domingo, 9 de maio de 2010

SONETO DE JOSÉ RÉGIO

Os biltres e o povo




Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.




JOSÉ RÉGIO
Soneto (quase inédito), escrito em 1969

1 comentário:

Diogo disse...

Os biltres de José Régio continuam tão actuais hoje como há 40 anos atrás. Não estará na altura de repensar na forma de lidar com eles?