quarta-feira, 29 de agosto de 2007

a Fundição de Oeiras

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A Fábrica de Metalurgia e Construção Metalomecânica de Oeiras, vulgarmente designada apenas por Fundição de Oeiras é um dos mais importantes, imponentes e interessantes vestígios históricos da indústria no Concelho de Oeiras. Nomeadamente e logo por ser um dos poucos sobreviventes das centenas de indústrias que existiram neste concelho e que tanto contribuíram para o seu desenvolvimento.

Foi indubitavelmente uma das maiores fábricas do concelho e aquela que empregou maior número de trabalhadores.
Tem uma longa história e constitui um relevante património concelhio.
Terá sido construída no Séc. XIX, na onda do movimento provocado pela Revolução Industrial.
Talvez tenha começado apenas por ser uma metalúrgica (fundição), tendo mais tarde expandido a sua área e enveredado pela metalomecânica, ampliando as suas instalações.

Foi o sustento de centenas — milhares? — de famílias oeirenses, que ali tinham maridos, mulheres e filhos empregados.
Atravessou a 'longa noite fascista' e sobre ela contam-se as mais incríveis e mirabolantes histórias. Algumas bem reveladoras da mentalidade fascista de uma certa época, como aquela - verídica? - em que os patrões, na ambição do esforço da guerra, fecharam os portões da fábrica, obrigando os operários a permanecer no interior e a laborar continuamente durante uma série de dias sem poderem sair para irem a casa comer ou dormir. Diz-se até que eram as mulheres que lhes levavam a comida em marmitas e que lhas passavam através das grades dos portões. Uma autêntica prisão.

Muitas são também as histórias de greves, tantas delas reprimidas à bastonada, lutas de quem apenas demandava a dignidade de ser operário e ver o seu esforço e sacrifício quotidiano recompensados.
São ainda incontáveis os mutilados. Uns sem braços outros sem mãos ou dedos, trucidados pelas traiçoeiras máquinas. Derrota da carne na luta inglória contra o ferro e o aço que trilham e trucidam os incautos.
É razoavelmente conhecido o papel da Fundição de Oeiras na guerra que opôs o Irão e o Iraque (1980-88), motivada pelo petróleo. A Fundição de Oeiras fabricou nessa altura granadas de morteiro que convenientemente Portugal vendia tanto ao Irão como ao Iraque! (dizem as más línguas...)
O que não se livra da fama, que as marca indelevelmente no panorama industrial, são as banheiras esmaltadas, os fogões e as máquinas de lavar roupa - de fama europeia -, todos considerados de excelente qualidade.

A Fundição de Oeiras guarda no seu interior, em especial no pátio de entrada e no edifício administrativo hoje ocupado por serviços da C.M.O., um valioso espólio de azulejaria, espalhado pelos muros, salas e corredores.
Merece também referência especial o enorme painel de azulejo figurado situado no edifício lateral à esquerda do grande pátio da entrada principal, de que deixo abaixo a imagem possível.

Este maravilhoso painel de azulejo está no pátio de entrada da fábrica
(esperemos que seja salvaguardado)

Como nota final, recordo que no próximo dia 15 de Setembro, às 9h30, irá ser efectuada uma Visita Guiada, com Julião Guimarães e Jorge Miranda como cicerones, integrada nos Caminhos da Memória, da responsabilidade da ESPAÇO e MEMÓRIA - Associação Cultural de Oeiras, para a qual convido todos os interessados. A entrada é livre - leia-se grátis - e o encontro, à hora referida, é na entrada principal da Fundição de Oeiras.
Como já aqui referi, talvez seja a última oportunidade que teremos de conhecer a Fundição de Oeiras como ela foi e é, a confirmarem-se os planos para a sua muito próxima demolição e urbanização da área.

Quero ainda pedir aos leitores que possam ter elementos ou informações sobre a Fundição de Oeiras, sejam de que tipo for, que me possam ajudar a melhor compreender a vida daquela fábrica, o encarecido favor de mos enviarem para o meu email particular - zetolas@mac.com - o que agradeço antecipadamente. Tudo pode ser importante, cartões, documentos, desenhos, fotografias, informações dispersas do género "o meu padrinho fulano de tal trabalhou lá entre 1945 e 1953 nos fornos"... Não interessa. Toda a informação que eu conseguir recolher poderá contribuir para que um dia alguém, certamente muito mais credenciado que eu, faça a urgente história daquele fascinante eco do passado.


imagem: © josé antónio / comunicação visual - CLIQUE PARA AMPLIAR.
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15 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Amigo J.A.;

Fiquei com uma profunda tristeza depois de ler este teu excelente artigo.

Unknown disse...

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Isabel,

É exactamente o que sinto.
Um misto de tristeza e angústia ante a insensibilidade dos responsáveis e a incompetência dos mesmos para procurar soluções de compromisso que, sem porem em risco o desenvolvimento e o progresso, salvaguardem o nosso passado e as nossas memórias.

Bjs.

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Isabel Magalhães disse...

