terça-feira, 1 de setembro de 2009

Estado do Sítio

CM 31 Agosto 2009 - 09h00

Amo-te Estado

O que vai ser discutido até à náusea é o tipo de festas ou palmadas que os partidos estão dispostos a dar ao monstro.


Os partidos políticos já apresentaram os seus programas eleitorais e as almas que andavam por aí aos gritinhos por não terem os papelinhos na mão a tempo e horas para os estudarem profundamente dedicam-se agora a fazer análises brilhantes sobre as falhas gravíssimas, as omissões trágicas e a pobreza dos conteúdos. Muitas delas passaram mesmo dos gritinhos eróticos por não terem nada para ler neste Verão para os gritinhos patéticos por alguns programas, vejam lá o desaforo, falarem, como de costume, em menos Estado e mais liberdade para as pessoas e empresas. Que horror!

Como é que alguém se atreve a propor tamanho sacrilégio? Como é que alguém imagina que as empresas não têm nada de pagar o IVA com a factura mas sim com o recibo? Sim, porque o Estado, que é um dos maiores caloteiros do sítio, tem de arrecadar imediatamente o dinheiro e pode perfeitamente levar meses a pagar o que deve. As alminhas patéticas perguntam, com um ar indignado, como é que vão ficar os cofres do querido Estado que as sustenta e ampara sem essas verbas extorquidas a quem cria emprego e riqueza? E logo adiantam, em jeito de resposta, que as sacrossantas funções do Estado vão ficar em causa com tais desaforos sociais-democratas e levemente liberais. E como é que alguém tem a pouca vergonha de vir dizer que é preciso acabar com o dirigismo do Estado na economia, na vida das empresas, distribuindo dinheiro e favores a troco de dinheiro e de favores?

E como é que alguém imagina que o Estado é dos cidadãos e não dos partidos que ocupam temporariamente o poder? Tudo grandes perigos para esta democracia da treta, para os sagrados princípios do socialismo estatista que consome e destrói há mais de trinta e cinco anos este sítio pobre, deprimido, manhoso, cheio de larápios, repleto de mentirosos e obviamente cada vez mais mal frequentado. É evidente que nenhum dos partidos está disposto a dar uma valente murraça no Estado. Uns fazem-lhe mimos e carícias eróticas e têm orgasmos sempre que ouvem a mágica palavra. Outros, mais atrevidos, estão dispostos a dar-lhe umas palmadindas mais atrevidas para gáudio das suas clientelas mais sociais-democratas e levemente liberais. É por isso que nestas eleições não está em cima da mesa a discussão sobre o papel do Estado na sociedade. O que vai ser discutido até à náusea é o tipo de festas, carícias ou palmadas que os partidos estão dispostos a dar ao querido monstro.

António Ribeiro Ferreira, Jornalista

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