sexta-feira, 16 de março de 2012

Os adaptados



Quarto Poder

Os adaptados

 

 

O lema deste Governo é "nada se muda, tudo se adapta". Serve-lhe à medida, depois das justificações para excluir a TAP e a CGD dos cortes salariais e dos casos das rendas da energia e Lusoponte.

Por: Manuela Moura Guedes, Jornalista


Há sempre alguns que ficam de fora do esforço e do sacrifício que é exigido supostamente a todos os portugueses. Passaram a chamar-se adaptados. Uns, abertamente, quando o Governo aplica o termo às excepções e quer fazer o País de tolo: outros, de uma forma sinuosa, obscura, através dos lóbis, os que mandam no país. Foram eles que demitiram o secretário de Estado da Energia, os que cobram rendas a mais às famílias, na factura da luz, de 370 milhões por ano.

Passos Coelho cedeu aos lóbis e fez ceder Santos Pereira, que, por sua vez, precipitou a demissão de Henrique Gomes ao censurar o discurso que o ex-secretário de Estado acabou por não fazer no ISEG. Garantia ele a necessidade de "eliminar as rendas excessivas do sector e os lucros excessivos" e falava do risco sério do preço da electricidade poder subir 26% em 2013. Terão sido razões pessoais, sim, que o fizeram sair do Governo, as que levam a não dobrar a coluna vertebral sob o peso de pressões e interesses de lóbis. E a família acompanha-o nisso, certamente.

Já o secretário de Estado das Obras Públicas não mostra este tipo de preocupações. Mantém-se firme no lugar, apesar de ter mandado pagar à Lusoponte a verba que a concessionária só receberia se não tivesse cobrado as portagens do mês de Agosto, o que fez. E há ainda o pormenor da sua expedita decisão se basear num parecer de uma jurista que já trabalhou para a Lusoponte!

Conclui-se então que quem defendeu o interesse público teve de demitir-se e quem o lesou continua alegremente no Governo. Isto seria bizarro se não estivéssemos no país das rendas e dos subsídios, do poder de quem faz dinheiro à custa do Estado e com quem se criam dependências e interesses cobráveis.

Pouco mudou, e neste pouco incluem-se Passos Coelho e Santos Pereira. Também eles se adaptaram (na velha terminologia). Baixaram os braços, deixaram-se engolir pelos lóbis e vão adaptando (na nova) – Passos fala agora em mudar as rendas energéticas de alguns. O problema é mesmo esse. Haver sempre alguns!

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