Quarto Poder
Os adaptados
O lema deste Governo é "nada se muda, tudo se adapta". Serve-lhe à medida, depois das justificações para excluir a TAP e a CGD dos cortes salariais e dos casos das rendas da energia e Lusoponte.
Há  sempre alguns que ficam de fora do esforço e do sacrifício que é  exigido supostamente a todos os portugueses. Passaram a chamar-se  adaptados. Uns, abertamente, quando o Governo aplica o termo às  excepções e quer fazer o País de tolo: outros, de uma forma sinuosa,  obscura, através dos lóbis, os que mandam no país. Foram eles que  demitiram o secretário de Estado da Energia, os que cobram rendas a mais  às famílias, na factura da luz, de 370 milhões por ano.
Passos  Coelho cedeu aos lóbis e fez ceder Santos Pereira, que, por sua vez,  precipitou a demissão de Henrique Gomes ao censurar o discurso que o  ex-secretário de Estado acabou por não fazer no ISEG. Garantia ele a  necessidade de "eliminar as rendas excessivas do sector e os lucros  excessivos" e falava do risco sério do preço da electricidade poder  subir 26% em 2013. Terão sido razões pessoais, sim, que o fizeram sair  do Governo, as que levam a não dobrar a coluna vertebral sob o peso de  pressões e interesses de lóbis. E a família acompanha-o nisso,  certamente.
Já o secretário de Estado das Obras  Públicas não mostra este tipo de preocupações. Mantém-se firme no lugar,  apesar de ter mandado pagar à Lusoponte a verba que a concessionária só  receberia se não tivesse cobrado as portagens do mês de Agosto, o que  fez. E há ainda o pormenor da sua expedita decisão se basear num parecer  de uma jurista que já trabalhou para a Lusoponte!
Conclui-se  então que quem defendeu o interesse público teve de demitir-se e quem o  lesou continua alegremente no Governo. Isto seria bizarro se não  estivéssemos no país das rendas e dos subsídios, do poder de quem faz  dinheiro à custa do Estado e com quem se criam dependências e interesses  cobráveis.
Pouco mudou, e neste pouco incluem-se  Passos Coelho e Santos Pereira. Também eles se adaptaram (na velha  terminologia). Baixaram os braços, deixaram-se engolir pelos lóbis e vão  adaptando (na nova) – Passos fala agora em mudar as rendas energéticas  de alguns. O problema é mesmo esse. Haver sempre alguns!
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