quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Da vida real

12 Novembro 2009 - 09h00

Mudou-se


Não gosto nem da forma nem da substância da actividade governativa do primeiro-ministro.

Sou adversária política do Partido Socialista. Esse facto nunca me impediu de reconhecer – quando me deparei com ela – a qualidade de alguns dos seus agentes políticos e até o mérito das respectivas acções. O mesmo vale para os demais partidos do espectro político nacional. E o facto de ser militante do PSD também nunca me inibiu de discordar do meu Partido quando a minha consciência ou o que eu entendia ser a prossecução do interesse público assim o ditavam.

Quer isto dizer que não confundo adversários políticos com inimigos, nem diferenças de ideias com guerras. Nem para mim, o que outrem faz, apenas porque provém de outro partido, está mal por definição. Longe disso. Uma boa medida ou um bom projecto são bons para o País e para as pessoas, ou não. E se são, há que apoiar. Se não são, há que criticar e apresentar alternativas.

Isto clarificado, tenho de dizer que não gosto nem da forma nem da substância da actividade governativa do primeiro-ministro, basicamente porque não lhe reconheço um projecto digno desse nome para o País e porque a arrogância me incomoda. Aliás, sempre entendi a arrogância como uma espécie de fraqueza.

Mas gosto ainda menos de ver uma das mais altas individualidades do Estado envolta em suspeitas e dúvidas (justas ou injustas), corrosivas da confiança dos Cidadãos na Democracia e demolidora para as Instituições. As desgraças dos adversários políticos não me contentam nem um pouco. E ainda se fossemos um País com um tecido social forte, sempre a sociedade teria respostas independentes e lá estaria, por si. Agora, um País habituado a depender dos Poderes Públicos, estando parte das estruturas e agentes políticos, ao mais alto nível, sob suspeita, é insustentável. Há clarificações que a transparência exige. Mesmo que o Governo apareça agora aparentemente tão dócil, tão dialogante, nada apaga esta situação dramática.

Como dramática é a cautela e o meio silêncio de quase toda a Oposição, em torno de mais um processo de dimensões demenciais. E o ponto é que nada disto vai ficar por aqui, como veremos.

Há demasiadas faces ocultas cuja máscara ainda não caiu. No Portugal de hoje, nós, todos, desconfiamos.

E a confiança é um factor essencial ao desenvolvimento económico e cívico; mas essa, agora, não mora aqui.

Procurou locais menos poluídos.


Paula Teixeira da Cruz, Advogada

2 comentários:

Anónimo disse...

Já estamos habituados a opiniões lúcidas e depreocupadas - politicamente não deve nada a ninguém - da Drª Paula Teixeira da Cruz.
É sempre um prazer ler estas crónicas.
O país bateu realmente no fundo e há 10 anos que o Partido Socialista apenas apresenta ideias para ganhar votos, nada com sentido de estado.
O Pinóquio que nos governa, politicamente, não durava 2 dias nos Estados Unidos.
É o problema deste provinciano complexado que apenas se vê a ele quando fala - narcisismo puro e simples.

Anónimo disse...

Claro que nem todos podem gostar do amarelo.
PTC não gosta nem desgosta, persegue Sócrates, o que é bem diferente. Recodar que ficou agarrada à cadeira da Pres da Assembleia da Cidade de Lisboa, quando Costa foi eleito, ara alem de ser de bom gosto, foi de bom tom.