domingo, 20 de novembro de 2011

Porca miséria - Opinião - DN

Porca miséria - Opinião - DN



por PAULO BALDAIA

Hoje

Não sei se Duarte Lima é culpado. Não sei e, para já, não quero saber. Presumo-o inocente, que é o estatuto devido a todos os portugueses que caem na alçada da justiça. Até prova em contrário, e a prova deve fazer-se apenas em tribunal. Mas não tenho ilusões, com o reality show montado à volta da sua detenção, o País inteiro já o condenou.

O que sei hoje é que as fugas de informação que permitem a montagem do circo mediático não são inéditas. Essas fugas de informação tanto podem servir jornalistas ávidos de mostrar serviço, como podem servir para os suspeitos destruírem provas ou preparem a fuga, mas nunca servem para fazer justiça. Com gente famosa ou poderosa é quase sempre assim que acontece. No final, quase nunca são condenados nos tribunais, mas já estão condenados na praça pública. Alguns magistrados do Ministério Público é assim que gostam que as coisas aconteçam. Incapazes de produzir prova irrefutável, não desarmam. Para eles a maior prova é a sua própria convicção. Não serve em tribunal, mas serve-lhes a eles.

Não é com Duarte Lima que estou preocupado; é com a justiça que tem o meu país. Um procurador-geral que diz que tudo isto é uma vergonha, mas que reconhece a sua incapacidade para resolver o assunto é a prova da falência de um Estado Democrático. Um presidente do Supremo que considera que Isaltino já devia estar preso e que atribui as culpas aos processos penal e civil é a prova da falência de um Estado Democrático. Poderiam seguir mais mil exemplos para mostrar que a justiça em Portugal não funciona, mas, tendo em conta que quem falou atrás foram os chefes da investigação e dos tribunais, não vale a pena gastar mais papel.

Penso que ninguém tem dúvidas de que é a Democracia que é posta em causa quando não há justiça. Perder soberania para os funcionários de 7.ª linha da troika é coisa pouca comparada com esta prepotência de uns quantos senhores da justiça em relação a todos os portugueses. Prefiro ouvir os disparates dos funcionários da troika, mesmo quando eles se metem onde não são chamados, do que ver milhões de portugueses acreditarem que podem julgar alguém com base no circo a que assistem nos órgãos de comunicação social.

Em relação à perda de soberania para os senhores da troika a opção é clara: ou queremos ser senhores do nosso destino sem o dinheiro dos outros, ou queremos o dinheiro deles e aceitamos que eles nos imponham as condições em que nos emprestam. Mas na justiça não há a alternativa que nos querem impor. Eu não quero cidadãos do meu país com a opção de serem condenados, por serem poderosos, na praça pública ou nos tribunais. A única alternativa que pode haver é a de serem condenados porque se prova a sua culpa ou inocentados porque não se prova a sua culpa.

8 comentários:

Zé do Telhado disse...

Não sei nem estou preocupado em saber se D.L é ou não culpado. Só quero saber como é possível um banco emprestar dinheiro a um rapaz de 22 anos que tinha um IRS de cerca de 1200€ mensais. Aliás de acordo com a comunicação social DL declarou de IRS o valor da sua pensão que é de 2200€ mensais. Pelos vistos esta gente tem vivendas, grandes contas bancárias, grandes empréstimos e as finanças não tratam de saber como as obtiveram.

Isabel Magalhães disse...

Já somos dois. Também perguntei algures por aí que garantias exigiu o BPN a D.L. para lhe emprestar uns 5 mil e tal milhões.

Oeiras disse...

Então o paizinho não pode ter sido fiador? Pelos vistos foi, mas agora vem o advogado dizer que o rapaz não poe pagar a fiança... pague o fiador que lhe garantiu o empréstimo.

Leite Pereira disse...

O Paizinho também e, pelo que lemos nos jornais, o seu IRS não dava para ser fiador uma vez que tinha um vencimento mensal de 2200€.
Note-se que me estou nas tintas para os dois. Só me preocupo porque estou a pagar com lingua de palmo as falcatruas feitas no BPN.

Anónimo disse...

Espero que os processos dos terrenos de Leceia á volta do então PRETENDIDO NOVO IPO sejam averiguados pelas autoridades policiais.

Isabel Magalhães disse...

Eu também espero e - se calhar! - vamos ter algumas surpresas!

Leite Pereira disse...

Seria importante para que o processo seja transparente saber se os ditos terrenos estavam na reserva agrícola ou já eram urbanizávies. Se estavam na reserva agrícola e passaram a urbanizáveis é bom saber as datas em que tal foi efectuado e conhecer toda a tramitação do processo. Despachos, datas, entidades intervenientes, etc..

Isabel Magalhães disse...

Caro Leite Pereira;

Estamos em sintonia!