segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Cimeira UE - África, União Europeia

http://www.abrupto.blogspot.com/

LENDO
VENDO
OUVINDO
ÁTOMOS E BITS
de 10 de Dezembro de 2007

Em matérias europeias é espantosa a capacidade de alguns jornalistas funcionarem como uma câmara de eco das posições governamentais, da UE e do nosso "espírito de Lisboa" materializado em homem, José Sócrates. No caso da Cimeira UE - África ainda me espanta (como posso ser ainda tão ingénuo? Pergunto-me sem resposta...) a capacidade de dar voz, eco, amplificação a tudo o que é construção governamental, à voz do poder, a aceitar sem uma dúvida, sem uma hesitação, sem um distanciamento crítico, o quadro mental com que se deve analisar o que aconteceu, por singular coincidência o exacto enquadramento do spin pretendido como sendo o mais favorável para a propaganda governamental. Onde é que está aqui o jornalismo, a "edição", a análise, ou sequer os factos?

O Público de hoje é impressionante neste mimetismo do poder. Por exemplo, o título do artigo de Sofia Branco (que pode não ser de responsabilidade da jornalista) diz: "Cimeira inaugurou "um novo espírito" nas relações entre a União Europeia e África". Esta agora! Isto não é um facto, é a caução pelo jornal de uma afirmação retórica de propaganda dos responsáveis da Cimeira. Como é que se mede o "novo espírito"? E quem é que o incarna, Mugabe, Oumar Konaré, o presidente do Senegal, Sócrates, Merkel, os que não vieram cá e não foi só Gordon Brown? E porque é que Mugabe foi "uma voz isolada"? Vários dirigentes africanos deram-lhe total solidariedade e foi bem acompanhado no anátema da culpa do colonialismo, a começar por Kadafi. O artigo de Teresa de Sousa é outro exemplo de abandono de qualquer distanciação crítica em relação ao establishment da UE, mas isso não é novidade e como vem apresentado como "análise", é a sua opinião. Aí o problema do jornal é a necessidade do contraditório, apesar de tudo esboçada no editorial de José Manuel Fernandes que contraria a afirmação de Teresa de Sousa de "que ninguém hesitou em chamar de "histórica" à Cimeira."

O problema disto tudo é que temos um jornalismo crítico do estado da escola de S. João de Longe e cínico face às explicações do senhor Presidente da Junta de S. João de Longe sobre por que é que a escola está assim, mas beato e reverente face à Europa e à propaganda da Presidência portuguesa. E não só.


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Para quem não percebeu o que foi e em que resultou a cimeira, o tempo de antena de Sócrates esclareceu: um virar de uma página em branco que alguém há-de discutir e escrever, olhos nos olhos, de igual para igual, sob a forma de uma relação madura, com esperança, entre iguais, num novo espírito, de progresso e liberdade, em que Portugal foi uma ponte perfeita, resultando a Declaração de Lisboa. Foi uma chuva torrencial de letras que juntas formaram palavras pré-fabricadas que estão algures entre o “plástico” de que falava Vasco Pulido Valente e o “parasitismo” apontado por António Barreto. Constata-se online que a cimeira vale zero (CNN), menos que a crise no Paquistão, ou que houve falha quase total, excepção feita aos chineses, que devem ter estado a festejar a noite toda e hoje de manhã cedo continuaram o seu caminho africano, silencioso, mas rápido e eficaz. De substancial, sobrou a evidência do percurso de auto-promoção pessoal europeia que José Sócrates julgou ou julga estar a traçar para si mesmo, à margem da realidade não virtual noticiada no Yahoo News, onde se lê: “But EU officials and businessmen fear growing Chinese investment in Africa could displace Europe from the top spot”. Quanto ao jornalismo, parte dele manifesta-se completamente incapaz de olhar para trás, para a Agenda de Lisboa, para Guterres e para o pântano.
(Paulo Loureiro)



1 comentário:

Unknown disse...

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Olhem um post sem comentários...

Era, porque agora já não é ! :)

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