sábado, 3 de março de 2012

COMUNICAÇÃO INTEGRADA: O fim do acordo ortográfico da Língua Portuguesa



Neste blogue continuo a escrever o "português de Portugal", como a professora Luciana Pinto me ensinou nos bancos da escola primária, na década de 1970, pelo que tenho ignorado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. E, a avaliar pelas notícias que chegam da secretaria de Estado da Cultura, estou no caminho certo (ver aqui). Ao ter anunciado que o Governo vai mudar o Acordo Ortográfico até 2015 e que cada português pode escrever como quiser, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, acaba de matar, e bem, o famigerado acordo.
De facto, as regras de escrita que, ao fim de anos e anos de estudos, nos tinham impingido por decreto com o alegado objectivo de uniformizar a língua – como se em Portugal, no Brasil ou em outros países de expressão portuguesa todos falassem da mesma forma – não têm sentido nenhum. A diversidade é enriquecedora. Uma língua é tanto mais rica quanto mais incorporar as diferenças dos seus falantes.
Basta ler o que escreve António Guerreiro sobre a grafia dupla prevista no acordo ortográfico, num trabalho analítico publicado no suplemento cultural "Actual", do semanário "Expresso", de 25-02-2012, para perceber o que está em causa: "A grafia dupla abrange três domínios: o das consoantes mudas, o da acentuação gráfica e o da capitalização (o uso das maiúsculas). Como o critério é o da pronúncia, temos os casos em que há a supressão obrigatória (ato, seleção), os casos em que há a manutenção obrigatória (facto, dicção) e os casos em que a supressão é facultativa (rece(p)ção, dece(p)ção), em que o Acordo dito de unificação ortográfica conseguiu criar uma divergência onde ela não havia."
Nos últimos tempos, tinham vindo a público vários sinais contrários ao Acordo Ortográfico. Às reservas colocadas na imprensa angolana, seguiu-se a desobediência protagonizada por Vasco da Graça Moura, novo administrador do Centro Cultural de Belém, ao anunciar que a instituição estatal iria comunicar segundo a antiga ortografia. Graça Moura venceu, assim como todos aqueles que resistiram a uma mudança estúpida – incluindo algumas publicações, designadamente os jornais “Público” e “i”.
Já agora, o Governo português deveria preocupar-se com casos de abuso das autoridades brasileiras, que pedem aos portugueses a tradução dos documentos, como passaportes ou cartas de condução. Como se os documentos de Portugal não estivessem escritos em português (ver aqui).  

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