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.......... e também REVOLTA. Claro!



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I.

Anónimo disse...

Deixei um apontamento na Fundição 3 imagens.

Hoje aprendi muito e penso que precisamos que alguém se organize para apoarmos que a Fundição continue como exemplo de a INDUSTRIA em Portugal e a sua função social.

Clotilde Moreira

Anónimo disse...

Nunca tive o prazer de conhecer essa fundiçao do tempo do meu avô. No entanto sei de muitas pessoas que conheci em Oeiras que ele foi um grande homem para a Fundiçao e que contribui muito ao desenvolvimento de Oeiras. Chamava se Antonio Cardoso dos Santos Loureiro, e deu uma parte da sua vida para essa fundiçao.
Se precisarem de mais informaçoes, nao hesitam a enviar para o meu mail cdsl.patricia@yahoo.fr. Obrigado!
Patricia CDSL

Unknown disse...

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Cara Patrícia,

Não sonhava eu quando fiz este post, que passado tanto tempo aqui apareceria alguém da família do proprietário da Fundição, homem que tanto contribuiu para o crescimento e desenvolvimento desta unidade fabril, como foi o seu avô e, por extensão, para o crescimento de Oeiras.

Agradeço o seu comentário e a sua contribuição e aceito o seu convite para a contactar no sentido de tentar obter mais algumas preciosas informações sobre aquele património, actualmente em risco de desaparecer completamente.

Vou contactá-la pelo seu e-mail particular.

Cumps,

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Anónimo disse...

Sei de uma pessoa que ainda trabalha lá, é conhecido por Mestre Carlos, não sei se é verdade mas disseram-me que trabalha lá há 50 e tal anos, deve ter muito para contar...

Unknown disse...

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Caro anónimo [1 de Março de 2009 16:15],

Trabalhei na Fundição entre 1980 e 1983 na secção de Prensas e Balancés, a qual era chefiada por um "Mestre Carlos".
Desconheço se será a mesma pessoa. Não tenho ideia de que ele já lá trabalhasse há tantos anos, e duvido de que lá esteja. Não imagino em que serviço poderá estar, pois a Fundição foi completamente desactivada. Uma parte está ocupada pela CP e outra pelo IPO (inspecções auto).
Mas a ser a mesma pessoa, muito gostaria eu de o rever e falar com ele, como calcula.

Grato pela informação.
Abraço

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Anónimo disse...

Alguém me pode dizer a data de nascimento do "Cardoso"? sei que morreu em 1979.

Obrigada

Unknown disse...

Caro Anónimo (9 Novembro 2009, 9:50),

Infelizmente pouco sei sobre o Cardoso e bem que gostaria de saber muitíssimo mais.

Há uns tempos atrás apareceu, creio que aqui no OL, alguém que morava no estrangeiro e se dizia descendente do Cardoso. Trocámos uns comentários mas nunca mais tive notícias dessa pessoa.

p.s.: Se descobrir alguma coisa e não lhe der muito trabalho, agradeço antecipadamente que nos comunique o que apurar sobre tão proeminente figura da história de Oeiras.

Cumprimentos

Anónimo disse...

O Mestre Carlos ainda anda por lá, julgo que toma conta do espaço, é o ultimo da era Fundição

Beta disse...

Zé Tó,
conheço um senhor que trabalhou muitos anos na Fundição, era engenheiro se não estou em erro, açoreano, e ainda mora em Oeiras. Chama-se Eufémio. O Sr. Carlos, que penso ser o Mestre de quem falam, era também o Carlos das Marquises de certeza. Tem 4 filhos, andou uns tempos pelo Canadá e voltou. A última informação é que ele estava responsável pelas instalações, mas não tenho a certeza. Ele morava no Bº da Fundição nas traseiras da minha casa.
Se quiseres o contacto do Eufémio, eu arranjo-to.

Beta disse...

Zé Tó,
O Eufémio é que me deu aquela informação sobre o Carlos estar como responsável da fundição, se não estou em erro.

carla disse...

Olá Boa Tarde,não sei se ainda faz sentido esta minha mensagem.Vou dar apoio Domiciliário ao Sr António Augusto Lourenço, 92 anos.É reformado da Fundição de Oeiras,esteve presente nos melhores tempos da mesma.Todos os dias nos conta um ou outro episódio,que por lá viveu. Sr Mestre Lourenço é como diz que o tratavam É um homem bastante bem formado,eloquente quando fala e bastante cativante e orgulhoso do seu percurso.Adorava que alguém soubesse mais alguma coisa, ou me facultasse algumas fotos com ele nesse tempo.Seria uma surpresa e tanto para ele...

Unknown disse...

Cara Carla,

No que me diz respeito, o que aqui leu é o que sei,
Pouco mais posso adiantar, e fotografias... quem me dera ter!

Aproveite e registe as histórias que esse senhor vá contando.
São para memória futura.

A Fundição ainda lá está, mas há zunzuns de que vão avançar com a demolição e urbanização do espaço. Um horror...