segunda-feira, 26 de abril de 2010

Artista precária

Artista precária - Opinião - Correio da Manhã

26 Abril 2010 - 00h30
Ao fim e ao cabo

Inês de Medeiros, a deputada portuguesa com residência em Paris, pertence ao regimento de artistas precários – no sentido em que teimam viver à custa de subsídios preferencialmente pagos pelo Estado que, como se calcula, não tem a menor obrigação de sustentar manias e extravagâncias.


Como é precária, Inês fez-se à vida: ainda tentou do Partido Socialista um lugar elegível na lista para o Parlamento Europeu – mas o melhor que José Sócrates conseguiu arranjar, apesar de a senhora viver em Paris, foi assegurar-lhe a eleição para a Assembleia da República como candidata pelo Círculo de Lisboa.


Estrasburgo tem outra classe – e seria mais de acordo com a condição de criatura de relativa cultura que fala francês e, muito provavelmente, toca piano. Gorada a hipótese de Estrasburgo, restou-lhe a solução de Lisboa. Inês franziu-se com a maçada de voltar à provinciana capital. Ainda assim, aceitou. O esforço, de resto, será recompensador: ao fim de pelo menos dois mandados tem direito a reforma vitalícia – que a vida de uma artista precária, mesmo na Cidade Luz, está cada vez mais difícil.


A senhora deputada, ao fim de porfiados esforços, obrigou a Assembleia da República a suportar-lhe uma viagem semanal de ida e volta a Paris – no valor de 2500 euros. Não duvido da legalidade do pagamento – despachado por Jaime Gama com base num parecer jurídico que, obviamente, será de irrepreensível doutrina e tecnicamente impugnável.


O que importa, neste caso, é o código dos princípios. Inês de Medeiros acha que o Estado tudo deve fazer, tudo deve iniciar, tudo deve pagar. Habituou-se a viver dos subsídios: é, como tantos outros artistas, uns mais parcos de ideias e de talento do que outros, uma subsídio-dependente – essa chaga política e social que lhe dá uma estranha concepção do que deve ser a vida em liberdade.


Prometo que hei-de encontrar espaço, em post scriptum, para dar conta todas as segundas-feiras do árduo trabalho parlamentar da mais cara deputada eleita pelo Círculo de Lisboa – as intervenções em plenário, a actividade nas comissões, as iniciativas legislativas.


Desconfio de que escassas duas linhas de rodapé chegam e sobram para assinalar o esforço de Inês de Medeiros. Espero que esteja enganado.



Manuel Catarino, Jornalista

5 comentários:

Anónimo disse...

Esforço de Inês Medeiros no período em que foi elita - ZERO

Isabel Magalhães disse...

Continuo na minha...

A responsabilidade deveria ser pedida a quem a convidou sabendo que reside em Paris, embora estando recenseada na lisboeta freguesia de Santa Catarina.

Isabel Magalhães disse...

Estamos em crise, à beira da bancarrota e há que fazer sacrifícios...

Mandem a senhora deputada num low cost. Há-os a partir de 8 euros, não é? Antes do embarque pode passar pelo McDonald's do aeroporto e compra um menu para comer no avião.

Pedro Coimbra disse...

Duas linhas?
Estamos perante um optimista.
Mas há que compreender a senhora.
O tempo que consome a fazer e desfazer malas, nas deslocações, nos aeroportos,...não lhe sobra muito mais tempo para intervir na Assembleia, intervir nas comissões.
Devemos estar gratos por ter uma parlamentar que é uma cidadã de Paris de França (eu li o post Isabel!!).
Trés charmant!!

Isabel Magalhães disse...

Caro Pedro;

'Ter ou não ter' eis a questão! Podiamos viver sem ter uma parlamentar residente na cidade-luz? 'Poder podiamos mas não era a mesma coisa!'
Direi mesmo que faz tudo parte da originalidade do nosso percurso democrático! ;)