Dias contados
Uma anedota chamada Otelo
por ALBERTO GONÇALVES
Hoje
Antes de 1974, o capitão Otelo Saraiva de Carvalho serviu diligentemente a ditadura salazarista. Após o 25 de Abril, de que ele próprio foi operacional destacado, ajudou a impor uma ditadura comunista. Derrotada esta no 25 de Novembro de 1975, prosseguiu a defesa dos macaquinhos que lhe habitam o sótão quase sozinho e literalmente à bomba até ser preso. Hoje, seria de esperar que duas tiranias, um golpe de Estado e uma apreciável incursão pelo terrorismo, satisfizessem as ambições profissionais do major Otelo Saraiva de Carvalho, que aproveitaria o Outono da vida para contemplar o passado heróico e gozar de uma reforma pacífica. Evidentemente, não satisfazem.
Há homens que não sossegam enquanto um único dos seus semelhantes estiver privado de exercer o direito de voto. O tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho não é desses. O que o aflige é justamente a possibilidade de os semelhantes escolherem os respectivos destinos em liberdade. Parafraseando As Vinhas da Ira, onde houver o vestígio de um sistema democrático, o coronel Otelo Saraiva de Carvalho lá irá tentar acabar com ele. Ou pelo menos fica no sofá de casa a pedir a outros que o façam.
A última do brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho é aquela espécie de entrevista na qual explica que "os militares têm a tendência para estabelecer um determinado limite à actuação da classe política", que o poder político "está próximo de exceder os limites aceitáveis", que, "ultrapassados os limites", os militares devem "fazer uma operação militar e derrubar o Governo", e que "bastam 800 homens".
Em troca, alguém de bom senso deveria explicar ao general Otelo Saraiva de Carvalho que, grosso modo, a coisa funciona ao contrário. Os limites da política são decididos pela Constituição e pela lei. O poder militar está submetido ao político. O poder político, tontinho que seja, está submetido ao voto dos cidadãos e não aos apetites de 800 hipotéticos valentes. As sugestões em causa configuram o crime de incitação à violência. Etc.
Pensando melhor, não vale a pena. Há muito, provavelmente desde sempre, que o marechal Otelo Saraiva de Carvalho se encontra além da racionalidade, da imputabilidade e da paciência. Evangelizá-lo na exacta democracia que lhe permite ostentar os delírios seria tão inútil quanto pregar o feminismo aos aiatolas. Mais do que um déspota falhado e arcaico, o sr. Otelo é uma anedota, só perigosa na medida em que alguns ainda a ouvem sem se rir.
9 comentários:
Quem é Alberto Gonçalves?
O que é grave é o Blogue fazer estas transcrições, ou talvez não.
Mas o Blogue tem o nível que tem.
Oeiras tem História e os militares têm talvez contribuido de forma positiva para a sua História. A República deve a Otelo que Portugal passasse a ter lugar na Europa.
Não vale a pena disertar sobre calinadas dos militares, porque os civis são almas puras, que não se corrompem nem têm culpa desta situação em que vivemos.
Era interessante Alberto Gonçalves convidar para uma entrevista Otelo e dar-lhe estampa no Jornal.
Chega.
O anónimo [14 de Novembro de 2011 00:32] quando quiser ser anónimo tem que mudar o registo e as palavrinhas-chave que lhe são recorrentes; caso contrário é um gato escondido com o rabo de fora.
Quanto a Otelo, os motores de busca estão cheios de informação sobre a personagem e nem é difícil procurar e tirar conclusões.
Considero inaceitáveis as palavras do Otelo e o incitamento à revolução, mas vai no seguimento do que ele já pensava anteriormente em meter o pessoal no Campo Pequeno. É bom não esquecer que integrou as Brigadas Vermelhas que mataram o Director Geral dos Serviços Prisionais, Dr. Castelo Branco quando saia de casa, o que muito me impressionou pois era amigo da sua mulher e como tal não esquecerei este acontecimento. Num País em que a JUSTIÇA funcionasse o Ministério Público já estava a interrogá-lo. Quanto ao Lourenço é mais desculpável pois o homem quase não se sabe exprimir pelo que poucos entenderão o que pretende.
Caro Leite Pereira;
E o triste episódio que menciona teve a agravante de acontecer já em democracia
********
Sobre as FP 25, é sabido quem concedeu o indulto e a amnistia mas quem não souber, ou sofrer de amnésia, pode consultar na net.
No Jornal Expresso de 1/9/2007, o jornalista Fernando Madrinha explicou sucintamente de que forma a Banca, a mais poderosa, interligada e influente quadrilha do planeta, utiliza a política e os políticos, os Media e os jornalistas para saquear os Estados Nacionais:
[...] «Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.»
Otelo quer derrubar estes «governos que se tornaram suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral».
Será asim tão descabido?
Apoiou em entrevista isaltino nas eleições autárquicas de 2009.
Um abraço do retornado
Resposta a Diogo [14 de Novembro de 2011 12:08];
Grande SPAM. Então escreve no seu blogue e depois faz copy-paste por vários blogs cá do burgo? Acabei de ler a resposta que o meu Amigo Rui Freitas lhe deu no 'Pinhanços' e não poderia estar mais de acordo com ele.
Continuação de uma boa noite.
Considerei as palavras de Fernando Madrinha, um jornalista que conhece bem os meandros da «política», tão importantes e tão esclarecedoras que faço questão em disseminá-las. Porque era bom que toda a gente estivese a par disto.
Sobre os banqueiros digo-lhe - exactamente - o que lhe disse o meu Amigo Rui Freitas. E sobre quem paga também.
Enviar um comentário