sexta-feira, 9 de junho de 2006

EDUCAÇÃO


Educação: insistir num modelo sem futuro?
Maria José Nogueira PintoJurista




Em Espanha, a propósito da alteração da Lei da Educação, os professores denunciaram os quatro mitos que consideram responsáveis pelo fracasso do sistema: - O mito de aprender fazendo; o mito da igualdade; o mito do professor amigo; o mito da educação sem memória.

Declararam-se também, maioritariamente, simplesmente fartos:-

Da falta de esforço; da falta de autoridade na aula; do excesso de especialização; da integração sem meios; da deterioração do ensino público.

Interrogo-me se, em Portugal, os professores (não só os "pedagogos", não os teóricos, não os sindicatos) não dariam do sistema português, dos seus mitos e ameaças, uma imagem aproximada.

Fiz toda a minha aprendizagem em escolas públicas. Descontando o muito que aprendi em minha casa, é-me hoje possível confirmar sem sombra de dúvida, o quê e o quanto me foi ensinado nessas salas de aula.

A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.

É certo que eram ainda muitos os que não chegavam lá. E se "chegarem todos lá" se tornou justamente um objectivo, a questão que se coloca é a factura a pagar por uma massificação sem qualidade e com os fracos resultados que conhecemos.

Os meus filhos passaram todos pelo ensino público que continuei a mitificar como uma experiência indispensável num processo escolar. Deram-se bem.

A última vez que fui a uma reunião de pais, o progenitor da pior aluna explicou-me que o facto de a minha filha ter boas notas se devia a nós termos uma biblioteca em casa e ele não. Pareceu-me uma justificação simplista mas elucidativa de um estado de espírito autojustificativo que marca, em grande parte, o conformismo dos pais em relação aos seus filhos estudantes.

Nos últimos 30 anos, a educação tem sido campo de experiências sucessivas, com leis e meias reformas, tornando cada geração uma grande cobaia, na qual se testam teorias e teimosias. Simultaneamente caíram intramuros escolares novos e agudos problemas sociais que deviam ter resposta a montante e a jusante, mas não têm.

A escola transformou-se num espaço multifunções, exigindo-se que faça tudo menos ensinar: intervenção social, psicologia, tratamento da pré-deliquência, substituição da rede familiar, prevenção da violência doméstica, remédio para o abandono, a subnutrição, a doença e ainda o esforço diário de contrariar uma cultura de irresponsabilidade e laxismo.

A classe dos professores é tida como uma das mais relevantes socialmente e, paradoxalmente, é uma das mais desrespeitadas. Para o que se lhes pede, são escassos os instrumentos de que dispõem para, com autoridade e eficácia, responder aos problemas daquele quotidiano.

Para quem, como eu, trabalha com os sistemas sociais no combate à reprodução geracional da pobreza e da exclusão, o qual só é possível num quadro de equidade no acesso a competências que permitam uma progressiva e efectiva autonomização pessoal, para que o filho de um pobre não seja fatalmente pobre, o filho de um imigrante cresça integrado, um filho da droga não se drogue, a filha de uma mãe adolescente não tenha um filho aos 14 anos, etc., etc., sabe bem que o sistema de educação é determinante.

Mas o sistema de educação é determinante para educar, para dar competências, preparando para a vida e para a autonomia, no saber pensar e no saber fazer, as novas gerações. Não é determinante para substituir a família, o atendimento social, o centro de saúde, a ocupação dos tempos livres ou as comissões de protecção de menores.

Tem sido assim. Os nossos indicadores são péssimos. Os resultados estão à vista, com bolsas de pobreza mais persistentes e um país no geral mal preparado para competir.

Estão à vista na nossa economia e nas nossas finanças públicas, nas nossas estatísticas e na nossa falta de norte e de inovação. Porquê, então, insistir neste modelo sem futuro que compromete todos os dias o mesmíssimo futuro português?

D.N. 02062006

recebido por e-mail

9 comentários:

Unknown disse...

Caros,

Este comentário não respeita a este post e coloquei-o há pouco num post mais abaixo. Entretanto ocorreu-me que muitas pessoas que visitam o blog apenas lêem o primeiro post e os primeiros comentários ao mesm feitos, por isso achei por bem repetir aqui o citado comentário:

Há dias alguém aqui questionava o que aconteceu ao portão do Jardim Municipal.

Soube ontem pela boca duma bombeira (não tenho forma de confirmar), que o mesmo, e um pedaço do muro, terá sido deitado abaixo por um camião que vinha a sair da zona da festa.
A mesma pessoa disse-me ainda que do acidente resultaram ferimentos numa agente, não recordo se da psp se da polícia municipal, a qual teve que receber tratamento hospitalar.

Esperemos que a situação normal seja reposta rapidamente.

Cumprimentos,

Unknown disse...

Caro António Bento,

A notícia/esclarecimento a que alude e que coloquei nos comentários a este post, explica ela própria porque o fiz.

Quanto à sua opinião sobre a Marginal não é da minha competência a reedição de textos já publicados.

Cumprimentos,

Isabel Magalhães disse...

Caro António Bento;

pergunto-me se não estará a confundir liberdade de expressão, divergêngia de opinião e conexos com tentativa de ingerência na gestão de um blogue privado.

s.d.

Anónimo disse...

No jornal de oeiras desta semana, página 5, vem a notícia a que o leitor Sr. José António faz referência e até vem documentada com uma foto.
Segundo o jornal foi um feirante que efectuou mal a manobra e derrubou um dos pilares do portão.

Unknown disse...

Caro "cidadão de oeiras",

Ainda não me chegou cá a casa a referida edição. Só tenho a de 5 a 11 de Junho, cuja pág. 5 é ocupada por um anúncio de página inteira. A menos que estejamos a falar de jornais diferentes... Eu refiro o JR-Oeiras.

Agradeço o seu útil esclarecimento.

Cumprimentos,

Isabel Magalhães disse...

Olá José António,

fui verificar os jornais e a tal notícia da página 5 vem no Jornal de Oeiras - Semanário Independente do Concelho de Oeiras, de 6/6.

Um [].

Unknown disse...

Cara Isabel, Caros visitantes e comentadores,

Peço desculpa pelo meu lapso. O JR-Oeiras a que aludi é a única publicação sobre Oeiras a que tenho acesso, porque me chega cá a casa pela caixa de correio. Além, claro, do Boletim Municipal.

Grato pelo esclarecimento.

Cumprimentos,

Isabel Magalhães disse...

Caro José António;

nem há do que pedir desculpa...

aqui no meu sítio raramente recebo o Jornal da Região - Oeiras.

vá-se lá saber porquê! :)

Um [].

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.