sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ricardo Rodrigues, o cleptómano digital

Ricardo Rodrigues, o cleptómano digital - Opinião - Correio da Manhã

O Cronista Indelicado

0h30

No país dos inimputáveis em que Portugal se transformou, um deputado pode surripiar dois gravadores digitais a jornalistas de uma revista respeitável, convocar uma conferência de imprensa e, em vez do mais elementar pedido de desculpas, afirmar-se vítima de "violência psicológica insuportável". Convém fixar esta expressão. No Portugal de 2010, liderado pelo incansável engenheiro Sócrates, "violência psicológica insuportável" é o novo nome que se dá às perguntas incómodas.

Este poderia ser um episódio anedótico, capaz apenas de sobressaltar dois ou três deputados com mais amor às suas carteiras, se ele não fosse tão sintomático do estado a que as coisas chegaram. A conferência de imprensa do senhor deputado Ricardo Rodrigues, que desde o início da legislatura se tem destacado pelo amor ao grande líder e pela defesa canina da sua santidade na comissão de inquérito ao caso PT-TVI, é mais um monumento à desvergonha política e à falta de sentido de Estado.
Num país que ainda se lembrasse do significado de palavras como "responsabilidade política" e "dignidade institucional", o senhor Rodrigues estaria a arrumar o seu gabinete e a apanhar o avião para os Açores. No país onde todos vivemos, contudo, o senhor Rodrigues faz conferências de imprensa ladeado pelo seu líder de bancada (que, depois do affaire Inês de Medeiros, está a especializar-se na defesa dos oprimidos), sem direito a perguntas dos jornalistas (esses pulhas), onde anuncia incompreensíveis providências cautelares (com que fundamento?) e chama "exercer acção directa" ao acto de roubar e "tomar posse" ("irreflectidamente", assinale-se) ao acto de gamar. Da tauromaquia à cleptomania, o Parlamento português está cada vez mais parecido com uma parada circense. E o pior de tudo é que os palhaços somos nós.


João Miguel Tavares (jmtavares@cmjornal.pt)

7 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Arrumar o gabinete?
Em acção directa, nem os vidros das janelas deixava ficar.
Apanhar o avião para os Açores?
Avisem o fulano que, acção directa nos vidros do avião, sobretudo durante o voo, pode ser uma péssima ideia.

Diogo disse...

Somos palhaços porque queremos. Porque não vamos nós, os palhaços, falar directamente com o cleptómano?

Isabel Magalhães disse...

Eu tenho amigos socialistas, pessoas que acreditam numa sociedade mas igualitária, mais fraterna, e não consigo deixar de pensar - e de me questionar - como é que eles encaixam estas cenas...

Pedro Coimbra disse...

Não se toma a nuvem por Juno, Isabel.
Há gente muito boa dentro do PS.
E há estas figurinhas.
Como as há noutros partidos.
Foram as figurinhas que enterraram Cavaco no PSD e foram as figurinhas que enterraram Guterres no PS.
Com a ajuda do próprio (e que ajuda!) estão a enterrar Sócrates.

Isabel Magalhães disse...

Pedro;

A questão é, continua a ser, como é que essa gente muito boa encaixa estas cenas feitas pelas figurinhas?

Anónimo disse...

Cara Amiga;

Transporte o caso para Oeiras e veja onde estão os que fazem o trabalho "sujo" nas secções do PSD. É assim que "eles" começam.

O RR nos Açores só pode ter começado, também, como angariador de "militantes".

Pelo perfil até as vaquinhas dos verdes prados açoreanos devem ter sido registadas como militantes e votado no RR quando este começou carreira no PS local.

Aposto que nos livros estão nomes como "Borboleta", "Branquinha", "Mimosa", "Felisberta"...

PBX

Isabel Magalhães disse...

Caro Amigo 'anónimo';

Nem contesto isso mas insisto em atribuir ao Ricardo Rodrigues do PS o Prémio da Originalidade. A tanto - leia-se palmar os gravadores a jornalistas 'incómodos' - ainda ninguém se atrevera... ou lembrara!