sábado, 19 de abril de 2008

Excesso de álcool destrói vidas em toda a UE

http://ec.europa.eu/news/environment/080416_1_pt.htm

É este tipo de iniciativas e reuniões que a autarquia de Oeiras, melhor promove entre as JUVENTUDES portuguesas.
Os (negócios prósperos) dos bares da Fábrica da Pólvora de Barcarena, são disso «bom exemplo», abertos todas as noites, às portas de uma Universidade ...

Ao invés, no concelho de Oeiras, são perseguidas e afastadas dos destinos sociais e da educação e elevação da cidadania, os munícipes que lutam pela qualificação, pela procura de mais saberes e competências (que não dão dinheiro imediato ... e fácil).

ADADE

[recebido por e-mail]


16 comentários:

Carlos Fragoso Malato disse...

Caríssima,
deixe-me que entre em desacordo TOTAL consigo na observação que faz em relação aos ditos bares.
Ainda bem que a autarquia promove e investe neste tipo de mercado. Estamos num concelho com história, com património a valorizar. Se essas foram as opções por parte de quem investiu o seu dinheiro nos referidos espaços, foi porque de facto havia (e há) mercado para tais iniciativas. Ou preferia ter esses espaços como "nados mortos"?
Quanto à malta da Universidade, um óptimo mercado! Estamos a falar de Jovens já na fase adulta, que sabem bem o que querem para a vida. Saberão com toda a certeza usufruir dos referidos espaços com contra peso e medida. São estudantes Universitários bolas. Mas mais, como deve ser do conhecimento da maioría, a lei obriga a que NENHUM ESTABELECIMENTO comercial venda bebidas alcoólicas (e tabaco - hoje a lei obriga a que as máquinas de tabaco estejam bloqueadas, sendo as mesmas desbloqueadas quando a casa confere se tratar de um adulto) a menores, bem como a pessoas que apresentem estado alterado quer por bebidas acoólicas quer por medicamentação!
Eu no meu espaço faço mesmo cumprir a lei!!!
Neste posted da ADADE só não compreendo mesmo por que raio a Autarquia leva sempre com as culpas???
O civismo e a educação começa no exemplo em casa. E esse é que deveria ser sempre tambem aqui promovido.

Isabel Magalhães disse...

Caríssimo;

Como deve ter reparado o texto não é meu. Tem um autor ao qual deve ser dada a resposta. Chamo também a atenção para o que está expresso na coluna lateral do blog

As informações e opiniões só vinculam os respectivos autores.

Saudações
IM

Anónimo disse...

Caro Senhor Malato,

Deverá estar em desacordo, é com os estudos e as conclusões dos organismos governativos da União europeia. São factos, o que aqui se revela.
São conclusões muito preocupantes, demasiado, para uma civilização, que se eleva, dia após dia. Medidas que Portugal deverá e os portugueses deveriam prosseguir.

A saúde pública, e todas as medidas preventivas que se possam tomar, são preferíveis, nem que isso signifique a interdição de certos espaços de risco. Aliás como agora ocorre com o tabagismo.
Em seguida virão outras medidas, que aliás se fazem sentir, a partir da alimentação aos maus hábitos de vida, dos pouco saudáveis. Isso sim, incluindo os ditos de «nados mortos», para quê, «vivos» se isso incorre em riscos e perigos desnecessários. Até pelo rácio entre ganhos de uns e custos de todos os outros, na saúde individual e até na saúde pública.

A vida não pode ser sentida numa lógica mercantilista, ignóbil e despedida de sentimentos humanos e humanistas.

Leia o que se publica em:

http://ec.europa.eu/news/environment/080416_1_pt.htm

Anónimo disse...

Senhor Malato, discordo de si em absoluto, no caso em concreto o dos espaços verdes da Fábrica da Pólvora de Barcarena, o que se deseja mesmo, é que existam ali lugares despoluídos de tabaco e de álcool e de outras poluições (incluindo a do rio que é um esgoto).

Que sejam mantidos os jardins, a segurança que ali se tornou precária, foi ali que um jovem foi morto, à noite, precisamente por ali haver bares. Até então, só ali tinham morrido, os operários vítimas dos acidentes da fábrica.

