Agosto de 1803 o forte já não é mencionado. Sabe-se que em 1818 estava já transformado em residência particular e que nunca mais volta a ser mencionado em qualquer lista de fortificações.

Em 1938, Mário Sampaio Ribeiro escreve na sua obra "Da Velha Algés" que no "seu recinto [do forte] os nobres Condes de Pombeiro e Senhores de Belas levantaram sumptuoso palácio cujo portão é coroado pela imagem de pedra da Padroeira do Reino - N.ª S.ª da Conceição - "Este portão foi demolido há relativamente poucos anos para se edificar o grande prédio chamado do Patrício, no actual Largo da Estação".

Segundo Branca de Gonta Colaço e Maria Archer — "Memórias da Linha de Cascais", 1943 — em 1850 o forte já era uma residência particular que os Condes de Pombeiro nessa altura Marqueses de Belas, compraram e habitaram, em 1870. Dizem-nos as autoras que o Forte foi reconstruído de alto a baixo e transformado num palácio. Ao prédio construído no terreno, após demolição duma ala do palácio, chamam prédio do Senhor Agostinho da Bela.
E continuam, dizendo-nos que "no terreno ocupado pelas muralhas históricas vemos agora esse prédio e a velha construção arruinada onde estiveram o Correio, a Junta de Freguesia, o Registo Civil, etc., e uma garagem".

Pelo picaresco, não resisto a citar aqui o que refere Callixto no artigo do seu livro, citando um artigo de Henrique Marques que, por seu turno, se refere a um opúsculo de 1871 — "Digressão Recreativa, Passatempo Alegre ou Revista do Viver das Praias, na Época dos Banhos do Mar, no Corrente Ano de 1870" —, que diz o seguinte:

"Do lado fronteiro às casas referidas, apresenta-se qual Dona respeitável, uma habitação grande, de aspecto nobre e quatro faces rectangulares; jardim sem flores, seco, mirrado e tostado foi, dizem as crónicas, Forte, sempre fraco, e palácio de nobilíssimos marqueses, distintos, e elegantes, marqueses, que se por fatalidade, engano, acaso ou não sei porquê, deixaram de ser lindos eram sempre Belas, como ainda são. Agora vemos o Forte, que foi, e o palácio que deixou de ser, tudo enfim, convertido pelas alterações do tempo e variantes da sociedade, no afamado Hotel da Glória, templo dedicado aos Deuses da folia, e brincadeira, aonde vem por vezes, muitos celebrantes, entoar cânticos e hinos, em divertidas patuscadas, arranjando bicos, peruas, moefas e cabeleiras, de variados feitios, cada qual a seu gosto, para alegrar o espírito e refrescar a vista, crestada por aquelas areas, apesar de tão próximo das margens e ondas puras do nosso grandioso e velho padre Tejo".

Carlos Pereira Callixto termina o artigo do seu livro dizendo:
"E assim do velho Forte de N.ª S.ª da Conceição de Pedrouços, embora há muito desaparecido (...), apenas se manteve o, já também antigo Palácio da Conceição."


E nós acrescentamos com tristeza e mágoa:
... O Palácio da Conceição, também ele desaparecido, tragado pela voragem dos especuladores imobiliários!


imagens: Planta do Forte; Pormenor de gravura duma colecção privada alemã onde se vê Algés; Imagem recente do local onde se situava o Forte - Extraídas da obra citada - CLIQUE PARA AMPLIAR.

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12 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Amigo J.A.Baptista;

Pena que esse património se tivesse perdido...

Um grande aplauso para ti pelo trabalho desenvolvido e apresentado neste post.

Os meus sinceros agradecimentos por fazeres parte desta equipa.

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I.

Unknown disse...

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Cara Amiga Isabel,

É verdade, é lamentável.
Há uma terrível falta de sensibilidade e vontade em o preservar e reaproveitar para o exercício de actividades ao serviço das populações, p.ex. museus, galerias, auditórios para palestras e espectáculos, etc.

Grato pelo aplauso mas apenas faço aquilo que considero uma 'missão'. A divulgação do Património Histórico-cultural do nosso Concelho.
Além disso, esta tarefa dá-me imenso gozo pessoal.

Sobre a equipa, eu é que agradeço o convite para a integrar, feito desde o primeiro dia, pela oportunidade de participar neste excelente e importante espaço de informação e divulgação.

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antonio manuel bento disse...

