quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não há viagra que faça crescer a economia lusa

EDITORIAL


Por António Ribeiro Ferreira,

Publicado em 07 de Julho

Aumentem impostos, cortem nos subsídios, reduzam os salários, atirem com mais gente para a miséria. O funeral vem já a seguir


Insultuoso, imoral, inaceitável, terrorista, ataque, absoluta imoralidade. O ministro das Finanças, que trata por tu os seus parceiros da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, ficou magoado. O primeiro-ministro levou um murro no estômago. Sucedem-se as reacções patrióticas, indignadas, e espera-se a todo o momento que Cavaco Silva convoque uma manifestação nacional de desagravo. Isto não se faz. Um governo direitinho, uma maioria parlamentar mais do que direitinha, um Presidente da República feliz com tanto respeitinho, um imposto extraordinário, privatizações antecipadas, golden shares eliminadas, uma baixa muito significativa na taxa social única, aumento do IVA para imensos produtos e serviços. E nada. Indiferentes ao esforço e ao sacrifício nacionais, os maus da agência Moody''s atiraram com a pátria secular para o lixo. Mas a Europa de Durão Barroso e companhia, que anda há dois anos atarantada com a crise e incapaz de encontrar uma solução eficaz para as doenças terminais de alguns países periféricos, promete apertar o cerco às malvadas agências americanas que atiram, sem mais nem menos, as dívidas soberanas para o lixo. Esta posição firme, de dedo em riste e em tom ameaçador, é um sossego para a alma de todos os portugueses, gregos, espanhóis, italianos, irlandeses e mais uns tantos europeus que já não sabem fazer contas à vida. Mas atenção. As receitas para os males não param de chegar de todo o mundo. Os especialistas em economia e finanças, mestres e doutores em diagnósticos, garantem que em cima de austeridade e recessão é imperioso acrescentar mais austeridade e recessão. É o caso de um administrador de um respeitável banco suíço que ficaria chocado se Portugal não entrar em incumprimento. Para esta figura do Crédit Suisse é absolutamente necessário reduzir os salários entre 5% e 10% e, mesmo assim, o futuro continuará mais próximo do inferno do que do purgatório. Pronto. Como o governo está absolutamente determinado a cumprir o programa da troika e mostrar que é bem capaz de ir mais longe, é muito natural que depois do imposto de Natal venha aí a taxa do Ano Novo, a derrama do Carnaval, o coelhinho da Páscoa e umas multas para quem tiver o desaforo de gozar uns diazinhos de sol. É evidente que o resultado final está à vista de todos. Com ou sem brandos costumes, os remédios que os sábios estão a dar aos doentes terminais não aliviam a dor e só apressam a morte dolorosa. E isto porque no estado a que isto chegou, e vai chegar, não há viagra que faça a economia crescer de modo a criar emprego e gerar riqueza para pagar as dívidas que o Estado e os privados andaram alegremente a contrair antes e depois da bebedeira do euro, do dinheiro fácil e do crédito barato. Dito isto, é óbvio que o Presidente da República, o primeiro-ministro e outras autoridades na matéria vão manter o discurso do abismo. É fundamental cumprir o acordo com a troika, ir para além do que é razoável em matéria de sacrifícios e esperar de consciência tranquila que o padre dê a extrema-unção a um moribundo cheio de orgulho dos seus 900 anos de história. A realidade é esta, não há outra. Palavras como confiança, esperança, determinação e vontade são perfeitamente patéticas. O lixo da dívida teve um mérito. Mostrou aos portugueses que os sacrifícios presentes e futuros não servem para coisa nenhuma. E talvez a tão apregoada paz social tenha os dias contados e os lusitanos decidam ser daqui para a frente os gregos da Grande Ibéria.

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