"PONTOS DE VISTA
CONTROVERSA UTILIZAÇÃO - IV
Sob o ponto de vista da salvaguarda do património, ainda não se conhecem elementos suficientes que permitam efectuar uma avaliação do resultado da conversão do palácio dos Arcos em hotel de charme. Sabe-se apenas que virá a sofrer o processo de “adaptação […] a uma unidade hoteleira”, na sequência da “atribuição do direito de exploração […], mediante a constituição do direito de superfície sobre o edifício, de forma a ser construída […] uma unidade hoteleira”. Embora se fale neste trecho em construção, noutro passo afirma-se que o projecto deve prever para o palácio a instalação do “núcleo central de serviços do futuro hotel”, o que, decerto, implicará também mexidas no seu interior.
Perante esta aparente contradição, em que ficamos: vai haver alterações profundas ou pontuais? E em que extensão?
Surpreende-nos que se fale em construção ou adaptação, sem se conhecer a estrutura do edifício. Já se fizeram sondagens? Já se estudou o edifício de forma a localizar-se o seu embrião e as suas estruturas de expansão?
E não se pense que estamos a ponderar sobre rigorosas minudências. Temos somente em mente a salvaguarda deste importante elemento do património histórico e arquitectónico. Temos em consideração que o palácio dos Arcos constitui o mais ou um dos mais antigos edifícios do concelho de Oeiras. Encontrámos registo documental que comprova a sua existência já em 1437! Não é, portanto, um imóvel qualquer, uma mera banalidade! Parece-nos que os decisores autárquicos desconhecem esta realidade e o subido valor que está em causa. Como se poderá encontrar a correcta solução para um problema, quando não se ponderam todas as premissas?
O certo é que sobre o palácio dos Arcos, não obstante os valiosos contributos que Rogério de Oliveira Gonçalves deu no seu ingente estudo, muito ainda há para elucidar. Lamentamos, a este propósito, que a câmara, em cerca de uma década, desde que é proprietária deste imóvel, não tenha avançado com a investigação histórica acerca do que até já era seu. Mas esta é também a situação que acontece com o conjunto que tem como centro o palácio Pombal - o único monumento nacional situado no concelho!...
Neste contexto, parece-nos que só se poderá decidir o tipo de utilização e de intervenção a efectuar depois de se conhecerem o manancial histórico a montante e a natureza das sucessivas fases construtivas, isto é, conhecer o “corpo” e a “alma” do edifício.
Mas outro óbice ainda se coloca: ponderou-se o inconveniente de não se poder intervir sobre a totalidade do imóvel, uma vez que o primeiro piso, também por vontade do testador, encontra-se ocupado por um seu ex-empregado? O palácio deve ter sido concebido como um todo orgânico.
Jorge Miranda
(jorge.o.miranda@gmail.com)"
CONTROVERSA UTILIZAÇÃO - IV
Sob o ponto de vista da salvaguarda do património, ainda não se conhecem elementos suficientes que permitam efectuar uma avaliação do resultado da conversão do palácio dos Arcos em hotel de charme. Sabe-se apenas que virá a sofrer o processo de “adaptação […] a uma unidade hoteleira”, na sequência da “atribuição do direito de exploração […], mediante a constituição do direito de superfície sobre o edifício, de forma a ser construída […] uma unidade hoteleira”. Embora se fale neste trecho em construção, noutro passo afirma-se que o projecto deve prever para o palácio a instalação do “núcleo central de serviços do futuro hotel”, o que, decerto, implicará também mexidas no seu interior.
Perante esta aparente contradição, em que ficamos: vai haver alterações profundas ou pontuais? E em que extensão?
Surpreende-nos que se fale em construção ou adaptação, sem se conhecer a estrutura do edifício. Já se fizeram sondagens? Já se estudou o edifício de forma a localizar-se o seu embrião e as suas estruturas de expansão?
E não se pense que estamos a ponderar sobre rigorosas minudências. Temos somente em mente a salvaguarda deste importante elemento do património histórico e arquitectónico. Temos em consideração que o palácio dos Arcos constitui o mais ou um dos mais antigos edifícios do concelho de Oeiras. Encontrámos registo documental que comprova a sua existência já em 1437! Não é, portanto, um imóvel qualquer, uma mera banalidade! Parece-nos que os decisores autárquicos desconhecem esta realidade e o subido valor que está em causa. Como se poderá encontrar a correcta solução para um problema, quando não se ponderam todas as premissas?
O certo é que sobre o palácio dos Arcos, não obstante os valiosos contributos que Rogério de Oliveira Gonçalves deu no seu ingente estudo, muito ainda há para elucidar. Lamentamos, a este propósito, que a câmara, em cerca de uma década, desde que é proprietária deste imóvel, não tenha avançado com a investigação histórica acerca do que até já era seu. Mas esta é também a situação que acontece com o conjunto que tem como centro o palácio Pombal - o único monumento nacional situado no concelho!...
Neste contexto, parece-nos que só se poderá decidir o tipo de utilização e de intervenção a efectuar depois de se conhecerem o manancial histórico a montante e a natureza das sucessivas fases construtivas, isto é, conhecer o “corpo” e a “alma” do edifício.
Mas outro óbice ainda se coloca: ponderou-se o inconveniente de não se poder intervir sobre a totalidade do imóvel, uma vez que o primeiro piso, também por vontade do testador, encontra-se ocupado por um seu ex-empregado? O palácio deve ter sido concebido como um todo orgânico.
Jorge Miranda
(jorge.o.miranda@gmail.com)"
Com os agradecimentos ao autor e ao Jornal da Costa do Sol
1 comentário:
Mais um artigo do Jorge Miranda com a serenidade e clareza que lhe são habituais e de que me permito destacar o seguinte pela importância de que se reveste;
"Encontrámos registo documental que comprova a sua existência já em 1437! Não é, portanto, um imóvel qualquer, uma mera banalidade! Parece-nos que os decisores autárquicos desconhecem esta realidade e o subido valor que está em causa. Como se poderá encontrar a correcta solução para um problema, quando não se ponderam todas as premissas?"
Fica a pergunta.
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