Como se sabe, a decisão sobre a localização do novo aeroporto internacional estava tomada desde 1999. Contudo, um poderoso movimento de influências teve o êxito necessário para reabrir o processo. Foi há pouco mais de seis meses que o "pico" das movimentações se atingiu.
Na altura, a alternativa era Rio Frio ou Poceirão [opção inicial preferida pelo PSD mas que mudou para a Ota quando estava no Governo, depois deixou de apoiar qualquer aeroporto e agora voltou a mudar para Poceirão... pera aí... agora já é Alcochete!] e o caldo de argumentos incluía a própria suposição (ilustrada por sondagens esmagadoras, reveladoras de uma profunda sensibilidade do cidadão médio para a questão da navegação aérea) de que Portugal não precisava nada de um novo aeroporto [toda a gente se queixa da Portela e vão continuar a achar que não precisam de um novo aeroporto senão deixavam de se queixar e era uma chatice, lá se ia o desporto nacional].
Meio ano passado, esta questão saiu subitamente da agenda e alguns dos que proclamavam a não necessidade têm agora como argumento preferido as imensas possibilidades de Alcochete. Alcochete asfixiou o debate e, por isso, importa regressar a uma agenda não-redutora, isto é, a uma agenda que tome em conta que um aeroporto é uma infra-estrutura destinada a produzir serviço: serviço às pessoas, às actividades, à vida colectiva, à conectividade do país em termos internacionais. [afinal um aeroporto é mais que um local onde aterram e descolam aviões]
Este argumento, decisivo para quem dê prioridade a uma perspectiva de planeamento e ordenamento do país [planeamento? ordenamento? Mas isso são termos que este povo não entende nem quer perceber], tem tradução fácil numa pergunta igualmente fácil. Onde estão as pessoas que mais usam o transporte aéreo? A resposta só pode ser uma, estão nos meios urbanos, com Lisboa à cabeça, e esses meios estão na margem Norte do Tejo [mas isso implica que os portugueses saibam ler um mapa, o que é uma coisa extremamente difícil, eles nem sabem onde é o Norte ou Sul], desenvolvendo-se no litoral até Coimbra, onde também estão "embutidas" as redes mais densas e acessíveis de mobilidade [mobilidade? é melhor irem ver ao dicionário o que isso quer dizer] (auto-estradas, estradas e vias férreas).
Acresce a isto que a transposição do Tejo para Sul se faz por acessos todos eles concessionados a uma entidade privada, com portagem paga [Ah sim, pois, aquela empresa onde está lá o tal que veio do outro partido que era amigo do outro que saiu há pouco tempo de lá e agora até já faz artigos de opinião para os jornais]. Os custos para os utentes não são difíceis de calcular [3% PIB... seis vezes três dezoito... é fazer a conta].
Há alguma boa razão para que este argumento elementar tenha sido obscurecido? Não sei. Parece, no entanto, claro que a noção de que um aeroporto deve ser sobretudo avaliado como obra de engenharia conseguiu ganhar dianteira [põem engenheiros civis sem experiência em aeronáutica à frente a discutir isso, é o que dá.] .
Quer dizer, se parece assumido que uma localização não é uma decisão de engenharia civil, já não parece tão claro que os cidadãos e as outras disciplinas que contribuem para a fundamentação técnica tenham um direito de cidadania idêntico à da engenharia. Ora, acontece que os números iluminados que ilustram as convicções de alguns engenheiros [da TIS.pt e que se acham muita bons mas não percebem nada de gestão de aeroportos e dizem mal do aeroporto porque o governo não lhes encomendou nenhum estudo milionário sobre a Ota ] (a engenharia tornou-se numa alquimia de números?) têm de ser sujeitos ao escrutínio público [cá em Portugal quando se escrutina uma alternativa, vêm logo dizer que é uma cabala contra eles]. Os custos directos, desde logo.
