quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O correio dos leitores


Boas,

ontem decorreu mais um ano sobre a morte de Francisco Sá Carneiro. Para assinalar a data, reenviamos um texto que nos chegou de um companheiro nosso que, com toda a certeza, não se importará que o utilizemos.

Saudações social-democratas

ppdpsd porto salvo


Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro (Porto, 19 de Julho de 1934 - Camarate, 4 de Dezembro de 1980), fundador e líder do Partido Popular Democrático / Partido Social-Democrata (PPD/PSD).

Para alguns quer dizer muita coisa, é uma referência da politíca nacional, um estadista, um homem de princípios e defensor de verdadeiras causas. Para outros nem por isso. No entanto, tomei a liberdade de vos enviar este pequeno texto para sinalizar a data, trágica, é certo, mas que não pode ser esquecida, pelas mais variadas razões.

A todos os meus cumprimentos,

Vitor Eduardo Marques




Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro (Porto, 19 de Julho de 1934 - Camarate, 4 de Dezembro de 1980), fundador e líder do Partido Popular Democrático / Partido Social-Democrata (PPD/PSD).


Fotografia datada de 14 de Dezembro de 1979


Francisco Sá Carneiro nasceu no Porto no dia 19 de Julho de 1934. Cresceu no seio de uma família da alta burguesia. Aos 22 anos concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e principiou a sua carreira profissional como advogado. Católico praticante, frequentou os círculos mais progressistas da Igreja. Foi aqui que começou a defender publicamente a transformação do regime numa democracia parlamentar.
Em 1969 foi eleito deputado pelas listas da Acção Nacional Popular, o partido único do regime de Salazar, para a Assembleia Nacional. Sá Carneiro foi um dos membros destacados da ala liberal do parlamento, durante a “primavera marcelista”. Aí desenvolveu diversas iniciativas tendentes à gradual transformação da ditadura numa democracia típica da Europa Ocidental. Colaborou com Mota Amaral na elaboração de um projecto de revisão constitucional, apresentado em 1970. Não tendo alcançado os objectivos aos quais se propusera, viria a resignar ao cargo de deputado com outros membros da Ala Liberal, entre os quais Francisco Pinto Balsemão.

Em Maio de 1974, após a Revolução dos Cravos, Sá Carneiro fundou o Partido Popular Democrata (PPD), entretanto redesignado Partido Social Democrata (PSD), juntamente com Francisco Pinto Balsemão e José Magalhães Mota. Foi o primeiro Secretário-Geral do partido e afirmou-se, desde logo, como líder histórico do Partido. Dizia aquilo que pensava, mesmo que fosse politicamente incorrecto. Foi um dos primeiros a criticar a influência que o movimento das forças armadas exercia na política nacional. Este tipo de atitudes fez com que muitos o considerassem “um perturbador”. Francisco Sá Carneiro foi ministro sem pasta em diversos governos provisórios. Foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte no ano seguinte e, mais tarde, em 1976, eleito para a I Legislatura da Assembleia da República. Em 1977, o PPD passou a chamar-se Partido Social Democrata (PSD). Sá Carneiro demitiu-se da liderança em Novembro desse ano, devido a divergências políticas. Seria reeleito no ano seguinte, para desempenhar a mesma função.

Em finais de 1979, criou a Aliança Democrática (AD), coligação entre o Partido Social Democrata (PSD), o Centro Democrático Social (CDS), de Diogo Freitas do Amaral, e o Partido Popular Monárquico (PPM), de Gonçalo Ribeiro Telles, e alguns independentes. A coligação venceu as eleições legislativas desse ano - com maioria absoluta. Foi a primeira vez que um líder da oposição passou a chefiar o governo, ganhando as eleições. Para o historiador Rui Ramos, esta vitória tem tudo que ver com a força de Sá Carneiro. “Apresentou um projecto suficientemente claro para cativar o eleitorado.” Dispondo de uma ampla maioria a apoiá-lo (a maior coligação governamental até então, desde o 25 de Abril), foi chamado pelo Presidente da República António Ramalho Eanes para liderar o novo executivo, tendo sido nomeado primeiro-ministro de Portugal, a 3 de Janeiro de 1980, sucedendo a Maria de Lurdes Pintassilgo.
Francisco Sá Carneiro faleceu na noite de 4 de Dezembro de 1980, em circunstâncias trágicas e nunca completamente esclarecidas, quando o avião no qual seguia se despenhou em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa, quando se dirigia ao Porto para participar num comício de apoio ao candidato presidencial da coligação, o General António Soares Carneiro. Juntamente com ele faleceu o Ministro da Defesa, o democrata-cristão Adelino Amaro da Costa, bem como a sua companheira Snu Abecassis, para além de assessores, piloto e co-piloto.
Nesse mesmo dia, Sá Carneiro gravara uma mensagem de tempo de antena onde exortava ao voto no candidato apoiado pela AD, ameaçando mesmo demitir-se caso Soares Carneiro perdesse as eleições (o que viria de facto a suceder três dias mais tarde, sendo assim o General Eanes reeleito para o seu segundo mandato presidencial). Dada a sua trágica morte, pode-se muito bem especular sobre se teria ou não demitido em função dos acontecimentos subsequentes...

Vinte e sete anos depois dos acontecimentos, contudo, continuam a existir duas teses relativas à sua morte: a de acidente (eventualmente motivado por negligência na manutenção de um avião que não era novo), ou a de atentado (nesse último caso, desconhecendo-se quem o perpetrara e contra quem teria sido ao certo - Sá Carneiro ou Amaro da Costa), porque Sá Carneiro queria que Marcello Caetano - na altura em que se deu o 25 de Abril, o Presidente do Conselho de Ministros (cargo equivalente ao actual primeiro-ministro) - voltasse para o Governo.

Foi um dos políticos mais marcantes do século XX português. A luta pela democracia norteou-lhe a vida. Foi um herói romântico que desafiou os preconceitos da sociedade onde vivia. Fundou o Partido Popular Democrata (PPD) e em 1980 tornou-se primeiro-ministro, durante cerca de onze meses. Francisco Sá Carneiro chegou ao fim como viveu: de forma brutal. Morreu num acidente de avião, cujas circunstâncias não foram completamente esclarecidas.

“Antes quebrar que torcer” é um ditado popular que encaixa perfeitamente no perfil de Francisco Sá Carneiro. Era um homem com fortes convicções e um enigmático carisma. O seu entusiasmo contagiava. Fez parte do restrito lote de políticos que foram admirados por amigos e adversários. Assumiu com frontalidade a sua visão para o País. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, o seu objectivo era “a construção de um estado democrático integrado na Europa”. Foi um elo entre dois mundos: espalhou a utopia de um país livre e recebeu apoio amplo da comunidade nacional. A acção política de Francisco Sá Carneiro durou apenas uma década, mas deixou marca. Foi o fundador da direita democrática. Nunca teve receio de rupturas. Em nome de um Portugal moderno e democrático.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os meus parabéns por ter colocado este mail no seu blog. Constatei que muito poucos blogues e/ou sites fizeram referência a Francisco Sá Carneiro. A memória persiste.
Bem-haja.

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruca;

Eu NÃO esqueço Sá Carneiro.

Despertei para a social-democracia ao tempo da 'Ala Liberal'.