quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desnorte



Desnorte - Paula Teixeira da Cruz - Correio da Manhã


Da Vida Real

Numa conjuntura que desaconselha a crise política, só resta uma via: demita-se Senhor Primeiro-ministro.


O Governo de José Sócrates é um barco à deriva num mar da tempestade perfeita em que se conjugam a crise interna e a internacional. Os media anunciam a situação complexa do sistema bancário nacional, suportado em horizontes semanais pelo Presidente do Banco Central Europeu. Enquanto isso, o Governo paga a factura pesada de muitos milhões de euros diários pelas aposentações que, nos seus anos de governação, fomentou, em grande parte para "desorçamentar" os ordenados da Função Pública, agravando a sustentabilidade da Segurança Social.

Pese o aumento do desemprego e da insolvência das empresas, Sócrates afirma que o desemprego vai diminuir nos próximos meses, sabendo que é uma situação que todos os anos sucede, dado o aumento de postos de trabalho sazonal.

A Saúde atinge níveis escandalosos de doentes sem médico de família, de listas de espera de meses para consultas hospitalares. Os hospitais estão submersos em dívidas, evidenciando que a nomeação de gestores por critérios partidários, gerindo dinheiro dos contribuintes com pouco controlo, não é solução. Ao mesmo tempo, o Governo tenta iludir os Portugueses com um diploma que permite aos médicos com aposentação antecipada que voltem a trabalhar no SNS, de onde saíram, em grande parte fartos de uma gestão sem valores. O que vai suceder é a contratação dos mesmos médicos que já estão nas urgências através de empresas onde trabalham: saem por uma porta e entram por outra. Grande solução. Destrói-se, paulatinamente, o SNS, ao mesmo tempo que a Ministra afirma que é a proposta efectuada por largos sectores da sociedade, de os doentes terem livre escolha, que sepultará o SNS. Ignorância ou algo mais? A Senhora Ministra não pode deixar de saber que, nos países mais avançados da Europa, é esta a regra, mantendo a universalidade e gratuidade dos serviços, com menos gastos.

Na Educação, opta-se pela extinção de 900 escolas do Ensino Básico quando, ainda há pouco, se tinha encerrado várias, colocando as crianças longe das famílias e liquidando a política de proximidade.

Na diplomacia assiste-se à articulação, quase embevecida, com Hugo Chávez (provavelmente um referencial a silenciar órgãos de comunicação social). Em termos de confiança política, uma sucessão de casos duvidosos determina que se atinja o grau zero. Numa conjuntura que desaconselha a crise política, só resta uma via: demita-se Senhor Primeiro-ministro, para ser parte da solução e não do problema.


Paula Teixeira da Cruz, Advogada

3 comentários:

Isabel Magalhães disse...

"Extinção de 900 escolas"

Diz José Sócrates que o encerramento é "para combater o insucesso escolar" e eu tenho a maior dificuldade em perceber como é que o encerramento de escolas com menos de 21 alunos pode combater o insucesso escolar mas deve ser ‘problema’ meu.

Só 'vejo' crianças a pé, sózinhas, por montes e vales, de manhã cedo ou mesmo à tarde, já noite (caso do inverno) com frio e calor. Algumas delas com 6 anos...

Clotilde Moreira disse...

Isabel,

Eu também não compreendo estes fechos mas como não tenho curso da Independente... É como aqui em Algés: fazem uma escola lá em cima - mas é de excelência!!! - e depois não há transportes... e os avós não conseguem levar as crianças...
O problema é meu e da minha falta de capacidadede acompanhar o tal de progresso.
Clotilde

Clotilde Moreira disse...

Isabel,

Esqueci-me de uma coisa: quem foram os burros que andaram a fazer escolas nesses povoados? Quem diz escolas pode dizer postos médicos, maternidades, serviços publicos...
Clotilde