Salas de chá e pastelarias, restaurantes acessíveis, em vez de luxo, isso sim, deveria haver mais, e não seriam «nados mortos». Para serem bem desfrutados pelos inúmeros estudantes universitários, e pelos avós, pais e filhos dos imensos munícipes de Sintra e Oeiras que ali convivem, e necessitam estar em paz e tranquilidade.

Os bares não servem nenhuns desses fins sociais, e impõem outros riscos.

É na gestão destas opções sociais e culturais, que as autarquias, tem o seu papel determinante, o da eliminação dos factores de risco, e mais, da promoção do bem-estar social e da qualidade de vida que se tem vindo a perder.

João

Anónimo disse...

Senhor Carlos Malato,

Qualquer organismo que governe, tem de ter em conta este tipo de referências, em que uns querem proteger e outros deixam abamdalhar, veja a seguinte definição:

O consumo perigoso de álcool foi definido como um nível de consumo ou um padrão de consumo
susceptível de ter efeitos nocivos em caso de persistência desses hábitos de consumo (Babor, T.,
Campbell, R., Room, R. & Saunders, J., (1994) Lexicon of Alcohol and Drug Terms, Organização
Mundial da Saúde, Genebra);

Não existe um consenso normalizado relativamente ao nível de consumo a considerar como consumo perigoso de bebidas alcoólicas. O consumo perigoso de bebidas alcoólicas foi definido como «um padrão de consumo de bebidas alcoólicas com consequências nocivas para a saúde, tanto física (por exemplo, a cirrose do fígado) como mental (por exemplo, depressão secundária ao consumo de álcool)» (The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders: Clinical Descriptions and Diagnostic Guidelines. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 1992).

O que lhe parece?

Anónimo disse...

Se a União Europeia, identificou e recomenda medidas (entre muitas outras):

(…) Muitas vezes os jovens são injustamente acusados de provocarem os problemas decorrentes
do álcool, quando são eles as vítimas. Estima-se que o álcool esteja na origem de 16% dos
casos de abuso e negligência de crianças23.

Os padrões nocivos de consumo de álcool entre os jovens não só têm consequências
perniciosas para a saúde e o bem-estar social, como também para os resultados escolares24.
A tendência para o consumo esporádico excessivo continua a acentuar-se junto dos jovens em muitas zonas da UE. Esta situação é exacerbada pelo facto de os jovens menores terem acesso permanente a bebidas alcoólicas. São por isso necessárias outras acções para reduzir o consumo de bebidas alcoólicas pelos menores, bem como os padrões nocivos de consumo de álcool juvenis.

Simultaneamente, os agentes da cadeia de produção e distribuição de bebidas alcoólicas têm participado activamente na aplicação da legislação nacional na maioria dos Estados-Membros e declararam-se disponíveis para desempenhar um papel mais dinâmico no âmbito da aplicação das disposições em vigor e das medidas auto-reguladoras.(…)

Pergunta-se porque motivo deixam proliferar e funcionar esses locais, quando em alternativa ao alcoolismo, pode existir, em vez de dependência do álcool, o mero prazer e o bem-estar de se beber uma bebida quente ou fria, baseada em sumos de frutos, ou efusões de ervas, como um bom chá ou café (doce ou amargo) para todos os gostos, mas sem efeitos sociais nefastos e sobretudo aditivos, que dão lucros a minorias.

Manuela

Anónimo disse...

Há anos, quando eu trabalhava na Central de Cervejas uns jovens pediram a minha intervenção para obterem para uma festa bebidas ao que a empresa anuiu. Quando os jovens foram levantar as grades postas à disposição ficaram desiludidos porque era sem alcool e refrigerantes. Eu dei-lhe do meu consumo 1 (uma) grade de cerveja normal, mas era E MUITO BEM norma da empresa ajudar os jovens a divertirem-se ajuizadamente.
Era bom que todos tivessem estas preocupações.
Clotilde

Anónimo disse...

Clotilde, disse e muito bem.
Obtém-se o mesmo prazer, sem se prejudicar a Nossa e a saúde dos outros, em especial da família e amigos.

