quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um aeroporto não é um porta-aviões

Como se sabe, a decisão sobre a localização do novo aeroporto internacional estava tomada desde 1999. Contudo, um poderoso movimento de influências teve o êxito necessário para reabrir o processo. Foi há pouco mais de seis meses que o "pico" das movimentações se atingiu.

Na altura, a alternativa era Rio Frio ou Poceirão [opção inicial preferida pelo PSD mas que mudou para a Ota quando estava no Governo, depois deixou de apoiar qualquer aeroporto e agora voltou a mudar para Poceirão... pera aí... agora já é Alcochete!] e o caldo de argumentos incluía a própria suposição (ilustrada por sondagens esmagadoras, reveladoras de uma profunda sensibilidade do cidadão médio para a questão da navegação aérea) de que Portugal não precisava nada de um novo aeroporto [toda a gente se queixa da Portela e vão continuar a achar que não precisam de um novo aeroporto senão deixavam de se queixar e era uma chatice, lá se ia o desporto nacional].

Meio ano passado, esta questão saiu subitamente da agenda e alguns dos que proclamavam a não necessidade têm agora como argumento preferido as imensas possibilidades de Alcochete. Alcochete asfixiou o debate e, por isso, importa regressar a uma agenda não-redutora, isto é, a uma agenda que tome em conta que um aeroporto é uma infra-estrutura destinada a produzir serviço: serviço às pessoas, às actividades, à vida colectiva, à conectividade do país em termos internacionais. [afinal um aeroporto é mais que um local onde aterram e descolam aviões]

Este argumento, decisivo para quem dê prioridade a uma perspectiva de planeamento e ordenamento do país [planeamento? ordenamento? Mas isso são termos que este povo não entende nem quer perceber], tem tradução fácil numa pergunta igualmente fácil. Onde estão as pessoas que mais usam o transporte aéreo? A resposta só pode ser uma, estão nos meios urbanos, com Lisboa à cabeça, e esses meios estão na margem Norte do Tejo [mas isso implica que os portugueses saibam ler um mapa, o que é uma coisa extremamente difícil, eles nem sabem onde é o Norte ou Sul], desenvolvendo-se no litoral até Coimbra, onde também estão "embutidas" as redes mais densas e acessíveis de mobilidade [mobilidade? é melhor irem ver ao dicionário o que isso quer dizer] (auto-estradas, estradas e vias férreas).

Acresce a isto que a transposição do Tejo para Sul se faz por acessos todos eles concessionados a uma entidade privada, com portagem paga [Ah sim, pois, aquela empresa onde está lá o tal que veio do outro partido que era amigo do outro que saiu há pouco tempo de lá e agora até já faz artigos de opinião para os jornais]. Os custos para os utentes não são difíceis de calcular [3% PIB... seis vezes três dezoito... é fazer a conta].

Há alguma boa razão para que este argumento elementar tenha sido obscurecido? Não sei. Parece, no entanto, claro que a noção de que um aeroporto deve ser sobretudo avaliado como obra de engenharia conseguiu ganhar dianteira [põem engenheiros civis sem experiência em aeronáutica à frente a discutir isso, é o que dá.] .

Quer dizer, se parece assumido que uma localização não é uma decisão de engenharia civil, já não parece tão claro que os cidadãos e as outras disciplinas que contribuem para a fundamentação técnica tenham um direito de cidadania idêntico à da engenharia. Ora, acontece que os números iluminados que ilustram as convicções de alguns engenheiros [da TIS.pt e que se acham muita bons mas não percebem nada de gestão de aeroportos e dizem mal do aeroporto porque o governo não lhes encomendou nenhum estudo milionário sobre a Ota ] (a engenharia tornou-se numa alquimia de números?) têm de ser sujeitos ao escrutínio público [cá em Portugal quando se escrutina uma alternativa, vêm logo dizer que é uma cabala contra eles]. Os custos directos, desde logo.

