sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Comunistas




Um comunista da Coreia do Norte é mau. Aliás, é péssimo.

Um comunista da Coreia do Norte é mau. Aliás, é péssimo. Não só professa uma ideologia contrária a todos os valores do Ocidente, os melhores e mais civilizados como se sabe, como ao longo dos anos ajudou a erguer uma dinastia em que se mistura o mais anacrónico culto da personalidade com o efeito aparição de Fátima. Não por acaso, a família Kim surge invariavelmente representada em grandes altares ou projetada nos céus, tendo aos pés milhões de submissos fiéis.

O conceito de alienação não está muito em voga, em parte porque a alienação é agora um estado "normal" (as pessoas acreditam em tudo que passa na televisão), mas o comunismo da Coreia do Norte pode ser descrito como alienado. Alienado enquanto comunismo, já que deixou de ter qualquer vontade de realizar uma sociedade mais justa e solidária, e alienado também porque promove ativamente a insanidade do povo. Se isto ainda é comunismo vou ali e já venho.

Um comunista português não é bom nem mau, é irrelevante. Há três décadas que repete os mesmos chavões sem qualquer eficácia prática. Não conseguiu atingir um único objetivo a que se propôs; não conseguiu evitar lei, medida ou ação que disse serem as mais prejudiciais para o povo e os trabalhadores; não foi capaz de impedir nenhuma revisão constitucional, nem evitar a formação dos governos de direita, todos no seu entender. E, como se não bastasse, também nunca conseguiu convencer mais do que 10% dos cidadãos. O PC é um partido falhado.
Quanto a ideias verdadeiramente comunistas, também não vamos muito longe. O internacionalismo original foi transformado num nacionalismo não muito diferente daquele que advoga a extrema-direita. O progressismo resultou num regressismo que promove tudo o que é antiquado e anacrónico, a velha agricultura, a velha pesca, as velhas fabriquetas, e rejeita qualquer coisa que seja inovadora e tecnologicamente avançada. Os comunistas detestam a Internet, coisa que imaginam ser obra do grande capital americano.

Um comunista chinês já é outra coisa. Principalmente se tiver 2,7 mil milhões de euros no bolso, então não é mau, é excelente. Tão maravilhoso que a semana passada foi ver alguns dos principais representantes do nosso arruinado capitalismo a saltitar à sua volta. Muitos deles a magicar na melhor forma de lhe vender alguma coisa. Aliás, uma jornalista, prestável e ingénua, perguntou ao senhor Cao Guangjing se ele não queria comprar também o BCP. Ao que este respondeu que não comprava bancos mas empresas de energia, mas que tinha uns amigos do ramo que talvez queiram vir aos saldos.

Não sei se no fim do jantar oferecido em honra de tão excelente camarada se cantou a Internacional, mas se tal aconteceu foi em privado. Em público, este comunista pareceu-me igual a qualquer capitalista.

A China representa hoje um comunismo que é também um capitalismo, realizando o oximoro. E fica a questão. Será que este capitalismo chinês é um meio para se atingir o comunismo, ou este comunismo é o meio ideal para se chegar a um capitalismo de tipo totalitário?

Enfim, quem hoje queira encontrar um verdadeiro comunista tem de ser mais persistente do que Diógenes. É claramente uma espécie em vias de extinção. Dir-se-á que se trata de uma ideologia obsoleta e sinistra. Que inevitavelmente resulta em sociedades bárbaras, persecutórias e totalitárias, ainda mais injustas do que as capitalistas. Tudo verdade, comprovada pelos factos históricos. O comunismo teórico, de Marx e Engels, é interessante e até evolutivo, mas o comunismo prático, a partir de Lenine, foi sempre um desastre que desbaratou por completo algumas boas ideias da origem.

Há alguns anos, a NASA encomendou um estudo ao MIT para saber como deveria ser a organização social nas colónias do espaço. Depois de analisar as várias hipóteses, para grande surpresa, chegou-se à conclusão que só podia ser de tipo comunista, ou seja, sem propriedade privada, já que esta promove conflitos que poderiam tornar-se devastadores num meio tão delicado. Imagine-se os colonos a tiros dentro de uma cúpula de vidro. Enfim, tudo leva a crer que a existir verdadeiro comunismo, só mesmo em Marte.

Negócios online

5 comentários:

Anónimo disse...

