sexta-feira, 4 de abril de 2008



Acordo Ortográfico: Vasco Graça Moura afirma que "é um acto cívico batermo-nos contra"
03 de Abril de 2008, 19:46

Lisboa, 03 Abr (Lusa) - O escritor Vasco Graça Moura disse hoje que "é um acto cívico batermo-nos contra o Acordo Ortográfico", que qualificou de "inconstitucional".

O escritor e eurodeputado, que falava na Livraria Byblos em Lisboa a convite da Associação Portuguesa de Editores (APEL) e Livreiros e da União de Editores Portugueses (UEP), disse que "o acordo não leva a unidade nenhuma" e antes de qualquer ratificação havia que chegar a um vocabulário técnico-científico comum.

Graça Moura disse que ratificar este Acordo era inconstitucional pois "não se pode aplicar na ordem interna um instrumento que não está aceite internacionalmente" e nem assegura "a defesa da língua como património, como prevê a Constituição nos artigos 9º e 68º".

Vasco Graça Moura considerou o Governo "irresponsável", acusando-o de agir apressadamente" e de ter mentido ao afirmar que consultou a Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (que não existe), e mesmo querendo referir-se á APEL - disse - não o fez.

"O Governo não consultou nem a APEL nem a UEP, por isso está a mentir", acrescentou.

Por outro lado, o autor de "Sonetos familiares" afirmou que "se quer impor o Acordo de qualquer maneira, pela lei do mais forte", tendo afirmado que "somos condóminos da língua" e "não podemos ver-nos como 10 milhões contra 200 milhões, nós somos pelo menos 40 milhões, e diferenças são inevitáveis".

Graça Moura, que ao longo da palestra citou vários linguistas e historiadores da Cultura, afirmou que "para este Acordo não foi tida em conta as pronúncias africanas".

Segundo enfatizou, no caso do Acordo há duas Academias, a brasileira e a portuguesa, a dialogar entre si, enquanto do lado africano são representantes dos respectivos Governos, "para não falar do simbolismo de Goa e Macau".

No caso dos países africanos, disse, "a língua portuguesa é um caso de identidade nacional, num território onde proliferam outras línguas, para não referir da fragilidade da alfabetização do português nesses países".

Por outro lado, acrescentou, o Governo nem consultou pareceres anteriores, nomeadamente os das direcções dos ensinos básico e secundário que em 1986 "manifestaram-se contra o Acordo".
O escritor lembrou ainda que nessa altura "houve uma forte contestação de toda a sociedade ao Acordo que é o mesmo que agora querem ratificar".

Graça Moura criticou ainda "o silêncio, no matéria tão crucial como esta, a que se remeteu a actual ministra da Educação", Maria de Lurdes Rodrigues.

Entre a audiência estava a ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, que lembrou "que o Governo herdou uma situação, nomeadamente o facto de o executivo anterior ter assinado, em 2004, o Segundo Protocolo Modificativo que previa a entrada em vigor do Acordo caso três países, o ratificassem o que veio a acontecer em 2007.

"O actual Governo ficou com uma criança nos braços que se começa a mexer quando em 2007 Cabo Verde ratifica o acordo", disse a actual deputada do PS. (Brasil e São Tomé e Principe foram os outros países que já ratificaram o acordo).

Pires Lima afirmou que não acredita em pressões económicas, nomeadamente portuguesas, para a ratificação do Acordo e lembrou que a sua adopção "também não foi assim tão pacífica no Brasil".

A ex-ministra, reputada especialista na obra literária de Eça de Queiroz, disse que não tem "nem muito nem pouco entusiasmo pelo Acordo", mas também não participa "nas cruzadas pró ou contra".

Isabel Pires de Lima que afirmou fazer uma "leitura idêntica" à de Graça Moura e concordou com o conferencista quanto "ao perigo que representa se um país ou dois, ou três, colocarem em prática o acordo".

"Há o perigo de criar uma fractura caso um país ou um pequeno grupo coloque em prática o Acordo", disse Graça Moura.

Zita Seabra, deputada do PSD e editora, falou da sua experiência, nomeadamente a compra em conjunto por editores portugueses e brasileiros dos direitos de obra.

"Combinámos que nós fazíamos a tradução e eles a revisão e numa outra obra trocávamos, mas tivemos de desistir pois ficava mais caro e era mais complicado rever a partir da tradução do que directamente da língua original", disse a responsável pela Alêtheia.

Os editores que intervieram no debate foram todos contra a ratificação do Acordo.

NL.
Lusa/Fim

6 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Não tenho ideia de um qualquer acordo ortográfico entre o Reino Unido e os U.S.A. Alguém tem?

Unknown disse...

.

Como já tenho expressado noutras ocasiões, enquanto 'escrevinhador' NÃO faço tenção de 'cumprir' o Acordo.
Vou continuar a escrever como aprendi:

Homem com H e não Omem;
e
Hoje com H e não Oje.

Tenho dito !!

.

Isabel Magalhães disse...

E disseste muito bem. Pela minha parte vou fazer o mesmo.

Recuso-me escrever 'É fato que o sr sousa foi de fato com um fato cinzento'.

Também quero poder distinguir o jogo da cabra cega da cabra cega. (cabra que não vê...)

pese embora o facto de termos muitas outras palavras homónimas, homófonas, homógrafas, parónimas e fazermos automaticamente a diferença.

Anónimo disse...

Ò Senhores intelectuais do Governo!
Eu sei muito pouco, mas aprendi que a língua portuguesa era principalmente oriunda da latina. Por isso devia "escrever-se assim"
Claro que evoluindo continuamente ia absorvendo outras palavras de outras origens, ia-se adoçando mas a base teria de se manter. Agora afinal pode alterar-se como a gente acha?
Clotilde

Anónimo disse...

Senhora Isabel Magalhães, "facto" vai continuar a escrever-se da mesma forma, isto porque não se trata de um "c" mudo. Leia o novo acordo, informe-se melhor antes de opinar. Eu, como professor nesta área, acho que este acordo já devia ter entrado em vigor há 10 anos. Se queremos continuar a ser a 3ªlíngua ocidental mais falada no mundo, temos que nos ajustar em termos linguísticos. O espanhol, fala-se de um modo diferente em todo o mundo mas escreve-se da mesma forma e é isso que tem que acontecer na nossa língua. O acordo só vai fazer com que coisas que já não deveriam existir, desapareçam de vez. Já houve 4 acordos ao todo, Sabe como se escrevia "Lírios" antes do primeiro acordo? Era "Lyrios". Se acha que vai continuar a escrever da mesma forma como se escrevia até aqui, ninguém a impede. A minha avó também escreve Pharmácia em vez de Farmácia. É assim, os velhos do restelo sê-lo-ão até morrer.

Anónimo disse...

Todos os anos entram vocábulos novos na nossa língua. (telemóvel, por exemplo entrou para o dicionário há pouco tempo). A língua está em constante mudança. É normal minha gente. Qualquer evolução que haja não vai implicar que deixemos de ter uma língua oriunda do latim (risota). É que não tem nada a ver com isso!!!!! Deixem estas coisas para quem percebe e não mandem "bitaques" sem sentido.