segunda-feira, 30 de março de 2009

Perguntas

Opinião





JN - 30 Março 2009
00h00m

Porque é que o cidadão José Sócrates ainda não foi constituído arguido no processo Freeport? Porque é que Charles Smith e Manuel Pedro foram constituídos arguidos e José Sócrates não foi? Como é que, estando o epicentro de todo o caso situado num despacho de aprovação exarado no Ministério de Sócrates, ainda ninguém desse Ministério foi constituído arguido? Como é que, havendo suspeitas de irregularidades num Ministério tutelado por José Sócrates, ele não está sequer a ser objecto de investigação? Com que fundamento é que o procurador-geral da República passa atestados públicos de inocência ao primeiro-ministro? Como é que pode garantir essa inocência se o primeiro-ministro não foi nem está a ser investigado? Como é possível não ser necessário investigar José Sócrates se as dúvidas se centram em áreas da sua responsabilidade directa? Como é possível não o investigar face a todos os indícios já conhecidos? Que pressões estão a ser feitas sobre os magistrados do Ministério Público que trabalham no caso Freeport? A quem é que o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público se está a referir? Se, como dizem, o estatuto de arguido protege quem o recebe, porque é José Sócrates não é objecto dessa protecção institucional? Será que face ao conjunto de elementos insofismáveis e já públicos qualquer outro cidadão não teria já sido constituído arguido? Haverá duas justiças? Será que qualquer outro cidadão não estaria já a ser investigado? Como é que as embaixadas em Lisboa estarão a informar os seus governos sobre o caso Freeport? O que é que dirão do primeiro-ministro de Portugal? O que é que dirão da justiça em Portugal? O que é que estarão a dizer de Portugal? Que efeito estará tudo isto a ter na respeitabilidade do país? Que efeitos terá um Primeiro-ministro na situação de José Sócrates no rating de confiança financeira da República Portuguesa? Quantos pontos a mais de juros é que nos estão a cobrar devido à desconfiança que isto inspira lá fora? E cá dentro também? Que efeitos terá um caso como o Freeport na auto-estima dos portugueses? Quanto é que nos vai custar o caso Freeport? Será que havia ambiente para serem trocados favores por dinheiros no Ministério que José Sócrates tutelou? Se não havia, porque é que José Sócrates, como a lei o prevê, não se constitui assistente no processo Freeport para, com o seu conhecimento único dos factos, ajudar o Ministério Público a levar a investigação a bom termo? Como é que a TVI conseguiu a gravação da conversa sobre o Freeport? Quem é que no Reino Unido está tão ultrajado e zangado com Sócrates para a divulgar? E em Portugal, porque é que a Procuradoria-Geral da República ignorou a gravação quando lhe foi apresentada? E o que é que vai fazer agora que o registo é público? Porque é que o presidente da República não se pronuncia sobre isto? Nem convoca o Conselho de Estado? Como é que, a meio de um processo de investigação jornalística, a ERC se atreve a admoestar a informação da TVI anunciando que a tem sob olho? Será que José Sócrates entendeu que a imensa vaia que levou no CCB na sexta à noite não foi só por ter feito atrasar meia hora o início da ópera?

Nota: O Director de Informação da Antena 1 fez publicar neste jornal uma resposta à minha crítica ao anúncio contra as manifestações sindicais que a estação pública transmitiu. É um direito que lhe assiste. O Direito de Resposta é o filho querido dessa mãe de todas as liberdades que é a Liberdade de Expressão. Bem-haja o jornal que tão elevadamente respeita esse valor. É uma honra escrever aqui.

5 comentários:

Oeiras disse...

O Mário Crespo pode ter razão em tudo o que aqui pergunta, mas fá-lo duma forma que revela ainda acreditar no Pai Natal e que o mundo andaria para a frente se fôssemos todos bonzinhos...

"fôssemos" ainda leva acento circunflexo, não leva?

Isabel Magalhães disse...

Nem é preciso acompanhar os artigos e as entrevistas com muita atenção para perceber que o Mário Crespo será tudo menos crédulo.
Há é ainda - felizmente - pessoas que têm esperança num futuro melhor, com gente menos corrupta, com menos compadrio, com uma Justiça que funcione. E, basta que a Justiça funcione - de preferência atempadamente - para que o ar do país se torne mais 'respirável'.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Exactamente. É preciso não desistir.

Por essas e outras, no passado sábado, em Alcobaça, foi fundado o MOVIMENTO PARA A DEMOCRACIA DIRECTA, que pretende contribuir para que a política em Portugal se torne de tal modo menos opaca e pouco séria que passe a ser possível sonhar com o dia em que possamos rever-nos em regime verdadeiramente democrático e não já neste arremedo de democracia que mais não é do que uma palhaçada de mau gosto.

Os cidadãos não podem permanecer de braços caídos, maldizendo a sua sorte. Têm que sair da letargia e forçar a transparência, a honestidade na política portuguesa, na sociedade portuguesa.


É chegada a hora. A acção não pode ser adiada.

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Bom dia, Ruben;

Agradeço a informação que partilhou connosco.

Abraço

I.

Rui Freitas disse...

É por HOMENS como este, que me orgulho de possuir Carteira Profissional de JORNALISTA, profissão que, não exercendo actualmente, me apaixonou precisamente pelo fim último de poder escrever a VERDADE.
Lembro ao Oeiras que o entendo, mas eu também ainda acredito no Pai Natal, no sentido em que acredito (mesmo desmoralizado) que Portugal pode ser um PAÍS sério e a SÉRIO!