E, sobre estes, é preciso afirmar que o que tem vindo a ser dito sobre Alcochete não pode tranquilizar os cidadãos e muito menos o poder político. Sabe-se a que cota teriam de ser construídas as pistas em Alcochete, num sítio em que o nível freático está tão perto do solo? [água ao pé do solo em Alcochete! Epá....bom para fazer uma grande piscina!] Não. Sabe-se que trabalhos de deslocação de terra e de compactação têm de ser feitos? [deslocações de terras... onde é que já ouvi isto?]. Não. Sabe-se quanto custa a descontaminação de uma zona de uso militar para poder ter uso civil? Não. Os custos directos estão, pois, longe de serem conhecidos. [mas era porreiro enganar toda a malta em Portugal não era? ]

E os custos indirectos? Já se sabe o que resultaria dessa coisa impensável de um comboio de alta velocidade se fazer em função de um aeroporto, desviando-o do seu serviço principal que é unir rapidamente as duas metrópoles do país e a mancha urbana do litoral. E conhecem-se os custos indirectos de "re-centrar" o país, afastando o aeroporto de quem o usa e dos meios que o complementam? Seguramente que não. [mas era mesmo, mesmo porreiro enganar toda a malta em Portugal não era? ]

É isto que nos faz regressar ao essencial. E o essencial é, aqui, que a decisão de localização continua a ser, felizmente, um assunto de Estado: um assunto de estratégia pública e de estratégia de longo prazo [o problema é que a malta só pensa a curto prazo neste país]. Mal fora, que não fosse. Mal fora que tivéssemos que nos sujeitar à tradicional miopia privada, onde o curto prazo e o lucro próprio (ou mesmo o sobre-lucro!) prevalecem [e é essa a realidade e que explica o atraso face à Europa].

É o serviço que presta e a forma como se entrelaça com as infra-estruturas de acesso já existentes num país concreto que diferencia um aeroporto de um porta-aviões. Se assim não fosse podíamos continuar a jogar à batalha naval... [e vamos continuar a jogar com o futuro deste país... ]

Portugal é um país onde se discute MUITO e se faz POUCO!

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro DC;

Tb é verdade que

"Portugal é um país onde se discute MUITO e se faz POUCO!"

e onde há excelentes "Treinadores de Bancada"!

Anónimo disse...

Parecendo defender a OTA, é estranho falar-se em níveis freáticos muito perto do solo em Alcochete e omitir que a localização do aeroporto na OTA seria num autêntico pântano... correndo o risco de ser injusto, parece-me mais um texto tendencioso como vem sendo hábito.

Parece-me que só tem escrito sobre este tema quem tem algo a ganhar (ou já ganhou) com o assunto... sejamos imparciais no que dizemos e escrevemos, OK?

antonio manuel bento disse...

Concordo em pleno com o anónimo de cima, um cidadão honesto certamente e de bom senso. De facto andam muitos por ai a querer atentar ao bolso do contribuinte e do pequeno comerciante. Perante tantos factos válidos e coerentes, como é possivel que ainda aja quem queira um aeroporto na OTA? Apenas quem lá tem negócios e comprou terrenos para especular - o especulador imobiliario não interessa ao cidadão contribuinte nem a Portugal.
Caso não saiba, caro Direct Curente, os terrenos de Alcochete são públicos, de Portugal e não custam um chavelho ao erário público.
Não li o seu texto em profundidade, apenas de través, e por isso guardo para mais tarde uma tomada de posição em blog. Mas julgo que quem perceba minimamente deaeronautica concegue compreender pelo chamado "A+B" que a OTA não é solução.~
OTA, ASAE, TGV, RADARES, entre outras vilesas, mais não são do que um atentar por parte dos grandes grupos e interesses economicos contra o já delapidado bolso do contribuinte honesto assim como do pequeno comerciante.

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade

E disse...

Existe uma pista da Força Aérea na Ota, no meio desse seu "pântano imaginário". Parece-me que o seu comentário é tendencioso.

Você não está a ser imparcial porque quer restringir a discussão pública a quem ignora, desconhece ou nunca escreveu sobre este assunto. Não gosta da "concorrência", daqueles que têm a coragem de assumir uma posição? Habitue-se, é a vida.

Anónimo disse...

Já alguém se lembrou de pedir a uma entidade estrangeira para fazer um estudo imparcial? É que me parece que cá no burgo, qualquer pessoa que queira fazer um é logo esmagada pelas pressões (e pelo peso do dinheiro que lhe oferecem)...

Experimentem ir à Finlândia pedir a uns analistas que cá venham; esses são difíceis de corromper...

Unknown disse...

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A humildade é uma qualidade que distingue o homem verdadeiramente sábio.

ego dixit

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