16 Abril 2010 - 00h30
O Cronista Indelicado
A vida de José Sócrates está cada vez mais parecida com aqueles anúncios antigos do Pingo Doce que diziam: "Frango congelado com ervilhas a 2 euros e 35 cêntimos. Esta semana, só no Pingo Doce." Com o nosso primeiro-ministro dá para fazer a mesma coisa. Por exemplo: "Apoio de Luís Figo ao primeiro-ministro por 750 mil euros. Esta semana, só em Portugal." E da mesma forma que na semana seguinte o frango dava lugar à pescada e as ervilhas à batata cozida, o apoio de Luís Figo pode ser substituído pelo mais recente detalhe do processo Face Oculta que tenha saído do forno, ou qualquer um dos 937 casos duvidosos em que o nome do primeiro-ministro esteja envolvido. Sócrates é hoje um supermercado de histórias manhosas, onde cada um de nós pode pegar na sua favorita, levar para casa e consumir ao jantar.
O caso de Luís Figo é apenas mais uma batatinha neste indigesto cozido à portuguesa. Segundo o Ministério Público, o jogador só se escapa de ser acusado de corrupção por desconhecer – bendita ignorância – que o Taguspark era composto por capitais maioritariamente públicos. De resto, é dado como certo que o seu apoio a José Sócrates foi comprado (com o dinheiro a ser depositado numa empresa offshore, o que fica sempre bem). O MP terá com certeza indícios para sustentar esta posição, mas bastava ter lido a famosa entrevista de Luís Figo ao ‘Diário Económico’, em Agosto do ano passado, para que o cheiro a esturro entrasse de rompante pelo mais ingénuo nariz. Tudo aquilo era tão ostensivamente combinado, todas as respostas tão ensaiadas, que os boys de José Sócrates, na ânsia de agradar ao chefe, nem se deram ao trabalho de apagar as pistas. E lá temos o nosso primeiro-ministro envolvido em mais uma trapalhada que o deveria pôr no olho da rua. Esta semana, só em Portugal.
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