Tenho pena de ser o único comunista que se assume como tal neste blog e que defende as convicções desta linha de pensamento. Infelizmente os detractores abundam e deixam pinceladas e chavões contra o comunismo, nunca esses detractores devem ter lido literatura que aprofundasse o seu conhecimento da doutrina. Infelizmente os jornalistas de hoje lêem só os chavões e escrevem só chavões. O antigo jornalismo morreu.
Acho muita piada à "novidade" (com barbas)que este senhor encontrou. De facto quando se perguntou á NASA qual a melhor maneira de se organizar uma sociedade extra planetária, a mesma, juntamente com o famoso MIT (expoente máximo do capitalismo) só encontraram resposta na doutrina comunista. Isto quer dizer que apesar de agora estes senhores gozarem com frases jocosas de "comunismo só em Marte", o futuro da humanidade vai ser feito num regime comunista. O cominismo tem que ser aprefeiçoado, adaptado, porque sem duvida é o mais honesto e justo sistema de governação humana.

Pedro Correia

Isabel Magalhães disse...

Acho engraçado, sintomático até, que este anónimo venha aqui lutar contra CHAVÕES e aplique o CHAVÃO do costume, i.e. os que são contra ou não subscrevem a doutrina comunista são ignorantes e/ou não lêem, e cito do comentário [7 de Janeiro de 2012 15:55]:

«nunca esses detractores devem ter lido literatura que aprofundasse o seu conhecimento da doutrina.»

E se fosse arranjar umas "piadas" novas que essas estão gastas, são serôdias e cheias de bolor?

E se fosse converter os "incréus" para outro lado que a sua conversa já cansa?

Anónimo disse...

Cara Senhora Isabel Magalhães,

São opiniões. Uns concordam outros não. Uns apoiam outros não, mas é uma opinião válida. Também não percebo porque me continua a chamar "anónimo" se estou perfeitamente identificado: Pedro Correia, ou então Pato Donald, escolha o que mais lhe agradar.
Bom resto de fim de semana.

Pedro Correia

Ruvasa disse...

Mas tudo sempre foi assim. A teoria é sempre uma maravilha. A prática é que estraga tudo.

Mas mais estraga quando a teoria é nem mais nem menos do que a Utopia, porque esta mora na linha do horizonte, que, como se sabe, é inalcançável. Tem o terrível hábito de se afastar tanto quanto dela tentamos aproximar-nos. Um problema até hoje insolúvel.

Aliás, defender teorias comunistas é, pura e simplesmente:

* Desconhecer completamente a idiossincrasia do ser humano, que é essencialmente um ente possidente e zeloso do que é seu, que só dele abdica se a isso forçado, portanto se for contrariada a sua natureza.

Uma coisa é partilhar motu proprio alguma parte do que lhe coube; outra diferente é a tal o obrigar.

Por isso, as teorias comunistas jamais tiveram sucesso onde quer que fosse tentado que vingassem.

Por outro lado, é sabido - a História demonstra-o e o dia-a-dia também - só aceita de boa mente tais teorias quem tem aversão ao esforço individual (por ser muito cansativo) e quer refugiar-se no colectivo para obter o mesmo sucesso que o parceiro do lado é que esforçado e capaz.

É por isso que o sucesso dos preguiçosos é como o dos defensores destas teorias, i.e., o irremediável insucesso.

Quem é que daqui conhece alguém que, acolhendo tais teorias e seguindo a sua prática, foi bem sucedido seja em que ramo da actividade humana que for?

Marx? Sabemos bem como acabou, deixando mulher e filhos morrer de fome. Quais outros?

A propósito de Karl Markx, uma pequena história:

Estava o homem a escrever o seu "Das Kapital", e tentando arranjar um título para a obra, quando a mulher, querendo fazer o almoço para eles e mais a criançada, vendo que não havia batatas nem mais nada para o efeito, foi ter com ele e pediu-lhe umas lecas para ir à mercearia da esquina comprar qualquer coisita.

O teórico do Karl lá meteu as mãos aos bolsos e, tendo neles remexido bem, apenas encontrando cotão, acabou por responder-lhe desolado:

- Dassss... capital não há!

Pois... daí o "Das Kapital"!

Isabel Magalhães disse...

Amigo Ruben;

Obviamente que em teoria seria uma maravilha... o pior é na prática e processa-se exactamente como tão bem descreveu.

Aquele abraço.