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O Núcleo de Almada da Amnistia Internacional divulgou há uns meses, no seu blogue, um texto de Diana Andringa sobre Julieta Gandra, personagem publicamente quase desconhecida em Portugal, mas que tendo sido adoptada como prisioneira de consciência pela AI, e declarada mesmo Prisioneiro do Ano em 1964, mobilizou a atenção e a solidariedade internacional como uma das vítimas da ditadura salazarista.
A Julieta Gandra, para além da riquíssima actividade que sempre desenvolveu e da sua enorme qualidade humana, reconhecidos por quem a conheceu, foi mais um daqueles milhares de obscuros Prisioneiros Esquecidos, de que falava Peter Benenson, a quem devemos a Liberdade e Solidariedade.
No momento da morte da Julieta Gandra, vale a pena recuperar esse texto, que ajuda a perceber, ou a relembrar, como era a "justiça" daqueles tempos.
http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/2007/06/julieta-gandra-conspiradora-de-esperana.html
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A MORTE DE JULIETA GANDRA NÃO FOI NOTÍCIA
Não foi notícia, na comunicação social portuguesas a morte de Julieta Gandra, a médica portuguesa incriminada pela PIDE em 1959 e condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno, o chamado "processo dos cinquenta" onde a par de muitos militantes angolanos figuravam alguns portugueses como António Veloso, Calazans Duarte e Julieta Gandra, que foram deportados para cadeias em Portugal, tendo os angolanos sido deportados para Cabo Verde, onde ficaram internados no campo de concentração do Tarrafal que assim reabria as suas portas em 1960, agora para outros presos políticos, os angolanos.
O falecimento de Julieta Gandra não foi notícia para jornais, rádios ou televisões de Portugal. Apenas a SIC passou em rodapé uma breve informação. Outras pessoas, alguma de bem menor envergadura que J.Gandra preencheram o obituário da comunicação social portuguesa.
Nos anos 50 do século XX, Julieta Gandra, ginecologista (especialidade raríssima na Luanda de então) atendia no seu consultório da Baixa as clientes da sociedade colonial, tirando daí os seus proventos, e, nos musseques, atendia em modesto consultório, a preço simbólico, as mulheres desses bairros suburbanos. Simultaneamente participava em actividades do Cine-Clube e da Sociedade Cultural de Angola realizando também actividade política em organização clandestina do nacionalismo angolano. Por isso foi presa pela polícia do regime salazarista, condenada a pesada pena de prisão, internada em cadeias de Portugal. Quer nos interrogatórios da PIDE, quer nas cadeias, portou-se com uma dignidade exemplar. Em 1964 foi considerada a presa do ano pela Amnistia Internacional.
Esta breve resenha da vida cívica de Julieta Gandra cabia em qualquer jornal ou bloco informativo de rádio ou televisão mas os profissionais da comunicação social, sem brio nem remorsos, omitem uma curta e última referência a esta médica portuguesa que foi marco na luta pela liberdade da Mulher e dos Povos.
Lisboa, 10 de Outubro de 2007
Adolfo Maria
recebido por e-mail
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2 comentários:
Uma pequena nota em rodapé também foi tudo o que vi.
Lamenta-se!
essas notícias não vendem papel nem aumentam a share...
football, raptos, assassínios, tiros, corrupção, loas ao sócretino é que está a dar, minha gente.
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