Sem Rodeios
Cultura do exemplo
O que têm em comum decisões tão díspares quanto a não nomeação de novos governadores civis, a ausência de férias para Governo e Parlamento ou o facto de o primeiro-ministro passar a viajar em classe económica? Será que estas decisões vão reduzir o défice do Estado ou a dívida pública? Claro que não. Nenhuma destas decisões tem uma especial relevância financeira. Mas têm, todas elas, um forte carácter simbólico. Exprimem um sinal, representam um compromisso e apontam um caminho. São o afloramento de uma cultura do exemplo.
- 0h30
Ao não nomear novos governadores civis, o Governo está a dizer que quer acabar com estruturas inúteis e que não está no poder para perpetuar desperdícios ou para colocar amigos e enteados. Dir-se-á que é uma decisão fácil e até tardia. É verdade. Só que antes deste Governo ninguém teve a coragem de a tomar. Foram vários os que prometeram agir mas só este Governo ousou decidir. Aqui é que está a força do exemplo.
Parlamentares e governantes não terão férias este ano e os ministros passarão a viajar em classe económica. Muitos dirão que são gestos de demagogia e populismo. É possível ver essas iniciativas por tal prisma. Mas também é possível encará-las à luz de um Governo que quer dar o exemplo. O exemplo de que é necessário trabalhar mais e de que os sacrifícios tocam a todos. Aqui está a enorme carga simbólica destas medidas. Não mudam o orçamento do Estado, mas mudam a forma como os governantes se relacionam com os cidadãos e como estes passam a olhar para quem os governa.
Há anos que Portugal abdicou da cultura do exemplo. Com facilidade promete-se e não se cumpre, fala-se mas não se faz, apregoa-se a ética mas pactua-se com a imoralidade, advoga-se o mérito mas pratica-se a cunha, cultiva--se o discurso contra a impunidade para depois fechar os olhos a quem atropela a legalidade. É este tipo de comportamento que mina a relação de confiança entre governantes e governados. Afinal, como diz o povo, o exemplo vem de cima! Se de cima vem um mau exemplo, ele contamina toda a sociedade. Ao contrário, um bom exemplo tem uma força arrasadora. Vale mais do que as melhores leis que se aprovam e que os discursos mais empolgantes que se fazem. Daí a importância dos exemplos que o Governo deu. Esperemos apenas duas coisas: primeiro, que sejam para continuar; depois, que passem do plano simbólico para o plano das políticas. Todos ganharão com isso.
1 comentário:
Concordo com MMendes. O exemplo deve sempre partir de cima. Assim, espero eu, que da próxima vez que PPCoelho viajar pague o bilhete. Há exemplos que não precisam de ser dados, até porque ao comum do mortal, àquele que não é poderoso, esses exemplos nem sequer lhe são permitidos seguir. Ah! Claro, vou segui-lo na próxima viagem de comboio. Mas aqui há uma diferença substantiva: Eu tenho que fugir ao picas!!
Pedro Correia
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