quinta-feira, 19 de março de 2009

Habla usted portunhol?

Opinião








Habla usted portunhol?

Já é constrangimento o sentimento dominante de quem tem que falar do actual Ministério da Educação. Lurdes Rodrigues e a sua inimaginável dupla de secretários de Estado, mais a famosa DREN, tornaram-se, com efeito, uma verdadeira mina para os jornais e para o anedotário educativo. E cronistas pouco imaginosos como eu têm a estrita obrigação de, no final do seu mandato, lhes deixar uma eternamente grata coroa de flores no assento etéreo onde subam (ou desçam, pois não se vê que possam subir mais, mesmo num Governo PS).

Agora é o secretário Valter Lemos substituindo-se às universidades e "profissionalizando" como professor de Espanhol qualquer diplomado em outro curso de línguas (e até em Antropologia ou Sociologia…) que se disponha a receber umas luzes de Espanhol simplex tipo Novas Oportunidades, talvez até por correspondência ou, quem sabe?, por fax. De uma penada, e por portaria, o secretário de Estado revoga o decreto-lei 43/2007 e a propalada "exigência" na formação dos professores e contribui para o enriquecimento curricular do Básico e Secundário com mais uma disciplina, o Portunhol.

9 comentários:

Unknown disse...

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Palavras (sérias) para quê?

Há muito que este governo, e em especial este PM e esta Ministra cairam no mais obsceno ridículo.

Só dá mesmo é para gozar...

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Isabel Magalhães disse...

(...) "profissionalizando" como professor de Espanhol qualquer diplomado em outro curso de línguas (e até em Antropologia ou Sociologia…) que se disponha a receber umas luzes de Espanhol simplex tipo Novas Oportunidades, (...)

Isto é demasiado mau para ser verdade!

Clotilde Moreira disse...

Estes três da vida airada do ME deviam ser obrigados a fazerem exame público das "competências". E também do seu grau de demência...
Clotilde

AFS disse...

Bem, apesar de não ter encontrado na tal portaria a referência a Sociologia ou Antropologia (de onde apareceu?), é óbvio que continua a não ser uma medida ideal.

Contudo, o Instituto Cervantes também não é um "Novas Oportunidades", e "umas luzes" de Espanhol não será com certeza o nível mais avançado (o que é pedido na mesma portaria) nem a variante de Espanhol de um curso superior (idem).

Mais uma vez, não é a situação ideal. Mas também não vai dar aulas de Espanhol qualquer pessoa. Terá de ser professor de Português / Línguas Estrangeiras, com um certificado do nível mais avançado do Instituto Cervantes ou variante de Espanhol no curso superior já feito.

O trio maravilha merece que se bata, tantas são as asneiras, mas desta vez... desta vez, não me parece assim tão grave, como medida transitória.

Pior são, por exemplo, os definitivos mestrados em Ensino de História e Geografia (assim, juntas). Não consigo perceber se alguém sairá de lá a saber qualquer uma dessas ciências... Mas isso fica para mais tarde.

Isabel Magalhães disse...

AFS;

Bom dia!

Sem dúvida que o Instituto Cervantes é uma garantia de qualidade.

O que eu questiono - sem ter lido a lei - é quanto tempo devem os licenciados em línguas frequentar as tais aulas de Espanhol para poderem leccionar a disciplina, daí, talvez, a alusão do autor às "Novas Oportunidades".

No British Council (Instituto Britânico) são necessários 8 anos de estudo, de três trimestres/ano, para se poder candidatar ao exame final "Certificate of Proficiency in English - CPE" exame esse que tem uma duração de quase 6 horas na totalidade das três provas - escrita, audio-visual e entrevista.

Na década de 80 o aproveitamento no exame a nível mundial, i.e. em todos os países que têm delegações do Instituto Britânico, saldava-se numa percentagem bastante baixa (um pouco mais no caso de Portugal devido ao "nosso" jeito para línguas e ao facto de os filmes estrangeiros não serem dobrados) e daqui se avalia a dificuldade do exame que confere o "Certificado de Proficiência em Inglês".

Nesta avaliação o factor "sorte" é minimamente significativo dado que o exame incide sobre TODA a matéria dada ao longo dos 8 anos.

Anónimo disse...

Para a informação ser bem dada a sra Isabel devia ter telefonado para o Instituto Espanhol.

AFS disse...

Isabel,

Tem razão, eu 'levei' a referência às Novas Oportunidades para o facilitismo e não para o factor temporal. Mesmo assim, fui reler a portaria, cujo excerto passo a transcrever:

«Artigo 2.º
Habilitação Profissional

São considerados como titulares de habilitação profissional para o grupo de recrutamento de Espanhol (código de recrutamento 350) os docentes que se encontrem numa das seguintes situações:

a) sejam portadores de qualificação profissional numa Língua Estrangeira e/ou Português (códigos de recrutamento 200, 210, 220, 300, 310, 320, 330 e 340) e do Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (DELE), outorgado pelo Instituto Cervantes, correspondente ao nível C2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas e obtido até ao final do ano lectivo de 2010-2011;»

Não sei quanto tempo é necessário para ficar com a referida qualificação, mas pela referência a 2011 na portaria, serão menos de 2 anos. Não sei se é ou não suficiente, mas, mais uma vez, é uma entidade independente do ME a responsável pelo processo, o que me dá um certo descanso.

AFS disse...

Acrescento o link:

http://www.dgrhe.min-edu.pt/Portal/WebForms/Docentes/PDF/habilitacoes/Portaria%20das%20habilitações%20Espanhol.PDF

Isabel Magalhães disse...

AFS;

Obrigada por mais esta informação.
Dois anos (mal 'medidos') parece-me manifestamente pouco para aprender
'proficientemente' uma língua estrangeira e adquirir conhecimentos para a poder leccionar mas, o sr secretário de estado da educação é suposto saber o que faz.
Sobre os módulos e a sua duração pouco sei nem sei que nível de espanhol podem leccionar os detentores do tal 'C2 Europeu'. Numa rápida pesquisa no site do 'Cervantes' vi referência a módulos de 60 horas...

Aproveito para fazer uma ressalva ao meu comentário anterior. Quando escrevo
'Na década de 80 o aproveitamento no exame a nível mundial, i.e. em todos os países que têm delegações do Instituto Britânico, saldava-se numa percentagem bastante baixa' faltou mencionar que me referia aos alunos que conseguiam ter a nota máxima, 'A', equivalente a 18/20.