domingo, 22 de março de 2009

Inveja social e passo trocado

Opinião






JN - 00h30m
É muito velha (já tem barbas…) aquela anedota do casal que vai um dia à grande cidade, descendo do alto da sua tranquila aldeia para assistir ao juramento de bandeira do adorado filho. Perante o garboso pelotão que desfilava na parada ao ritmo do clássico "esquerda, direita, um, dois", ao embevecido pai não escapou o facto de o filhote seguir com um passo diferente do dos camaradas. E foi, então, que disse: "Estás a ver, Rosa, como o nosso Manel é o único que leva o passo certo?".

Foi também assim (tem sido sempre assim) no Parlamento, em mais uma das inúteis sessões com o primeiro-ministro: entre o passo dele e o passo das oposições não existe a menor harmonia. Nem pode existir - porque não falam, elas e ele, do mesmo país.

Para Sócrates, no jeito com que se esquiva às questões, tudo são "medidas que nunca ninguém tomou", ou "os melhores resultados da história democrática", ou, em momentos de inusitada modéstia, "resultados superiores aos do anterior governo". Quando não chega, é o "bota-abaixismo". Em muitos casos, as mesmas medidas tinham sido rotuladas como manifesta "irresponsabilidade e leviandade" (e por isso recusadas) na ocasião em que, aí um mês antes, haviam sido propostas por partidos da Oposição… Bem pode o patriarca Mário Soares, incomodado (finalmente!) com o estilo, aconselhar diálogo: não ganha nada com isso.

Às vezes, porém, e de onde menos se espera, sai a voz da dissonância. É raro, pois, além da fidelidade de Santos Silva, até já Teixeira dos Santos abdicou das sabedorias próprias de um economista. Mas acontece. Se calhar por simples distracção, nada das ideias sólidas de um Manuel Alegre, muito longe disso!

Ora, aconteceu, vejam bem, com Mário Lino. Tinha Sócrates acabado de chamar "invejoso social" a um deputado que se atreveu a pedir moderação nos salários dos gestores das empresas que usam o nosso dinheiro e logo veio o ministro do "jamé" anunciar que já havia dado indicações nesse sentido às de sua tutela…

Digam-me lá se este não é um preocupante caso de passo trocado!

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