sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Fora de pista: Dakar dos pequeninos

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Georg Kleiber dá mais um aperto ao filtro de ar acabado de montar depois de uma limpeza que não estava nos planos. "Apanhámos muitas tempestades de areia até aqui à zona da fronteira com a Mauritânia e isto começou tudo a falhar", explicou o cunhado e navegador de Kleiber, o também austríaco Rick Watts. "Isto" é um Toyota Tercel 4wd que Watts comprou no site de leilões na Internet "eBay". "Só nos custou 100 euros, ou melhor, pagámos uns 130 euros porque o vendedor nos entregou o carro em casa, em Viena", esclarece o piloto da equipa Pedal Power, que é também a loja de bicicletas que Watts gere na capital austríaca.


O baixo custo do carro é, aliás, a principal condição para participar no Challenge Plymonth-Banjul, uma corrida com fins humanitários entre aquela cidade do sul de Inglaterra e a capital da Gâmbia e que coincide com o competitivo e comparativamente principesco Lisboa-Dakar. "Achamos interessante fazer isto, levar ajuda a pessoas necessitadas de África", justificou Watts, que, em Outubro, encerrou a loja de bicicletas em Viena para preparar o carro e se dedicar com o cunhado à aventura de levar um velho Toyota até à Gâmbia.


David Laiddaw e Eamon Kenwood estavam estacionados na mesma estação de serviço no meio do deserto marroquino, mas com mais sorte que a dupla Kleiber e Watts. Não admira: compraram igualmente no "eBay" um Golf GTI de 1979 por 100 libras (150 euros). "Não está nada mal o carro, tem 275 mil quilómetros e acho que quem ficar com ele na Gâmbia ainda vai ficar com um bom carro", acredita Kenwood.


É que os participantes no "Challenge" são obrigados a doar as viaturas para um leilão a favor de instituições sociais da Gâmbia. "Essa é a parte que nos agrada nesta prova. Na bagagem levamos também material hospitalar, cadernos e canetas para hospitais e escolas de Banjul", diz Laiddaw.


A função humanitária do "Challenge" é importante, mas também há quem aproveite para se divertir. Na caravana rumo a Banjul, que ontem se cruzou no deserto com os portugueses da Expedição Euromilhões Lisboa-Dakar, havia também canas de pesca e pranchas de snowboard. Uma prancha de snowboard em África? "Sim, é óptimo para descer dunas", ri-se Leiber, que ontem à noite não conseguiu cruzar a burocrática fronteira entre Marrocos e a Mauritânia. "Não tem problema, só precisamos chegar à Gâmbia dentro de sete dias. Vamos recuar e montar a tenda numa duna".

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