O alcoolismo é uma praga, cuja promoção tem de ser irradicada, tal como o tabagismo. É uma questão de civilização.

Quem diria que isso aconteceria com o tabaco, há uns 20 anso atrás?

Em liberdade, que façam as suas (deles) opções, mas sem matar ninguém mais.

Parece-nos ignóbil, despido de sentimentos humanos, ganhar dinheiro, à custa da desgraça alheia. Apenas isso.

E nisso as autaqruias e os governos, bem formados, sem estarem alinhados pelo fio da navalha e da lei, de forma a contornar as regras, podem moral e civicamente, dar conta disso.

Manuela

Unknown disse...

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Ainda não perdi a esperança de ver/ler alguém aqui, dizer alguma coisa fundada no bom senso e racionalidade, ao invés de espúrias afirmações fundamentalistas.


citação do dia:

"A masturbação intelectual tem os dias contados" ass. Grande Irmão

post scriptum: os barretes servem a quem os enfia...

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Anónimo disse...

Tanta ignorância...

Anónimo disse...

Sr. José António,

Do seu ponto de vista, a masturbação, do acto de masturbar, tem os dias contados, da mesma maneira que o género relativo ao entendimento, ou aquilo que refere, das pessoas dadas ao estudo e cultura, a partir do mental estão em fim de existência (intelectuais), só os viciados, dependentes, adictos, poderão subsistir, será isso?

Com efeito eu acho que terá razão, considerando que um consumidor de bebidas alcoólicas, que são agentes inibidores, da capacidade física e mental, bem como da potência sexual, aliás como o próprio tabaco e outras drogas, serão pessoas física, sexual e intelectualmente incapazes.

Para concluir, a diversidade na opinião é salutar (é aquilo que este fórum promove) mas esse tipo de expressões, são preocupantes, do ponto de vista humano e social, faz crer que existe gente cruel em Oeiras (gente que se compraz em fazer mal, em ver sofrer, gente atroz, insensível, dolorosa) capaz de barbaridades, será o caso?

O que está em debate, são as medidas reguladoras, acerca do fenómeno do alcoolismo, que foram, e muito bem, colocadas pela União Europeia (ao menos valha-nos a gestão externa, a estrangeira, de outros países e povos cultos e livres, porque daqui do Portugal e do concelho de Oeiras, apenas nos virá mal (imaginemos) vício e crueldade humana.

São as conclusões, que se poderiam obter dos seus comentários ignóbeis.

Teresa Pintão
(avó de um ex. alcoólico e toxicodependente)

Anónimo disse...

Sr. António,

Com todo o respeito pelos seus pontos de vista. As pessoas que aqui se manifestam, não são cepos, nem animais irracionais.

A preocupação, o terror suscitado pelas suas palavras e conclusões, alarmou.
É triste, ver pessoas tomarem este tipo de posições, populistas, e niveladas por baixo, acerca de um assunto desta natureza social e de saúde pública.

Em boa verdade, o caso é o seguinte - dado que em Portugal no geral, as próprias autarquias «jogam na roleta russa» para explorarem lucros, permitindo a proliferação desse tipo de estabelecimentos, que as crianças, os jovens e a plebe inconsequentemente, consomem de forma extrema (descontrolada ...) veja as zonas marginais em todo o país, em Lisboa, Algarve, Porto, Oeiras e Cascais etc., e até, no interior, ou às portas de uma universidade, casas de promoção do consumo de álcool e tabaco abertas toda a noite (toda a noite, saem de uma para entrar noutra que abre em alternância umas horas depois …às 08:00 da manhã saem jovens dos bares da fábrica da pólvora de Barcarena, um espaço de lazer, museologia e cultura …) com o fim de sacar lucros, baseados nos riscos da saúde desses jovens e outros consumidores. Quando as autarquias, deveriam promover soluções opostas, com natural respeito pela diversidade de posturas e motivações sociais

O que aqui se colocou foi a definição desse limite, que no caso do álcool como se sabe, não existe, como no de outras drogas. Os resultados estão à vista, o preocupante, é verificar que, enquanto a Lei restringe consumos, outros vendem-nos e promovem-nos, nos festivais de cervejas e rock, ou nos bares que induzem as juventudes ao consumo e com isso, derivam depois, de experiência em experiência, à adição das drogas de todo o tipo, acabando nas extremas.