E, sobre estes, é preciso afirmar que o que tem vindo a ser dito sobre Alcochete não pode tranquilizar os cidadãos e muito menos o poder político. Sabe-se a que cota teriam de ser construídas as pistas em Alcochete, num sítio em que o nível freático está tão perto do solo? [água ao pé do solo em Alcochete! Epá....bom para fazer uma grande piscina!] Não. Sabe-se que trabalhos de deslocação de terra e de compactação têm de ser feitos? [deslocações de terras... onde é que já ouvi isto?]. Não. Sabe-se quanto custa a descontaminação de uma zona de uso militar para poder ter uso civil? Não. Os custos directos estão, pois, longe de serem conhecidos. [mas era porreiro enganar toda a malta em Portugal não era? ]
E os custos indirectos? Já se sabe o que resultaria dessa coisa impensável de um comboio de alta velocidade se fazer em função de um aeroporto, desviando-o do seu serviço principal que é unir rapidamente as duas metrópoles do país e a mancha urbana do litoral. E conhecem-se os custos indirectos de "re-centrar" o país, afastando o aeroporto de quem o usa e dos meios que o complementam? Seguramente que não. [mas era mesmo, mesmo porreiro enganar toda a malta em Portugal não era? ]
É isto que nos faz regressar ao essencial. E o essencial é, aqui, que a decisão de localização continua a ser, felizmente, um assunto de Estado: um assunto de estratégia pública e de estratégia de longo prazo [o problema é que a malta só pensa a curto prazo neste país]. Mal fora, que não fosse. Mal fora que tivéssemos que nos sujeitar à tradicional miopia privada, onde o curto prazo e o lucro próprio (ou mesmo o sobre-lucro!) prevalecem [e é essa a realidade e que explica o atraso face à Europa].
É o serviço que presta e a forma como se entrelaça com as infra-estruturas de acesso já existentes num país concreto que diferencia um aeroporto de um porta-aviões. Se assim não fosse podíamos continuar a jogar à batalha naval... [e vamos continuar a jogar com o futuro deste país... ]Portugal é um país onde se discute MUITO e se faz POUCO!
6 comentários:
Caro DC;
Tb é verdade que
"Portugal é um país onde se discute MUITO e se faz POUCO!"
e onde há excelentes "Treinadores de Bancada"!
Parecendo defender a OTA, é estranho falar-se em níveis freáticos muito perto do solo em Alcochete e omitir que a localização do aeroporto na OTA seria num autêntico pântano... correndo o risco de ser injusto, parece-me mais um texto tendencioso como vem sendo hábito.
Parece-me que só tem escrito sobre este tema quem tem algo a ganhar (ou já ganhou) com o assunto... sejamos imparciais no que dizemos e escrevemos, OK?
Concordo em pleno com o anónimo de cima, um cidadão honesto certamente e de bom senso. De facto andam muitos por ai a querer atentar ao bolso do contribuinte e do pequeno comerciante. Perante tantos factos válidos e coerentes, como é possivel que ainda aja quem queira um aeroporto na OTA? Apenas quem lá tem negócios e comprou terrenos para especular - o especulador imobiliario não interessa ao cidadão contribuinte nem a Portugal.
Caso não saiba, caro Direct Curente, os terrenos de Alcochete são públicos, de Portugal e não custam um chavelho ao erário público.
Não li o seu texto em profundidade, apenas de través, e por isso guardo para mais tarde uma tomada de posição em blog. Mas julgo que quem perceba minimamente deaeronautica concegue compreender pelo chamado "A+B" que a OTA não é solução.~
OTA, ASAE, TGV, RADARES, entre outras vilesas, mais não são do que um atentar por parte dos grandes grupos e interesses economicos contra o já delapidado bolso do contribuinte honesto assim como do pequeno comerciante.
António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade
Existe uma pista da Força Aérea na Ota, no meio desse seu "pântano imaginário". Parece-me que o seu comentário é tendencioso.
Você não está a ser imparcial porque quer restringir a discussão pública a quem ignora, desconhece ou nunca escreveu sobre este assunto. Não gosta da "concorrência", daqueles que têm a coragem de assumir uma posição? Habitue-se, é a vida.
Já alguém se lembrou de pedir a uma entidade estrangeira para fazer um estudo imparcial? É que me parece que cá no burgo, qualquer pessoa que queira fazer um é logo esmagada pelas pressões (e pelo peso do dinheiro que lhe oferecem)...
Experimentem ir à Finlândia pedir a uns analistas que cá venham; esses são difíceis de corromper...
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A humildade é uma qualidade que distingue o homem verdadeiramente sábio.
ego dixit
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