terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Carta a Miguel Sousa Tavares

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Caro(a) Colega,

No número 1784 do Jornal Expresso, publicado no passado dia 6 de Janeiro, o colunista Miguel Sousa Tavares desferiu um violentíssimo ataque contra os professores (que não queriam fazer horas de substituição), assim como contra os médicos (que passavam atestados falsos) e contra os juízes (que, na relação laboral, pendiam para os mais fracos e até tinham condenado o Ministério da Educação a pagar horas extraordinárias pelas aulas de substituição). Em qualquer país civilizado, quem é atacado tem o direito de se defender. De modo que a professora Dalila Cabrita Mateus, sentindo-se atingida, enviou ao Director do Expresso, uma carta aberta ao jornalista Miguel Sousa Tavares. Contudo, como é timbre dum jornal de referência que aprecia o contraditório, de modo a poder esclarecer devidamente os seus leitores, o Expresso não publicou a carta enviada. Aqui vai, pois, a tal Carta Aberta, que circula pela Net. Para que seja divulgada mais amplamente, pois, felizmente, ainda existe em Portugal liberdade de expressão.


Divulgue este mail reenviando-o

SPRC . FENPROF (Viseu)


Carta duma professora


«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.
O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas.
O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência.
O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido.
O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser parafazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país.
O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição.
O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição.
Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação.

Dalila Cabrita Mateus,
professora, doutora em História Moderna e Contemporânea».

12 comentários:

Anónimo disse...

Isto é como tudo, há bons e maus em todo o lado. Acho contudo que esta professora tem grande parte da razão e que o Miguel Sousa Tavares, para variar, meteu a pata na poça outra vez.

Já não há muitos jornalistas, se formos a ver. Agora o que há, na maior parte, são fazedores de opinião, que em vez de investigarem e denunciarem casos importantes e chamarem os bois pelos nomes, passam o tempo a tentar picar este e aquele, para ver se depois alguém entra em contradição de declarações.

É triste mas é o país que temos hoje em dia. Ainda ontem tive o desprazer de ver uma revista de imprensa feita na SIC Notícias em que os comentadores eram... O João Pedro Pais e a Mafalda Veiga, vejam só! Ambos com um grande dom da palavra, claro. Foi tão interessante... é ao que este país chegou.

Anónimo disse...

Começou tudo com o «outro» o que tinha «PAIXÃO PELA EDUCAÇÃO» e que foi tirando autoridade aos professores. As «criancinhas» passaram a poder dizer ao professor «Você aqui não manda nada!» e depois veio a «MENISTRA» emporcalhar a classe.

E disse...

Ha... não me parece que o Miguel Sousa Tavares seja jornalista. Acho que é um escritor "criativo".

Isabel Magalhães disse...

O MST é um excelente escritor de viagens, e de crónicas, e deu-nos o romance 'Equador', um caso muito sério de qualidade. E depois tb escreveu - vá-se lá saber porquê - o artigo que teve como consequência a carta acima.

Rui Freitas disse...

Curiosamente, este "post" surge no exacto momento em que, como Jornalista (carteira n.º 2342), estou a preparar a publicação da minha opinião sobre o "Segredo de Justiça" versus Jornalistas.
O campo é, de facto, muito vasto, mas dispensa - penso eu - o dizer mal por dizer.
Aliás, basta estarmos atentos aos jornais e telejornais, para podermos fazer uma simples comparação: quantos professores "castigam" os alunos e quantos alunos agridem os professores. Isto, para não ir mais longe.
Cara Amiga Isabel, se me permite, "roubarei" este "post" para o meu "blog", ainda que contra a eventual vontade dos Srs. AMB e Major...

Anónimo disse...

Este Silvério é AUTISTA!

Se é tão fácil ser professor e as compensações são tantas porque é que ficou na 'tropa'?

Vai na volta é «tarimbeiro». Nem tem habilitações!

Anónimo disse...

Estão à espera de quê para correr com os fascistas de um espaço de tradição democrática?

Anónimo disse...

Silvério;

Vc é mesmo AUTISTA!
Porque é que não vai ler o que alguém (Professora?) lhe deixou em resposta?
Vc não quer debater coisa nenhuma porque Vc está aqui de má fé.
Citando o seu amigo «Prepare-se intelectualmente»! e tome CHOLIPIN que faz bem ao fígado!

Passe bem.

Anónimo disse...

Os professores ainda são absolutamente necessários ao progresso. Agora os militares, em minha modesta opinião, não servem para nada, não produzem nada, a não ser guerra e desgraça.
Nem são precisos para defender coisa nenhuma, já que o país não está ameaçado por ninguém.

Rui Freitas disse...

Contra os "zés pagantes", marchar, marchar...
Contra a "arruaça", marchar, marchar...
Contra os "índios", que marchem os cowboys...
E contra os "tarimbeiros"?
Não há nada a fazer!

Anónimo disse...

EH LAH!

«Este Senhor insultou-me de forma cobarde, sem provas, insinuou mil e uma coisas acerca da minha Pessoa...»

«mil e uma coisas»... isso é muita coisa junta, oh 'major'! Se fosse a si declarava já a guerra, dava-lhe já com a espada...! Ah não!!! a da «espada» metia um coronel e o Silvério não passou de 'major'!
E já agora, quem é que o 'avaliou' a si? E de quanto é a sua reforma?

Anónimo disse...

Ó Silvério Bento;

Moderei o meu vocabulário? Ó homem vc anda muito confuso, isso deve ser da «malícia vil» que o atacou, mais a «maliciosa» não sei das quantas. Sou «Zé» mas não sou colaborador do O.L., venho cá só para me divertir com a sua lábia, nestes últimos comentários cada vez mais iguais ao do Xô Bento.
Vc tem que ir tratar essa cabeça, homem! Olhe que o Primo Alemão está a ser implacável consigo! E «aqui só entre nós que mais ninguém nos ouve» não há 'saco' que aguente!
Vc está completamente «xéxé» e também já sabemos que a sua avó morreu de idade muito avançada. Tem que ter cuidado, homem! vc anda a misturar as falas, anda todo «trocado»! eheheheheh!

Porque é que não arranja uma namorada? eheheheh!