Tanto mais grave é a situação social que daqui advém, onde os factores do desemprego, das famílias destruturadas, levam os jovens a refugiar, nalguns casos, nesses estilos de vida extrema e perigosa, com custos no consumo, seja de tabaco e álcool, excessivos para a sua precariedade económica (desemprego, dependência dos pais e família, etc.). Sem referir, as resultantes para a saúde, cancro, etc.. que depois os hospitais públicos terão de resolver, veja o caos em termos de ecologia económica que daqui resulta.

Que raio, falamos de povos civilizados (não de bárbaros) quando hoje já existem tantos riscos e coisas mal feitas, porque haveremos de promover e sustentar mais riscos, sem necessidade.

Já que aqui neste canteiro, não se faz nada, na União Europeia tomam-se medidas:

A União Europeia tem competência e responsabilidades em matéria de questões de saúde
pública tais como os padrões nocivos e perigosos de consumo do álcool, nos termos do artigo 152.° do Tratado. Além disso, o Tribunal de Justiça Europeu reiterou inúmeras vezes que combater os efeitos nocivos do álcool é um objectivo de saúde pública pertinente e importante.

Nota: Processo Franzen (C-189/95), processo Heinonen (C-394/97), processo Gourmet (C-405/98), Catalonia (C-190 e C-179/90), Loi Evin (C-262/02 e C-429/02).

Unknown disse...

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Acabo de descobrir que o 'mau da fita' sou eu. :)
Eu e os bares, as festas, o tabaco, a droga e afins e etecéteras...

Continuem a 'tapar o Sol com a peneira'...
Continuem a culpar a pistola e não o dedo...
Continuem a responsabilizar o objecto e não a pessoa...

Ainda ninguém aqui disse o essencial.

A repressão e as proibições nunca na História foram solução para coisa nenhuma.
Veja-se o exemplo das estradas. Por mais que se reprima e proiba, por mais leis e regras que se façam, as mortes continuam a aumentar.

A natureza destes ( todos ) problemas é 'cultural' e educacional.
É esse o caminho. O resto é uma perda de tempo.

Post scriptum: Podem fazer da minha pessoa 'saco de boxe' à vontade, para descarregarem a vossa raiva e frustrações. Alguém tem que fazer esse papel e eu, com tudo o que já passei na minha infra-vida, fiquei com as costas largas, não levo a mal e sei o quanto isso ( ter onde descarregar ) pode ser importante para o equilíbrio psicológico das pessoas.

NISI CREDIDERITIS NON INTELLIGETIS - Sto. Agostinho ( 354-430 )

I rest my case.

josé antónio
( um anacoreta que viu morrer dezenas de amigos, colegas, camaradas e familiares por via da droga e do álcool )

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Anónimo disse...

José António,

A natureza destes e de todos os problemas da humanidade é material e económica, é cultural, é civilizacional, é educacional, estamos todos de acordo.

Não se reprimindo, como fazem alguns governantes e até autarcas prepotentes, mas educando e sensibilizando, regulando, no campo legal, é uma contribuição para a educação, capaz de promover mudanças.

Quem imaginaria que a nova lei do tabaco, pudesse vir a acontecer há 5 ou mesmo 20 anos atrás, ninguém? Era previsível, numa lógica de saúde pública.

Quem quiser fumar, fume, mas que o faça sozinho, tem a liberdade de escolher, é uma opção pessoal.

Quando à droga e ou ao álcool, a coisa é diferente, pelos efeitos inibidores que impõe no organismo humano, mas pode ser controlada de forma mais eficaz.

Um alcoolizado a conduzir um veículo, pode produzir efeitos diferentes dos do indivíduo que fuma. Logo as medidas terão de ser mais restritivas, tem é de se regular e educar.

