segunda-feira, 22 de junho de 2009

Tiro ao boneco

.
Opinião

22 Junho 2009 - 09h00
Estado do Sítio

Tiro ao boneco

O presidente do Conselho vai, um a um, sacrificar em público os ministros que andaram quatro anos a dar o corpo ao manifesto.



Vai animado o debate sobre a nova imagem do senhor presidente do Conselho. As opiniões dividem-se, uns garantem que o animal feroz continua vivo e de boa saúde, outros antecipam a sua rápida transformação num simpático miau-miau que os amantes de gatos e gatinhos adorariam ter em casa, deitado no sofá, pachorrento, fiel e sempre à espera dos mimos do dono. É evidente que o senhor presidente do Conselho garante que tudo isso não passa de uma enorme campanha negra, mais uma, e que presidente do Conselho só há um, ele e mais nenhum. Até pode ter razão.
Depois da enorme banhada eleitoral, em que o PS conseguiu a notável proeza de não atingir o milhão de votos, é muito natural que o senhor presidente do Conselho esteja a sentir-se muito mal, como se tivesse sido atropelado por um TIR cheio de pregados congelados numa das muitas estradas e auto-estradas sem trânsito que são o orgulho da gestão socialista. É natural por isso que o estilo humilde, a voz de veludo e a conversa sonsa da sua última entrevista na SIC não tenham acontecido por sugestão de um qualquer consultor de imagem, mas sim consequência de uns tantos comprimidos para o relaxe recomendados pelo farmacêutico da esquina. O que o senhor presidente do Conselho anda a fazer é muito pior do que uma manhosa mudança de imagem. Anda, pura e simplesmente, a atirar aos bichos os ministros que protagonizaram as reformas mais polémicas e mais custosas em matéria de popularidade e de votos.
A cena começou com a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, estendeu-se às grandes obras públicas do regime, na pessoa do impagável ministro Mário Lino, e ameaça estender-se ao odiado ministro Jaime Silva, da Agricultura. Com uma máquina calculadora na mão, o ainda presidente do Conselho deste sítio cada vez mais mal frequentado ataca sem qualquer pudor as reformas que defendeu ferozmente no passado. Quando veio a público afirmar que a contestada avaliação dos professores era, afinal, tão exigente, tão complexa e tão burocrática, está tudo dito sobre a falta de vergonha de um senhor que não olha a meios para atingir os fins. A partir de agora, o senhor presidente do Conselho vai fazer tudo para salvar a sua pele. E vai, um a um, sacrificar em público os ministros que andaram quatro anos a dar o corpo ao manifesto pelas suas políticas, pelas suas reformas, pela sua arrogância, pela sua propaganda e pelas suas mentiras eleitorais.

António Ribeiro Ferreira, Jornalista

2 comentários:

meninaidalina disse...

Ora tá claro! Os ministros do sr. Sousa vão ser os seus " bodes respiratórios" tudo a bem da sua eleição .

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Confesso humildemente que, sendo certo que a mudança de casaqueta do "primus inter pares" (sim, porque gente dquela só aos pares...) me causou alguma desestabilização emocional, não menos certo é que a mudança de casaqueta de muitos jornalistas e "opinionistas" que, até 7 do corrente, apenas incensavam as virtudes do homem e, a partir daí, cheios de coragem e pundonor, desataram a zurzir-lhe no casco, me estarrece, me entontece, me esmaga!

Quando era difícil critricá-lo, isso, sim, gostaria de ter visto tanto arreganho. Infelizmente, não consegui tal. Não fossem os blogues e o homem continuaria a ser um santo. De pau carunchoso, é evidente, mas santo. Continuaria a ser ele a dar os bons dias lá na rua! E ai de quem não lhe respondesse com todo o respeito e salamaleques.

Agora, tem de andar pela calada da noite, cosido com as paredes, qual gato pardo, passando despercebido aos vingadores do povo ultrajado. Patifes!

É vê-los que se atropelam tentando cada um ser mais vigoroso (e até cretinamente insultuoso) do que o que o antecedeu.

Que miséria!

Está a Comunicação Social nas mãos de gentalha desta!

Repito: valeram-nos os blogues, que zelaram pela nossa integridade moral colectiva. Não fossem eles e o homem levava isto tudo de escantilhão com a maior das facilidades.

Desculpe o desabafo, mas há coisas que não consigo calar. Eu tento, mas é superior às minhas forças.

Abraço

Ruben