quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O modesto bancário que a política fez banqueiro



Hoje

É um homem de ímpetos. E, algumas vezes, não mede as palavras. O jornal Avante!, na edição de 12 Abril de 2001, lembrava uma das polémicas de Armando Vara, que terminou em tribunal. Na qualidade de membro do Governo, num momento de crispação, Vara terá dito ao presidente da Câmara de Ourique : "eu quero que o senhor se f***". O insulto custaria ao socialista, na moeda da época, 450 contos: foi essa a condenação aplicada pelo tribunal. Nas eleições autárquicas, em 1983, a sua candidatura à Câmara da Amadora, também esteve envolta em polémica. Um dos companheiros de partido chegou mesmo a acusá-lo de usar métodos "dignos de um pistoleiro do Nordeste". Vara perdeu as eleições.

Homem do aparelho, pertenceu ao núcleo duro do guterrismo. É amigo de Jorge Coelho, de Jaime Gama e do actual primeiro-ministro. Esteve com Sócrates nos governos de Guterres; como Sócrates licenciou-se na universidade Independente. Sócrates parece outra vez no caminho deste socialista que nasceu em Vilar dos Ossos, Vinhais - foi o seu Governo, em 2006, que nomeou Vara para a administração da Caixa Geral de Depósitos.

Iniciou a carreira profissional na banca como funcionário de balcão, na dependência da Caixa Geral de Depósitos, na Vila de Moncorvo. Anos mais tarde, após a passagem pelo Governo, volta à casa mãe. Com uma licenciatura terminada na Universidade Independente dias antes, Armando Vara é nomeado para a administração da CGD. Do banco público transitou - com Carlos Santos Ferreira - para a vice-presidência do Banco Comercial Português, cargo que agora suspende. Um mês e meio depois de abandonar a CGD, refira-se, foi promovido ao escalão máximo de vencimento, promoção importante para efeitos de reforma. Mas resolveu abdicar de qualquer regalia extra via CGD.

Destacado gamista, apoiou a candidatura de António Guterres à liderança do PS. O apoio teve, mais tarde, a recompensa: o jovem Armando Vara, activo presidente da distrital socialista de Bragança, deputado, chega ao Governo. Primeiro como secretário de Estado; Guterres chama-o, depois, a ministro. Mas a experiência no cargo curta. A polémica em torno Fundação para Prevenção e Segurança, que ajudou a criar, abre caminho à sua demissão, pressionada pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio. A partir daí, o socialista entra em pousio político. Ascensão continuou: o bancário passou a banqueiro. Até terça-feira, quando suspendeu mandato.

DN Economia

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