Quando eu era estudante, era o próprio indivíduo da cantina da escola que nos vendia os cigarros, a 2 tostões cada um, eu tinha 11 anos, outros tempos, esse gajo (hoje era um criminoso, à luz da lei) hoje iria para uma cadeia, sem apelo nem agravo. Viciou no tabaco (e quem sabe se depois … no álcool e na droga) centenas ou mesmo milhares de crianças como eu. Ainda é vivo, era um ganancioso, havido de dinheiro fácil, penso que nem tinha a consciência daquilo que nos estava a fazer. Eu fui mais forte e os outros miúdos terão sido também, não sei?

Se fosse cocaína ou outra coisa, eu hoje era um gajo agarrado. De quem era a culpa?

Para que saiba não fumo nem bebo, ou melhor, eu fumo e bebo, mas quando eu quero, de forma social, uma ou duas ou mesmo três vezes por ano ou simplesmente nenhuma.

Só o Salazar me colocou a fumar, em África, durante a guerra colonial, mas depois disso, tive a capacidade e a força de vontade de deixar de fumar, de um dia para o outro. Nenhum vício me domina. Porque tenho a educação e a disciplina necessária, de não me deixar dominar.

Não se trata de fazer de si ou de quem quer que seja, «bumbo» de nada.

Trata de apreciar assuntos, e de exigir medidas de regulação (dos nossos medíocres políticos e até de governantes cheios de compromissos …), exigir medidas capazes de tornar a nossa civilização mais justa, e mais saudável, com todos os riscos que temos à Nossa volta, e não são nem poucos nem pequenos, para quê mais desafios dessa ordem.

Um abraço,

Pedro

Unknown disse...

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CÂNTICO NEGRO

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio (1901-1969)


E este


PRIMEIRO LEVARAM OS COMUNISTAS,
MAS EU NÃO ME IMPORTEI
PORQUE NÃO ERA NADA COMIGO.

EM SEGUIDA LEVARAM ALGUNS OPERÁRIOS,
MAS A MIM NÃO ME AFECTOU
PORQUE NÃO SOU OPERÁRIO.

DEPOIS PRENDERAM OS SINDICALISTAS,
MAS EU NÃO ME INCOMODEI
PORQUE NUNCA FUI SINDICALISTA.

LOGO A SEGUIR CHEGOU A VEZ DE ALGUNS PADRES, MAS COMO
NÃO SOU RELIGIOSO, TAMBÉM
NÃO LIGUEI.

AGORA LEVARAM-ME A MIM
E QUANDO PERCEBI,
JÁ ERA TARDE.

Bertolt Brecht (1898-1956)


Abraços

.

Anónimo disse...

PRIMEIRO ALCOOLIZARAM OS MEUS AVÓS,
NÃO LHES DAVAM SALÁRIOS,
NÃO TINHAM COMIDA, NEM CASA,
EU VI, MAS NÃO ME IMPORTEI
NÃO ERA NADA COMIGO,
NÃO TINHA CONSCIÊNCIA.

EM SEGUIDA OS JOVENS EMBRIEGAVAM-SE,
MAS A MIM NÃO ME AFECTOU
PORQUE NÃO ÍA AOS BARES.

DEPOIS PRENDERAM OS DROGADOS E ALCOOLIZADOS,
PORQUE ERAM ADITIVOS,
E PARA SE MANTEREM TINHAM DE ROUBAR,
MAS EU NÃO ME INCOMODEI
PORQUE NUNCA FUI DROGADO.

LOGO A SEGUIR AS PESSOAS ANDAVAM INSANAS,
ADORMECIDAS COM COMPRIMIDOS,
VIVAM NA SOLIDÃO,
SÓ ENTÃO DESCOBRI,
QUE ATENTADOS E OUTRAS VIDAS NOS IMPUNHAM,
VIVIAMOS EM GUETOS DE BETÃO,
IMPUNHAM ESTRANHOS ESTILOS DE VIDA,
DE ESCRAVIDÃO, SEM HORÁRIOS DE TRABALHO,
SEM HORAS PARA REFEIÇÕES,
É O MUNDO QUE DIZEM MODERNO,
DO FAST FOOD,
DOS HOMENS E MULHERES SEM FILHOS,
DOS CARTÕES DE CRÉDITO, DO ENDIVIDAMENTO À BANCA
ENTÃO COMEÇEI A LIGAR.

(Joaquim Sena 1915-2008)