quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Futebol e o Vazio

Cartas à Directora do Jornal Público de 9.9.2010





Chegaram há dias os jovens atletas que foram representar Portugal nos Primeiros Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura e até trouxeram medalhas. Os canoístas portugueses também chegram com medalhas para Portugal. E também há medalhas conquistadas nos Jogos Paraolímpicos. Quem sabe quantos atletas estiveram presentes, quais os resultados que alcançaram, quantas medalhas trouxeram, em que modalidades? Quem sabe em que condições – atletas e treinadores – se preparam? Praticamente só um número muito restrito de portugueses sabe destes feitos e a comunicação social às vezes, muito às vezes, fala deste assunto uma vez.



Quantos cientistas portugueses são reconhecidos em Portugal, na Europa, no Mundo? Quantas vezes os seus nome são referidos, acarinhados e decorados pelos portugueses? Em que circunstâncias trabalham? Que apoios existem na nossa Terra para poderem desenvolver as suas aptidões? E os nossos jovens artistas que agora até querem acabar com o ensino articulado?



É o vazio. Mas na área do futebol tudo é diferente. Todos os dias sabemos, por todos os canais de transmissão, os milhões gastos na compra de jogadores e treinadores. Todos os dias doutores e comentadores perdem horas a explicar a elipse cónica da trajectória da bola que entrou numa baliza. E se foi jogada de calcanhar serão umas semanas a martelar no mesmo. E despudoradamente mostram os locais paradisíacos dos treinos. Será mesmo necessário estar num resort de luxo para correr atrás de uma bola? E as massagens? E quando se magoam não ficam em lista de espera...


Para quando uma distribuição mais equilibrada que possibilite que os nossos jovens atletas, artistas e cientistas também possam realizar os seus sonhos.



Maria Clotilde Moreira / Algés

4 comentários:

Jorge Conceição disse...

Os jornalistas, salvo muito raras e honrosas excepções, são os principais responsáveis pela apatia e desinformação da generalidade dos nossos cidadãos.
Quando um telejornal abre com uma notícia sobre o futebolista A ou B, pergunto onde estará o critério profissional do "pivot" de serviço - pergunto e respondo: nos ofensivos milhares de euros que recebe ao fim do mês.
Para além do esquecimento quase total dos muitos atletas de várias modalidades que prestigiam o nosso país lá fora, quantos assuntos que deveriam motivar um jornalista não são abordados na nossa imprensa? Porque é que só são presos os pequenos traficantes de droga? Quem controla o negócio? Tanto dinheiro lá fora nos paraísos fiscais! Quem o envia? Casas, carros, barcos de luxo que aparecem nas mãos de indivíduos que ontem não tinham nada. De onde vem o dinheiro? Etc.,etc., etc....
Um manancial de assuntos que um jornalista com J maiúsculo poderia investigar.
É triste mas é o "jornalismo" que temos
Jorge Conceição

Clotilde Moreira disse...

Jorge Conceição

Eu acrescento: é o "jornalismo" que está autorizado pelos donos. Acredito que muitos jornalistas gostavam de fazer de outra maneira mas precisam de comer e assim são obrigados a escrever as noticias que os deixam.
Obrigada pela sua compreensão.
Clotilde

Jorge Conceição disse...

Cara Clotilde,
Pelo meu nome não deve saber quem sou mas nós cumpimentamo-nos quando nos cruzamos na rua.
Embora saiba que tem razão, não posso concordar, de maneira nenhuma, com esse argumento. Este não é o local apropriado para estar a contar a minha história mas digo-lhe que, em determinada altura da minha vida tive um processo disciplinar com intenção de despedimento, só porque não abdiquei dos princípios que considerava correctos. Quem me salvou o posto de trabalho foi o 25 de Abril que aconteceu entretanto.
Ser jornalista, para mim, deveria representar uma responsabilidade enorme. A grande maioria não tem a consciência da responsabilidade social da profissão que abraçou.
Desculpe mas é a opinião que tenho. Quando a vir, se me permitir, vou roubar-lhe cinco minutos para falar-mos sobre isto.
Parabéns pelo seu trabalho aqui no Oeiras Local
Jorge Conceição

Clotilde Moreira disse...

Jorge Conceição
Pode roubar-me os 5 minutos.
Clotilde