Caro José António,

Os seus apontamentos em registo histórico são para mim um deleite! Uma verdadeira referência no contributo para a sociedade oeirence, uma já obrigatória leitura de Verão!
Muito obrigado por partilhar, com simples e honestos cidadãos, o seu estudo, o seu saber, a sua eloquência.
Uma vez mais, os meus parabens!

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade.

Unknown disse...

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Caro António Manuel Bento,

Grato pelos parabéns.
Como tenho dito e repito, não faço isto para obter louvores, mas porque acredito que vale a pena fazê-lo, para dar a conhecer aos Munícipes de Oeiras o rico património do Nosso Concelho.

Fico satisfeito em saber que lhe agradam estes posts.
Sabê-lo é para mim um incentivo para continuar.

Cumprimentos,

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Anónimo disse...

E o que me faz confusão é que o palácio foi abaixo sem se saber muito bem como... e também como há gente que acaba por comprar andares ali com o barulho da marginal, do comboio...

Era interessante também começar a listar as asneiras das construções sobre as ribeiras...

Clotilde

Unknown disse...

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Cara Clotilde,

Não sabemos 'como' mas podemos presumir...
Os especuladores imobiliários não param e quando têm por trás o apoio da autarquia...


Que as pessoas comprem andares em locais com muito ruído não me surpreende. Com os vidros duplos... não se ouve nada.
E maioritariamente são pessoas que passam o dia fora, não estão em casa, pelo que o barulho não as afecta. Até um dia...

Quanto às ribeiras, pois é.
Aquele lugar é precisamente um leito de cheia, como toda a gente sabe.
Sempre que chove demais e há coincidência com a preia-mar, lá estão as cheias naquela rua.
Quem vai sofrer são os carritos (topo de gama) estacionados nas garagens subterrâneas...

Costuma dizer-se "quem te avisa teu amigo é". Mas há muitos que não querem acreditar, acham que são "bocas da reacção"...

Cumprimentos,

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Anónimo disse...

Olá,
Vivi durante 35 anos no 1ºesqº do Palácio Conceição e nunca soube muito sobre a sua História.Obrigada pela informação.
Posso dizer que ainda hoje sinto falta do barulho da marginal e dos apitos dos comboios....
Cumprimentos,
Ana

Unknown disse...

Cara sra. Ana (que não sei se lerá este meu comentário),

É fascinante encontrar alguém que conheceu o Palácio por ter vivido nele tanto tempo. Certamente conhecia-lhe todos os cantos e esconços. :)

Pergunto-me se, com tanto tempo a viver no Palácio, terá por acaso fotografias que nos possa enviar?
Poderíamos depois colocá-las aqui e no blog Espaço e Memória para partilhar com todos algumas imagens desse património infelizmente para sempre desaparecido. Citando a fonte, claro.

Ficaríamos eternamente agradecidos.
Agradeço também o seu comentário à peça que há já tanto tempo escrevi.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro José António,
Tenho de facto, algumas fotos do "casarão" que, não só não me importo, como até gostaria muito de partilhar com todos. Não gostaria que aquele espaço ficasse completamente apagado da memória das pessoas.
Como posso fazer para lhe dar o meu contacto? A minha conta é hotmail
Cumprimentos, Ana

Unknown disse...

Cara sra. Ana,

Em primeiro lugar grato pela sua resposta.
Fico muito entusiasmado em saber tais notícias, e 'em pulgas' para ver as fotos.

Como tudo depende de as fotos estarem digitalizadas ou não e da quantidade delas, creio que o melhor será contactarmos por um meio mais fácil para a troca de impressões e ideias.

Também tenho uma conta hotmail: juzzelinho@hotmail.com
Em alternativa pode usar este: zetolas@mac.com

Escreva-me s.f.f., para decidirmos qual a melhor solução.

Grato pelo seu contacto,

José António Baptista

Anónimo disse...

Caro Sr. José António Baptista,

Já lhe escrevi pelo hotmail. Espero não ter criado expectativas muito elevadas sobre o Palácio, a quem não consigo deixar de chamar "a minha casa".
Cumprimentos,
Ana

Unknown disse...

Cara sra. Ana,

Fui à minha caixa de entrada do Hotmail e não encontro lá nenhum mensagem sua.
Se não se importa, prefiro que me escreva para o outro email que forneci. ao qual acedo diariamente pois é público e é o meu endereço de trabalho: zetolas@mac.com

Se tiver dúvidas sobre ele, o mesmo está directamente acessível no meu perfil. É só clicar aqui no meu nome na janela de comentários, que vai lá parar.

Grato,
José António Baptista